Observatório Pastoral
São as vocações uma prioridade pastoral de primeira grandeza e enorme pertinência. Não só porque temos falta (e, portanto, necessidade) delas, mas sobretudo porque pertencem ao âmago da vida eclesial. Com efeito, não há Igreja sem um sentido vocacional muito vincado. Tal Igreja será, pura e simplesmente, inconcebível.
O problema é que dá a impressão de que são as circunstâncias a ditar estratégias e a definir ações: porque sentimos uma tremenda rarefacção vocacional, produzimos um discurso queixoso, neste campo.
Sucede que um discurso feito de queixas e tecido de lamentos dificilmente conseguirá ser mobilizador. É tempo, pois, de dar o passo que falta e o salto que esperamos.
Desde logo, importa apontar o centro. Ora, o centro da pastoral vocacional está na comunidade, na paróquia. Neste sentido, se é bom que a paróquia peça um pároco, é fundamental que ela se habitue a oferecer um padre. É ocioso persistir numa atitude lamurienta e instar com o Secretariado das Vocações para que resolva o problema. A questão vocacional é, antes de mais, da comunidade e, só depois, de um secretariado.
Como refere Amadeo Cencini, a paróquia tem de «acolher em si, no seu próprio ser e modo de agir, a dimensão vocacional como elemento que encerra a própria ideia de si mesma».
Tornando-se uma comunidade vocacional, ela tornar-se-á «uma oportunidade de renovação, ou talvez o caminho da verdadeira renovação e não apenas a resposta a uma emergência ligada à própria sobrevivência». Na verdade, «a paróquia ou é vocacional, ou não é».
Percebe-se, a esta luz, que o meridiano da crise paroquial passe pela crise vocacional e vice-versa. As vocações como que destapam a janela explicativa da crise da paróquia. De acordo com Amadeo Cencini, a paróquia, hoje, padece de três grandes problemas: um problema de comunicação, um problema de comunhão e um problema de identidade.
Estamos, antes de mais, perante um problema de comunicação tendo em conta que a paróquia, amiúde, «se torna incapaz de transmitir às pessoas e, particularmente, aos jovens o dom de que é portadora». Encontramo-nos ante um problema de comunhão pois, frequentemente, «no seu interior há dificuldades de relacionamento, de partilha de dons e de carismas». E deparamo-nos com um problema de identidade, dado ser «indubitável que a paróquia anda à procura de um rosto novo».
Urge alargar o conceito de paróquia. Quer queiramos quer não, ainda nos povoa a mentalidade segundo a qual (pelo menos, no plano instintivo) a paróquia é o pároco e pouco mais.
Se a paróquia é um exclusivo de um ou, quando muito, uma preocupação de poucos, a tendência será para as pessoas se demitirem. É que, se a vocação se afasta do comum das pessoas, o comum das pessoas acaba por se afastar da vocação.
É preciso nunca perder de vista que a paróquia é a totalidade dos seus membros, na pluriforme abundância de carismas concedidos a todos, com vista à difusão do Evangelho. Cada comunidade é portadora de imensos dons.
A paróquia – diz Cencini – «é o lugar em que o dom pessoal, vocacional, pode ser descoberto, o espaço no qual os dons se procuram, quase como se evocassem e chamassem mutuamente, e onde, portanto, é mais fácil e completamente natural manifestá-los, fazendo-os entrar em diálogo e em relação complementar entre si».