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Observatório Pastoral

 

O Papa Francisco completa a 13 de março o seu oitavo ano de papado. Hoje gostaria de trocar convosco algumas impressões sobre o seu papado e principalmente sobre a sua visão da educação cristã.

Estes oito anos de papado foram vividos por Francisco, como disse o Cardeal Filipino – Luís António Tagle, como uma parábola sobre a proximidade e compaixão de Deus. O Papa Francisco afirmou que “nós mudamos, a Igreja muda, a história muda, quando começamos a querer mudar – não os outros, mas a nós mesmos, fazendo da nossa vida um dom”. Nestes oito anos, o grande sonho e desejo de Francisco é mudar a Igreja. O Papa Francisco trouxe para a Igreja uma visão revigorante, interessante e atraente, que não tem medo de se questionar pelo Evangelho e pelos desafios do tempo presente, com discernimento e coragem, em vez de deixar-se seduzir pela inércia confortável de deixar tudo como está.

O Papa Francisco tem, ao longo destes oito anos, alertado para a tentação da inércia e do conformismo, que, por vezes, se instala na Igreja, como o disse na Exortação Apostólica, “Evangelii Gaudium”, considerada o “programa” do seu pontificado. Mais recentemente, e fazendo ecoar as palavras numa praça de S. Pedro, vazia por causa do confinamento, mas repleta pela gente que no mundo escutou a sua mensagem de bênção a 27 de março de 2020, o Papa Francisco disse que a pandemia desmascarou a nossa vulnerabilidade e deixou «a descoberto aquelas falsas e supérfluas seguranças com que construímos as nossas agendas pastorais, os nossos projetos, os nossos hábitos e as nossas prioridades. A pandemia disse Francisco “demonstra-nos como deixámos adormecido e abandonado aquilo que alimenta, sustém e dá força à nossa vida e à nossa comunidade”.

O Papa Francisco, nos vários documentos que escreveu, tem realçado uma visão pastoral da Igreja, quando fala de uma “Igreja em Saída”. Uma igreja decididamente missionária, capaz de sair da autorreferencialidade para chegar a todos, indistintamente, a fim de testemunhar no mundo o amor salvífico do Senhor. Trata-se de uma Igreja que toma a iniciativa, sem medo de ir ao encontro dos afastados, de chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos (cf. EG 24). Faz um convite especial à passagem de uma Igreja autorreferencial, centrada em si mesma, a uma Igreja aberta à alteridade, porque “quem deseja viver com dignidade e em plenitude não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem” (EG 9). Isso significa dizer que “a Igreja não é um ‘para si’, mas um ‘para os outros’. Francisco diz que prefere “uma Igreja acidentada, ferida, enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos” (EG 49). Francisco não se cansa de afirmar a centralidade do Evangelho como força motriz da Igreja.

No que diz respeito à Educação Cristã o Papa Francisco tem lançado muitos desafios e possui uma visão muito clara que é consequente com o sonho/projeto que tem para a Igreja e para a Sociedade. Francisco destaca a importância de educar a pessoa na sua integralidade e a necessidade de prepará-la para viver em sociedade, pensando no bem comum. Os seus gestos e palavras são coerentes e expressam posicionamentos claros acerca da necessidade de promover, um pacto educativo entre família, escola, sociedade e Igreja que vise uma transformação evangélica da sociedade.

A partir de sua própria experiência como filho, estudante e educador, o Papa não se cansa de destacar a importância dos pais, catequistas e professores manterem a mesma linguagem e estarem em sintonia para promover e cultivar valores que tocam diretamente a fraternidade universal. No seu entender, ninguém vive sozinho, por isso os espaços de encontro e convivência são importantes para desenvolver as virtudes necessárias para ser um bom cidadão e um bom cristão. O Papa insiste na necessidade da educação cristã criar uma cultura do encontro para a superação da “indiferença relativista” que afasta a pessoa do ideal de humanidade. A cultura do encontro afirma a necessidade de pensar no outro, “como rosto”, reconhecendo a sua dignidade, as suas necessidades e anseios.

Francisco acredita na transformação das mentalidades para garantir o bem-estar de cada pessoa e entende que a educação precisa de estar direcionada para esta meta. Tem em mente a realidade concreta, o mundo globalizado influenciado pelo “paradigma tecnocrático”, as injustiças sociais e a degradação do meio ambiente, fruto da crise ética, que é também um sinal da crise educativa. O Papa Francisco não se cansa de falar na importância da educação integral, para o diálogo, para o convívio harmonioso com o diferente, que contemple todas as dimensões da pessoa, cabeça, mãos e coração. Enfim, uma educação que seja verdadeiramente humanizadora e solidária. Humanizar a educação significa colocar a pessoa no centro da educação, num quadro de relações que compõem uma comunidade viva, interdependente, vinculada a um destino comum.

É desta maneira que a educação deve estar ao serviço de um humanismo solidário. Promover a solidariedade, especialmente com os mais fracos, dialogar para construir um mundo melhor e irradiar a esperança da certeza da salvação em Cristo, sair de si, das seguranças das instituições e estruturas, para pensar a humanidade. É este o caminho proposto para humanizar a educação e, consequentemente, a sociedade. A importância dada por Francisco à educação aponta para o projeto de humanidade do Evangelho. Uma educação fiel aos valores do Evangelho e ao mesmo tempo capaz de conviver com diferentes opiniões, culturas e valores, tendo em vista o valor maior que é a vida humana e a centralidade da pessoa.

 

Abel Dias – Diretor do SDEC
CategoryDiocese, Pastoral

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