O Senhor Jesus antes de subir aos céus deu aos seus discípulos o mandato de ir por todo o mundo e anunciar o Evangelho e batizar os que acreditarem em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Pelo dom do Batismo, tornámo-nos filhos de Deus e membros da Igreja. Por isso, a Igreja diocesana de Viseu celebra hoje o seu dia.
À luz da Palavra de Deus, que hoje escutámos podemos fazer algumas perguntas. O que é a Igreja?
“A Igreja em Cristo é como que o sacramento ou sinal, o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano” (LG 1). Sinal universal de salvação, a Igreja é o Povo de Deus, Corpo de Cristo, Templo do Espírito Santo, todos membros de um povo chamado por Deus com dons e carismas próprios. “Batizado! Alimenta-te na Esperança.” A Igreja nasceu do dom total de Cristo, para a salvação dos homens. A Igreja “é o Reino de Deus” já presente em mistério” (LG 3).
Uma Igreja em caminho de renovação espiritual, com serviços disponíveis para a missão, na comunhão e na unidade em que todos devemos ser os sinais visíveis desta Igreja Diocesana, que é mãe, mestra e educadora, geradora de vida nova, de vocações, de ministérios e de serviços enquanto Igreja reunida, assembleia que é um povo convocado. É aqui na Catedral, que se torna visível a Igreja una, santa, católica e apostólica, formada por todos os fiéis, os pastores e os leigos. Precisamos de uma Igreja sacerdotal com pastores e leigos principalmente empenhada na família, verdadeira “Igreja doméstica” a participar nos diversos ministérios eclesiais.
Numa Diocese sem ordenações sacerdotais desde 2017, tem que ser uma Igreja cada vez mais ministerial com a participação dos leigos, especialmente as famílias.
O porquê de um dia para celebrar a vida da Igreja Diocesana?
Este dia começou a ser celebrado no contexto da programação do Plano Pastoral Diocesano, coincidindo com as ordenações sacerdotais, como não temos tido ordenações nestes anos, temos ajustado o dia a uma data mais conveniente a nível pastoral. É um dia de festa, de comunhão, de unidade, de participação e de apelo a ser uma verdadeira experiência eclesial na corresponsabilidade. A Igreja tem de servir, tem de ir ao encontro, tem de ser uma Igreja em “saída”, em caminho sinodal a celebrar um dia de ação de graças e de compromisso com o futuro pastoral, para ser uma Igreja mais digna, dinâmica e renovada.
Que Igreja somos e que Igreja queremos ser e construir? Uma Igreja viva em construção, com pedras vivas do Templo do Senhor. Uma Igreja capaz de cuidar os mais pobres e os que dela precisam. Precisamos da fé, da esperança, do amor, da oração, do serviço para cuidar dos mais pobres e vulneráveis da sociedade.
A primeira leitura fala-nos da criação e da responsabilidade que Deus confiou ao homem e à mulher, ao constituí-los como uma família. Adão desobedece às palavras do Senhor e quando Deus o visita toma consciência da sua nudez como perda da sua dignidade, por isso, fê-lo sentir-se distante de ser uma pessoa querida e amada por Deus. Esta experiência levou-o a entrar numa crise existencial. À pergunta de Deus: “Quem te disse que estavas nu?” O homem responde: “A serpente enganou-me e eu comi do fruto proibido”. Há sempre uma desculpa em nós, pois muitas vezes alguém nos disse algo sobre os outros e fomos enganados acerca dos bons e dos inocentes, fazendo juízos inadequados desproporcionais à busca da verdade.
Nem sempre a verdade está na nossa vida de cristãos e como Igreja esta experiência é muitas vezes um mal gravíssimo destruidor da vida das nossas comunidades. Ninguém é responsável por nada, mas a pandemia também nos destapou a todos e deixou os cristãos, a Igreja e a humanidade desnudada, que espera agora encontrar o manto para cobrir a nossa miséria. O rito do Batismo ao dar importância à imposição da veste branca evoca precisamente a grandeza de sermos filhos de Deus. “Recebe esta veste branca símbolo da dignidade cristã e da graça batismal, conserva-a sempre imaculada até à vida eterna”. Neste contexto da pandemia muitos se perguntam sobre qual é o fundamento da esperança cristã. A esperança, virtude teologal e escatológica, conduz-nos sempre muito mais além do que aquilo, que nos somos capazes de imaginar. A essência da virtude da esperança e o bem que ela produz é sempre obra do amor de Jesus, da generosidade do Pai e da resposta amável do Espírito Santo às necessidades e sofrimentos das pessoas.
