O Espírito Santo é o Senhor que dá a vida em abundância. Só com o Espírito do Ressuscitado aprenderemos a cuidar bem da vida e a dar testemunho com alegria.
A Igreja em Portugal está convidada a celebrar a Semana da Vida de 9 a 16 de maio de 2021 com o tema: “A vida que nos toca, a vida que sempre cuidamos”. É um convite a aprender a cuidar da vida humana em tempo de pandemia com amor, resiliência, carinho, proximidade, humildade, simplicidade e sinceridade do coração.
O convite a “cuidar” dos outros perante o impacto nevrálgico da pandemia no nosso país e no mundo é algo de marcado por um misto de desilusão e fracasso, mas também de esperança e realismo. Ao slogan “tudo vai ficar bem”, nós cristãos temos de encontrar uma grande dose de fé, porque voltar “à nova normalidade” exige uma dose de otimismo, de generosidade, mas também de compromisso com a pessoa humana fragilizada e a sociedade esfacelada à espera de ser reconstruída na comunhão, na unidade e na solidariedade.
O verdadeiro humanismo e uma fé compromisso têm nesta tarefa um papel importante. No contexto da pandemia que temos vivido, a nossa vida foi marcada por tantas privações, provações, dificuldades que veio mostrar-nos de forma muito clara a nossa fragilidade, mas também por outro lado conduzir-nos a saborear a vida como um bem precioso, como nos apela o Departamento Nacional da Pastoral Familiar (cf. CELF).
Ao longo deste período de pandemia foi nos possível redescobrir o valor e o sentido da família, a importância e a necessidade das relações humanas entre amigos, crianças e jovens que se viram privados da convivência, do voltar à escola e à catequese, que é hoje um desafio humano e espiritual livre e responsável com um peso muito grande nas decisões.
O lugar dos idosos na família e na sociedade atual, principalmente através da institucionalização dos mesmos é um problema muito importante do momento atual, apesar de a vacinação estar a correr em bom ritmo na sociedade portuguesa. Neste contexto é preciso também não ter medo de voltar à Igreja com confiança e esperança.
É preciso retomar a evangelização, a catequese, a eucaristia, os momentos festivos celebrativos da fé, os sacramentos, ainda apesar das restrições impostas, importa voltar ao caminho da “nova normalidade”, que como dizem os nossos Bispos no documento “A Igreja pós pandemia”, deve ser assumida por todos na vida da pastoral a começar por uma grande análise, reflexão, avaliação e desafio do trabalho que deve começar a ser feito a nível pastoral nas paróquias, arciprestados e serviços diocesanos. É preciso uma verdadeira mudança e renovação eclesial a partir do coração, das paróquias, dos arciprestados e dos serviços diocesanos, sempre em espírito de corresponsabilidade, sinodalidade e serviço de proximidade com as pessoas de modo especial os pobres, os vulneráveis, os doentes e aqueles que se afastaram da igreja.
Temos desafios novos diante de todos: amar a Deus, servir e cuidar dos irmãos, das famílias, dos jovens, das vocações. Permanecer em Deus, estar unido a Jesus Cristo, verdadeiramente conectados à vivência e testemunho da “Alegria do Evangelho”, numa Igreja chamada constantemente pelo Papa Francisco à conversão e renovação pastoral. É urgente voltar a uma Igreja laical, de serviços e ministérios, para ser uma comunidade verdadeiramente vocacional.
O pastoreio da Igreja e a importância das lideranças num tempo em que sofremos de uma crise de identidade cristã, mesmo por parte daqueles que se consideram iluminados, junta-se a crise de obediência perante a autoridade que descredibiliza o verdadeiro sentido do servir e do governar. O próprio Jesus nos alertava para estas dificuldades, por isso para Ele “servir é reinar”. Estes tempos novos exigem dos pastores e das lideranças o cultivo da humildade, da verdade, da coerência, da transparência, da autenticidade, da disponibilidade, do acolhimento, da alegria e de uma entrega incondicional à Igreja. O serviço de comunhão, unidade, sinodalidade e corresponsabilidade com os colaboradores leva a passar de uma pastoral de manutenção para uma pastoral missionária. É preciso buscar respostas novas e acertadas para ajudar as pessoas e as comunidades a fazer a renovação tão necessária que esta pandemia exige de nós. Colocando no centro do ser e do fazer o critério da exigência e das prioridades pastorais.
É tempo de por em prática a ”alegria e a esperança”, do Evangelho no meio do mundo, como refere o Vaticano II na “Gaudium et Spes”, novidade e dom do Espírito que renova e cuida de tudo o que nos pede a Palavra de Deus e nos oferece o Magistério da Igreja em alguns documentos como a “Familiaris Consortio”, o “Evangelium Vitae”, a “Alegria do Evangelho”, a ”Amoris Laetitia”, a “Christus Vivit” e a “Fratelli Tutti”.
“Em tempo de pandemia percebe-se que é real o apelo a passar de uma atitude de “espera” à atitude de “saída”. Não basta a atitude cómoda de ficar à espera que as pessoas venham até nós. Passar de uma pastoral de manutenção a uma pastoral missionária é uma conversão que vai durar tempo. Não pode haver pressa, mas é necessário planear, definir objetivos e percursos para lá chegar.” (Desafios pastorais da pandemia à igreja em Portugal, CEP, no 47).
É preciso cuidar da educação da fé nas famílias, nos filhos, nas novas gerações de adolescentes e de jovens, “pois a alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja” (AL 1). O Matrimónio e a família recebem de Cristo, através da Igreja, a graça para testemunhar o Evangelho do amor de Deus, contribuindo para a formação dos adultos, o aumento das vocações na igreja e o contributo para renovar a sociedade.
Vivamos com entusiasmo e empenho pastoral a “Semana da Vida” e o Dia Diocesano da Família. Coloquemos todos o maior empenho na renovação da Pastoral Familiar na nossa Diocese. Entreguemos a Jesus, Maria e José o cuidado do dom da vida e a santificação de todas as famílias do mundo.