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Festa da Divina Misericórdia

 

Termina o dia da Páscoa, o primeiro Dia da semana, que se estendeu ao longo desta oitava da Ressurreição de Cristo. Por isso, o domingo é para os cristãos, o Dia do Senhor Ressuscitado, que venceu o pecado, a morte e é rico de misericórdia para com todos.

 

“Felizes aqueles que acreditam sem terem visto” (Jo 20,29).

Estas palavras pronunciadas por Jesus diante da falta de fé de Tomé, perante a sua incredulidade em acreditar nos seus companheiros, que lhe disseram: “Vimos o Senhor”. Mas Ele respondeu-lhe: “Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos a mão no seu lado, não acreditarei” (Jo 20,25).

Oito dias depois Jesus apareceu-lhe de novo e Tomé estava com eles, estavam com as portas fechadas com medo. Apareceu-lhes de novo e apresentou-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”. Depois disse a Tomé: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado: e não sejas incrédulo, mas crente.” Tomé respondeu-lhe: “Meu Senhor e Meu Deus!” Disse-lhe Jesus: “porque me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto” (Jo 20, 27-28). Acreditemos nós em Jesus o Ressuscitado para que tenhamos a vida em seu nome.

Na verdade, devemos deixar as nossas dúvidas e incredulidades, todos devemos imitar São Tomé: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28). Cristo Ressuscitou verdadeiramente! Aleluia!  Senhor, eu creio, mas aumenta a minha fé.

O relato dos Atos dos Apóstolos na primeira leitura apresenta-nos o estilo de vida dos cristãos: “A multidão dos que haviam abraçado a fé tinham um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum” (At 4, 32).

Também nós queremos viver o estilo de vida da comunidade primitiva de Jerusalém como testemunhas, para anunciar até aos confins da terra que Jesus está vivo e ressuscitou.

“Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus” (cf.1 Jo 5,1-6). Todo aquele que ama e cumpre os mandamentos nasce de Deus, vence o mundo. Nascer de Deus pela água e pelo sangue e pelo Espírito Santo significa acolher e receber a vida nova que nos santifica. “É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade”.

Eis o Dia que fez o Senhor, nele exultemos e nos alegremos! Aleluia! Dai graças ao Senhor porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia! Aleluia! Diga a Casa de Israel, digamos nós, é eterna a sua misericórdia! Cristo Ressuscitado é o nosso Cordeiro Pascal, que foi imolado, entregou-se pelos nossos pecados, ofereceu-nos o seu amor, a sua misericórdia e o seu perdão.

O Catecismo da Igreja Católica ensina que: “Pelos sacramentos da iniciação cristã, o homem recebe a vida nova de Cristo. Ora, esta vida, nós trazemo-la “em vasos de barro” (2Cor 4,7). Por enquanto, ela está ainda “oculta com Cristo em Deus” (Col 3,3). Vivemos ainda “na nossa morada terrena” (2Cor 5,1), sujeita aos sofrimentos, à doença e à morte. A vida nova de filhos de Deus pode ser enfraquecida e até perdida pelo pecado” (CIC 1420).

É nesta experiência de vida afastada de Deus pelo pecado que somos chamados a procurar, a encontrar, a pedir e a buscar a misericórdia infinita de Deus. Este domingo, na Igreja primitiva, era o dia em que os batizados na noite santa da vigília pascal se apresentavam à comunidade vestidos com as suas túnicas brancas. Também nós hoje envolvidos na misericórdia de Deus, somos chamados a tomar consciência da vida nova e da graça que recebemos no dia do nosso batismo, porque aí sepultados com Cristo no pecado e na morte ressuscitamos com Ele para a vida nova da graça.

“O Senhor Jesus Cristo, médico das nossas almas e dos nossos corpos, que perdoou os pecados ao paralítico e lhe restituiu a saúde do corpo, quis que a Igreja continuasse com a força do Espírito Santo, a sua obra de cura e de salvação, mesmo junto dos seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois sacramentos de cura: o sacramento da Penitência e o da Unção dos doentes” (CIC 1421). Nestes sacramentos encontramos na Igreja a expressão mais visível e maior da misericórdia divina, que depois se concretiza na vida espiritual com a prática das obras de misericórdia.

No Evangelho escutámos a palavra de Jesus que com a saudação da paz, transmite aos apóstolos o poder de perdoar os pecados, isto é, de serem “ministros da reconciliação”, instrumentos da misericórdia divina. É lhes dado o “poder das chaves”, ligado ao dom do Crucificado-Ressuscitado, que no encontro de Jesus com Tomé dá sentido e fundamento à nossa fé. Todos precisamos de curar a nossa incredulidade, de tirar as nossas dúvidas, de tocar o Senhor, de meter a mão no seu lado aberto do qual jorrou sangue e água, de sentir a graça e a força curadora das suas chagas. As feridas de Jesus curam todas as nossas enfermidades, principalmente as espirituais, as da alma, as de um coração ferido e magoado.

A sua misericórdia infinita curou-nos e salvou-nos dos nossos pecados.