“A Igreja em Portugal, através dos seus bispos, sente-se unida a quantos foram diretamente atingidos pela pandemia e sofrem nas suas casas e famílias, nos lares e nos hospitais, na Igreja e suas instituições, pedindo a bênção de Deus e a recuperação da saúde e da esperança para as suas vidas” (DPPIP, 1). A Igreja procura discernir os desafios pastorais da nossa Diocese para depois lançar uma luz nova sobre aquilo que já vivemos. O Senhor oferece-nos sempre a sua graça e proteção através desta expressão tão bela do salmo: “Junto do Senhor a misericórdia, junto do Senhor a abundância da redenção”.
A resposta dada no final da primeira leitura é interpeladora: “Comerás o pó da terra todos os dias da tua vida” e sentirás na tua vida as dificuldades e na tua comunidade a insegurança e a falta de paz. Quando somos fiéis a um projeto de pastoral, acontece que muitas vezes nos vêm os desânimos, as dificuldades, a rotina, o medo, o comodismo, a falta de criatividade e de inovação pastoral, que só com a conversão e a ação do Espírito Santo é capaz de produzir frutos.
Por isso Deus disse ao homem decaído e à serpente por causa do mal cometido. “Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Esta há-de atingir-te na cabeça e tu a atingirás no calcanhar” (Gen 3,15). Esta é sempre uma tensão que existe entre uma Igreja que quer ser fiel ao Senhor, mas que tem de lutar contra o dragão, para ter liberdade de anunciar o Evangelho.
Uma Igreja, que escuta a Palavra de Deus, celebra os mistérios da fé, os sacramentos, cresce na oração, na caridade e na fraternidade pode anunciar ao mundo de hoje os desafios da missão e da evangelização. A Igreja deixando-se conduzir pelo Espírito Santo, caminha e vive animada pelos dons espirituais e carismas, pergunta ao Espírito Santo o que quer hoje de cada um de nós. Ao olharmos para a realidade da Igreja Diocesana, não podemos deixar de sonhar com uma Igreja viva, comunidade nova, formada por muitas e diversas comunidades em caminho de conversão, empenhadas na renovação pastoral. A Igreja tem de servir, tem de ir ao encontro das pessoas, que vivem marginalizadas nas periferias do nosso mundo. Por isso, faço um apelo a uma renovação espiritual da Igreja diocesana com serviços disponíveis para a missão e aberta a todos.
O caminho do discipulado e da imitação de Cristo, deve levar-nos sempre pelo caminho da radicalidade do Evangelho. “Se alguém quiser seguir-me renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia e siga-me”. O conhecimento de Cristo e o seguimento é uma tarefa que nos acompanha ao longo da nossa vida e nos leva a uma relação pessoal com Jesus, como ensinava São Paulo aos Coríntios: “Acreditei; por isso falei.” O tema deste Dia Diocesano marca o ritmo da caminhada catequética da iniciação cristã: “Batizado, Alimenta-te na Esperança”. Neste contexto no final da eucaristia serão batizadas quatro meninas que se encontram a celebrar com a sua família e connosco a fé. Uma criança é pois batizada na fé dos pais e dos padrinhos, na fé da Igreja. Caros pais e padrinhos recebeis hoje esta missão de as educar na fé, por isso com “o mesmo espírito de fé, também nós acreditamos e por isso falamos, sabendo que Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há de ressuscitar com Jesus e nos levará convosco para junto dele. Tudo isto é por vossa causa, para que uma graça mais abundante multiplique as ações de graças de um maior número de cristãos para glória de Deus” ( cf. 2 Cor 4,13-5,1). A nossa pátria definitiva está nos céus, por isso como os discípulos de Cristo foram chamados a seguir o seu mestre na escola dos profetas, dos santos e dos pastores, procurando obedecer à vontade de Deus, assim nós devemos fazer também. O desejo de Jesus é de que todos os que escutam a Palavra de Deus como Maria sejam verdadeiramente seus discípulos e se salvem, porque Deus não quer que ninguém se perca. É por isso que Jesus se opõe à ação de Satanás e de todas as suas obras. As obras de Jesus são as do Pai, daí surgir a pergunta sobre quem é a família de Jesus? Alguns pensavam que Ele estava fora de si ao realizar a pregação, por isso disseram-lhe que estava lá fora a sua Mãe e os seus irmãos e que o queriam ver. Mas Jesus disse-lhes: “Quem é a minha Mãe e os meus irmãos? E, olhando à sua volta disse: “Eis a minha Mãe e meus irmãos, quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe” (Mc 3,34-35).
