“Eu sou o bom Pastor e dou a vida pelas minhas ovelhas”.
Foram muitos os modos como Cristo Ressuscitado se manifestou aos seus discípulos. No amor, na paz, na explicação das Escrituras, na alegria do encontro, no partir do Pão, nas dúvidas e renovação da fé de Tomé, na pesca milagrosa, na refeição preparada junto ao lago, comendo e conversando com os apóstolos, na cura dos doentes. Jesus Cristo, o ressuscitado apresenta-se como o bom Pastor, a “pedra angular” rejeitada pelos construtores.
O bom Pastor cuida sempre do rebanho com ternura, alimenta-as com manjares suculentos, ensina-lhes a fazer o bem maior e presta atenção pastoral às que estão feridas, cansadas, abatidas, magoadas e doentes. Só Ele ama com carinho, com amor de predileção, dá a vida pelas suas ovelhas e vai à procura da que anda perdida, para que todos “tenham vida em abundância”.
A figura do pastor é uma personagem única ao longo de toda a caminhada bíblica. Se o pastor tem o epíteto de bom é porque o sabe ser de verdade. Junto das suas ovelhas cuida do rebanho, caminha com ele, preocupa-se com ele, faz tudo por cuidar bem das suas ovelhas principalmente nos momentos de maior dificuldade e nas horas em que o lobo está atento para atacar o rebanho.
Só o bom Pastor e não o mercenário sabe cuidar das pessoas débeis, cansadas, doentes e dá sempre a vida por elas. O mercenário ao contrário arrebata-as, afasta as ovelhas de si e quando vê o inimigo a aproximar-se do rebanho, abandona-o e foge. A solicitude do bom Pastor é única na prática do bem e contagia aqueles que se aproximam dele. Chama-os pelo nome, porque os conhece e estimula-os na caminhada da fé e da esperança pascal como fez com os discípulos de Emaús.
A imagem do bom Pastor foi escolhida para ser paradigma e exemplo para todos aqueles que dedicam a sua vida a cuidar dos outros. É neste ícone de Jesus de Nazaré, que “passou a sua vida a fazer o bem”, que o ministério ordenado, Bispo, sacerdote, diácono e consagrados encontram a raiz da sua vocação, consagração e missão para anunciar a boa nova de Jesus.
Em Cristo bom Pastor sentimos a alegria de ser filhos de Deus, por dom da graça divina. Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em chamar seus filhos. O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pela palavra salvadora de Jesus Cristo e pela graça do Espírito Santo, que nos faz sentir que somos filhos, no Filho morto e ressuscitado.
Jesus Cristo é o Pastor verdadeiro e n`Ele todos os pastores, os pais, os governantes, os que estão constituídos em liderança na Igreja e no mundo devem ter a sua referência. A vocação e missão ao serviço dos outros é única, ímpar e irrepetível. É preciso saber descobrir e discernir o verdadeiro sentido espiritual da vocação e o segredo desta forma de viver e de estar no mundo para servir os outros. O bom Pastor distingue-se sempre do mercenário, pois a este só lhe interessa o proveito material do cuidado das ovelhas. O bom Pastor cultiva a proximidade, o cuidado, o espírito de serviço, a disponibilidade, a transparência e a gratuidade.
No tempo pascal contemplamos a figura de Jesus o bom Pastor e devemos perguntar-nos o que nos falta para nos identificarmos com Ele na relação com os irmãos. Aprender a cuidar do rebanho ao jeito do bom Pastor, servir os irmãos e ser dócil aos seus ensinamentos, eis a missão de quem se sente chamado.
Estamos a celebrar o Domingo do encerramento da Semana de oração pelas Vocações de Consagração, lembramos todos os que fomos chamados a seguir, a imitar a figura de Cristo, o Salvador do mundo, o Ressuscitado, o bom Pastor que nos conduz às fontes da salvação.
Jesus constitui os doze para andarem com Ele e enviou-os ao mundo a pregar a alegria do Evangelho. Foram chamados para andarem com Ele, fazendo a experiência do discipulado. “Os Apóstolos devem ver o que Jesus faz, viver com Ele, para, depois, levá-l`O e reproduzi-l`O: devem reproduzir a Sua presença. A sua vida e a sua pregação devem ser um contínuo falar d`Ele: um sinal, humanamente evidente, da Sua presença. (…). O próprio Jesus é agora a fonte da missão e da vocação. A vocação no Antigo Testamento era uma relação direta entre Deus e o homem: agora, essa relação é mediada por Jesus” (Carlo M. Martini, Bíblia e Vocação, p.106-107).