Portanto, todos “aqueles que se aproximam do Sacramento da Penitência obtém da misericórdia de Deus o perdão da ofensa a Ele feita e, ao mesmo tempo, reconciliam-se com a Igreja, que tinham ferido com o seu pecado, a qual pela, pela caridade, exemplo e oração, trabalha pela sua conversão” (LG 11); (CIC 1422).

“O Reino de Deus está próximo, arrependei-vos e acreditai na Boa-Nova” (Mc 1,15). Esta é a condição para entrar pela porta da fé, o batismo é o momento principal da primeira e fundamental conversão. Daqui, decorre que a preparação para receber o Sacramento do Batismo é tão importante que merece de todos cuidado e uma atenção especial.

Recordando todos os batizados, o povo santo, que nasceu da Páscoa, Santo Ambrósio lembrava que a reconciliação passa por: “duas conversões que, na Igreja ‘existem, a água e as lágrimas. A água do Batismo e as lágrimas da Penitência” (cf. Ep. 41,12). Nós somos sempre pessoas necessitadas da Misericórdia Divina.

O Catecismo da Igreja Católica afirma que: “o coração do homem é pesado e duro. É necessário que Deus dê ao homem um coração novo” (CIC 1432). O coração humano muitas vezes precisa de amolecer pela bondade e doçura de Deus para se tornar próximo, compassivo, misericordioso e justo.

A conversão é antes de mais obra da graça de Deus, por ela entramos no coração do Pai, “Rico em Misericórdia”, sempre disposto a perdoar (São João Paulo II, 1980). São Lucas apresenta-nos as parábolas da misericórdia de Deus que nos devemos ler, meditar e pôr em prática.

O apóstolo exorta-nos ao encontro festivo com o Pai misericordioso e compassivo. “Reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20). Na fórmula da absolvição, “o Pai das misericórdias é a fonte de todo o perdão” (CIC 1449). “Deus Pai de misericórdia, pela morte e ressurreição de Seu Filho, reconciliou o mundo consigo e infundiu o Espírito Santo para remissão dos pecados, te conceda pelo ministério da igreja o perdão e a paz. Eu te absolvo dos teus pecados…” (Formula da Absolvição).

Jesus pediu-nos: “Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso”. Vivei em misericórdia, compaixão, ternura e anunciai ao mundo que Deus ama os pecadores. “Eu não vim para os que têm saúde, mas sim para os doentes e os pecadores”.

A misericórdia de Deus é infinitamente maior do que qualquer pecado. Deus ama muito o pecador, embora rejeite e sofra com o seu pecado. Nossa Senhora, em Fátima, pediu aos pastorinhos muita oração e sacrifício pelos pecadores. Misericórdia significa abrir o coração ao infeliz, ao pobre e ao pecador.

Celebrai com alegria a festa da Divina Misericórdia e pedi a Deus perdão dos vossos pecados e o dom da perseverança. A festa da Divina Misericórdia foi pedida por Jesus, numa revelação particular a Santa Faustina, que lhe mostrou os raios de luz que brotavam do Seu Coração e simbolizam o Batismo e a Eucaristia. São João Paulo II na Canonização de Santa Faustina, apóstola da Divina Misericórdia institui esta festa no ano 2000, para a Igreja universal, no domingo da oitava da Páscoa.

O Papa Francisco na segunda missa, que celebrou publicamente no Vaticano na Igreja de Santa Ana em março de 2013, depois da sua eleição dizia: “A mensagem de Jesus é a misericórdia. Para mim, digo-o humildemente, é a mensagem mais importante do Senhor”.

Daí o cuidado, a preocupação, que todos devemos ter em estudar, meditar e rezar as parábolas de Jesus sobre a misericórdia e a mensagem revelada a Santa Faustina. Amai, perdoai e não condeneis, porque o Pai é misericordioso. Para entendermos bem a mensagem da Divina Misericórdia precisamos de conhecer as revelações de Jesus a Santa Faustina, a vida do Santo Padre Pio e de São João Paulo II.

A mensagem da Divina Misericórdia e a sua espiritualidade todos a conhecemos é importantíssima no momento atual da vida da Igreja e do mundo.

Lembremos Santa Faustina, Santa Margarida Maria, Santa Teresa de Ávila, Santa Beatriz da Silva, São Daniel Comboni, São João Paulo II, Santo Padre Pio, o ensinamento do Papa emérito Bento XVI e o Magistério do Papa Francisco e a riqueza das suas expressões: ”Miserando, misericordiando, dando-lhe misericórdia”. Recordemos o ano da Misericórdia celebrado em 2015, respondendo ao convite de Jesus: “Sede misericordiosos, como o Pai celeste é misericordioso”. Coração e miséria são duas realidades que se envolvem até às entranhas. Deus ama-nos deste modo insondável com graça e misericórdia.

Em cada dia imploremos a proteção de Maria, Mãe de Misericórdia, e saibamos dizer: “Jesus, eu confio em vós”.

Que a misericórdia Divina desça sempre sobre nós e nos santifique.

Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor! Ámen!

 

Festa da Divina Misericórdia, Viseu, 11 de abril de 2021

† António Luciano, Bispo de Viseu
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