Estamos a viver um ano dedicado à família. Somos verdadeiramente família de Deus, uma Igreja que convida e convoca para a missão. É à luz da pessoa de Jesus, que nós sabemos quem somos e o porquê de sermos chamados a fazer parte da Igreja.
Respondendo aos desafios do ano “Família Amoris Laetitia”, proposto pelo Papa Francisco para trabalharmos a pastoral familiar com um novo horizonte, principalmente implementando grupos de famílias capazes de viver a sua vocação e a sua missão evangelizadora.
Convido-vos a todos a sentirem-se mais família, construindo a verdadeira comunhão nas nossas comunidades. Convido a Igreja de Viseu a ser uma mãe vigilante e atenta, consoladora dos tristes e doentes e cuidadora dos magoados e desanimados. Uma Igreja que seja de todos, com dedicação ao serviço dos mais frágeis e excluídos, uma Igreja missionária que vai ao encontro das pessoas como batizados: o Bispo, os sacerdotes, os diáconos, os consagrados e os leigos que devemos ser “sal e luz do mundo” (Mt 5, 13-14).
Uma Igreja em discernimento, que escuta a voz de Deus, faz a leitura dos sinais dos tempos, interpreta-os, escutando o Espírito Santo, que nos oferece a vida nova. Com o Papa Francisco: “Quero destacar a solidariedade, que como virtude moral e comportamento social, fruto da conversão pessoal, exige empenho por parte de uma multiplicidade de sujeitos que detêm responsabilidades de carácter educativo e formativo” (FT 114).
Aqui está a vocação da família e a missão da Igreja no mundo atual. Ser sinal para que os homens reconheçam o poder de Jesus Salvador e ao anúncio da sua Palavra, Satanás seja vencido. A ação de Jesus não se confunde com a de Satanás. O demónio que se opõe ao projeto de Jesus é destruído pelo anúncio da Palavra do Evangelho. Toda a obra de Jesus é mostrar o sinal da comunhão, da verdade e da unidade entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Por isso, a blasfêmia contra o Espírito Santo leva-nos a opormo-nos ao projeto de Deus, fechando o nosso coração à sua ação salvífica e resistindo à sua vontade de Deus. O pecado contra o Espírito Santo persiste naqueles que não querem ver o Reino de Deus a crescer pela ação do Espírito Santo e não o aceitam como projeto de vida.
Por isso convido os jovens a serem os grandes protagonistas desta Igreja solidária em caminho de renovação, procurando dar lugar a Jesus na sua vida, que os chama a peregrinar, a viver, a partilhar, a preparar o futuro para assim realizardes e experimentar a grandeza do projeto das JMJ 2023 em Lisboa.
O gosto por viver a gratuidade fraterna na vida da Igreja leva-nos a partilhar: “Deus dá de graça, chegando ao ponto de ajudar mesmo os que não são fiéis e “faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus”(Mt 5,45). Deus diz a todos os seus filhos: “Recebestes de graça, dai de graça” (Mt 10,8). A Igreja que é mãe em diálogo, em caridade e amizade social cuida da humanidade e das suas feridas e oferece-lhe o seu trabalho como dom da salvação para todos.
Oração ao Criador:
“Senhor e Pai da Humanidade, que em todos os seres humanos lhe destes a mesma dignidade, infundi nos nossos corações um Espírito de filiação.
Inspirai-nos no sonho de sermos uma Igreja viva e
estimulai-nos a criar sociedades mais sadias e um mundo mais digno, sem fome, sem pobreza, onde a violência e a guerra não tenham lugar. Ámen.
Pedimos a Deus por intercessão de Nossa Senhora do Altar Mor, São José, São Teotónio, São Frei Gil, São Francisco, Santa Beatriz da Silva e Beata Rita Amada de Jesus a viver o ideal do nosso Batismo na esperança. Este é o amor Trinitário de Deus para connosco.
Viseu, Dia da Igreja Diocesana, 6 de junho de 2021