A presença do bom Pastor mostra a “compaixão pastoral de Jesus” no chamamento dos Apóstolos e na atenção para com os mais necessitados. “Contemplando a multidão, encheu-se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor. Disse, então, aos seus discípulos: A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua Messe” (Mt 9,35-38).
Para São Mateus, como para São Marcos, o mundo é como um grande hospital, uma grande necessidade, uma grande espera: em tudo isto se insere o chamamento e a missão dos Doze. A “Vocação é conhecer Jesus, reproduzir as Suas ações, imitá -l`O nas obras. É isto que os presbíteros, na Igreja, desde sempre, se esforçam por realizar” (Carlo M. Martini, Bíblia e Vocação p. 11). A vocação é um facto muito pessoal, uma experiência unificadora da nossa existência, sobretudo quando amadurece gradualmente através de várias experiências, ela torna-se algo de integrante do nosso ser cristão.
A vocação entra no mistério do inacessível. As vocações são todas diversas, cada pessoa é um caso, uma história, um acontecimento, a vocação insere-se sempre numa comunidade de chamados.
A vocação é uma expressão da Palavra de Deus, um dom e um mistério. Está no curso da história pessoal e torna-se para alguns um chamamento do próprio Cristo, um enamoramento pessoal pelo projeto do seu Reino.
Quando falamos de vocação, vem-nos à mente o cuidado pastoral do bom Pastor, que nunca se esgota na contemplação do ícone de Jesus com o cordeiro ao colo, aos ombros, num serviço atento para cuidar com solicitude das suas ovelhas. A relação do pastor com as suas ovelhas é sempre única e irrepetível, uma experiência de amor, de caridade, de diálogo, de proximidade, de compaixão, de empatia e de cura.
É uma relação de fraternidade e solidariedade evangélica para os mais pobres, os frágeis e os doentes. Jesus olhou para a multidão porque andava abatida e era como um rebanho sem pastor e teve compaixão deles. Deixemos que a solicitude do bom Pastor e a sua entrega pelo seu rebanho seja uma luz interior a conduzir “o sonho de Deus” na nossa vida, que é o sonho da fidelidade ao Senhor da nossa própria vocação.
A Igreja confiou-nos esta missão e ela precisa de pastores santos e bons para cuidar do povo de Deus. A missão da Igreja consiste em olhar para as necessidades das pessoas, a confrontar-se com a falta de vocações, do testemunho das família, da indiferença de muitos cristãos, de uma crise profunda de valores que afeta a sociedade atual. O Senhor não pode deixar de suscitar o chamamento ao ministério ordenado, aos ministérios laicais e ao serviço da vocação consagrada.
A fonte de toda a vocação é Deus e o paradigma de toda a ação pastoral é Jesus Cristo, a cuidar das pessoas e da Igreja, tornando-se a imagem viva do bom Pastor. Sonhar com a corresponsabilidade e sinodalidade pastoral, com os desafios da evangelização e da missão hoje, é acolher a proposta do bom Pastor que nos dá razões válidas para viver e sonhar, o “sonho de Deus”, no discernimento da própria vocação.
Rezemos pelas famílias e em família, para que por intercessão de Maria de Nazaré, nossa Mãe e de São José, Deus conceda à sua Igreja muitas e santas vocações e dê perseverança a todos os que foram chamados.
Como nos pede o Papa Francisco façamos da nossa vida e das nossas comunidades no próximo mês de maio uma grande jornada para pedir a Deus o dom de novas vocações e o fim desta terrível pandemia.
Não tenhamos medo de voltar à Igreja e de fazer da oração do terço no próximo mês de maio uma oração predileta em honra de Nossa Senhora. Quem reza e ama a Mãe do Céu, ama a Deus e no ambiente da escola de Nazaré reza: Jesus, Maria e José iluminai-nos, socorrei-nos e salvai-nos.
“Senhor Jesus, por quem José abraçou sonhos maiores que os medos,
peço-te uma capacidade de sonhar como a de José e de Maria.
Ensina-me a sonhar livremente, confiadamente, confiado apenas nos sonhos do Pai.
Vence em mim inseguranças e bloqueios
que me impeçam de abraçar os sonhos que nascem do coração de Deus.
Concede à Tua Igreja corações disponíveis para viver um sonho que é maior que nós.
Ensina-me, Senhor Jesus, a fazer meus os sonhos que são Teus.
São José, homem capaz de sonhar a vocação, rogai por nós”.