Observatório Pastoral
Uma mudança de época exige uma mudança de paradigma pastoral. Consciente disso, desde que foi eleito sucessor de Pedro, o Papa Francisco, tem proposto essa mudança de paradigma e de mentalidade para a Igreja no seu agir e na sua identidade. Trata-se de uma mudança que ganha forma e expressão sempre que a Igreja adota um rosto renovado, alegre e atraente.
Para o atual Papa, em conformidade com a visão conciliar, a «ação missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja» (EG 15), que com realismo e confiança, deve delinear um preciso estilo evangelizador assumido em qualquer atividade que se realize. Como ele próprio afirma: «Cinquenta anos depois do Concílio Vaticano II, apesar de nos entristecerem as misérias do nosso tempo e estarmos longe de optimismos ingénuos, um maior realismo não deve significar menor confiança no Espírito nem menor generosidade» (EG 84).
Este pontificado reabriu a questão do futuro da Igreja sob diversos pontos de vista, que incluem as questões resultantes da globalização e diversificação do catolicismo, bem como, da relação com a própria tradição. O Papa conclui que a Igreja deve estar «em saída» do centro para a periferia, mas também «em saída» dos paradigmas histórico-culturais que eram assumidos como definitivos.
De facto, estamos hoje perante um novo cenário social que requer uma leitura e interpretação em chave sinodal, a partir da visão histórica de um longo período, juntamente com uma abordagem evangélica capaz de discernir a nova realidade cultural que a Igreja enfrenta.
O contexto de pluralismo e de secularização que habita a atual realidade, não é o fim do cristianismo, mas de um certo cristianismo, numa sociedade que põe termo à sua forma sociológica de inculturação da fé. Assumindo que a cultura atual já não transmite a fé e os seus princípios, mas a liberdade religiosa, em boa verdade, estamos a caminhar para um tempo no qual cada pessoa, mais frequentemente, escolherá se quer ser cristã ou não. E nessa medida, a pior resposta que a Igreja pode dar será a da nostalgia do passado assente na tentativa de evitar mais perdas, de retardar o distanciamento dos cristãos de tradição da própria Igreja, de se empenhar para trazer de volta as coisas do passado. Aliás, um procedimento destes só viria demonstrar uma leitura negativa da cultura atual e a agravar a situação.
Impõe-se, portanto, a aposta da Igreja numa pastoral nova e de conjunto, uma pastoral querida e feita por todos através de um novo paradigma evangelizador provido de um espírito novo, de uma maior interioridade que leve as pessoas a encontrarem um sentido para a vida, e um espaço que lhes revele a força e a alegria do Evangelho.
Emerge a questão: Que figura de fé para o cristianismo de hoje, que possa reencantar neste tempo de desencanto, da perda de memória e de esperança?