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Dia Mundial da Paz

A Santa Maria, Mãe de Deus, é a Rainha da Paz

 

O amanhecer do novo ano de 2022 oferece de novo, à humanidade inteira e de modo especial à Igreja, a bênção concedida por Deus a Moisés, para Arão e os seus filhos darem a todo o povo de Israel.

O povo peregrino no deserto a caminho da terra prometida é abençoado por Deus em todos os momentos e circunstâncias da sua vida. Também nós, enquanto batizados chamados a viver a nossa vocação à santidade como cristãos, somos um povo abençoado por Deus. No mistério do Natal de Jesus, Deus dá a sua bênção oferecendo-se no Seu próprio Filho, como o “Príncipe da Paz”.

A celebração da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, Mãe da Igreja e Rainha da Paz, evoca a figura de Maria no seu lado mais humano e feminino, para podermos compreender melhor a grandeza do mistério da sua maternidade divina.

Maria aparece na Carta aos Gálatas e no Evangelho como a mulher que tem a missão de mãe, de mestra e de educadora de Jesus, assim como modelo de mãe de todos os crentes.

“Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração” (Lc 2,19). Maria torna-se assim Mãe espiritual de toda a humanidade e Aquela a quem os cristãos confiam e entregam a sua vida, os seus projetos, os seus anseios, as suas esperanças e sonhos para se realizarem enquanto pessoas chamadas por Jesus a ser discípulos missionários.

Neste primeiro dia do ano civil, a Igreja convida-nos a refletir sobre as palavras “bênção” e “paz”; “oração e compaixão”; “louvor e meditação”; “contemplação e adoração”; “missão e evangelização”. É diante da contemplação do presépio que estas palavras encontram um sentido novo de confiança, de entrega, passando a nossa vida a ocupar um horizonte de luz, de humildade e de esperança, na vivência da nossa fé cristã. Faz-nos bem parar, meditar, rezar e contemplar o mistério divino diante de Jesus, Maria e José.

A “bênção” e a “paz” são um dom de Deus oferecido a toda a humanidade, um fruto do Espírito Santo, que devemos fazer crescer mais na nossa vida, nas nossas famílias e nas nossas comunidades. Ao vivermos estes dias de muita perturbação social, sanitária, económica e política, de muitas catástrofes naturais e conflitos entre povos e nações, todos sonhamos com um ano novo mais feliz.

“A pandemia entre crise humanitária e crise eclesial”, como diz a subsecretária do Sínodo dos Bispos, deve levar-nos a olhar para Jesus e para o nosso mundo de modo diferente. Por isso, “tivemos de fazer frente a uma enorme crise sanitária que ameaça milhares de vidas humanas, em particular as dos pobres, dos mais idosos, dos mais vulneráveis, sem esquecer os jovens, primeiras vítimas da crise económica e do desemprego” (Ir. Nathalie Becquart, in La Repubblica, tradução de Rui Jorge Martins, Bíblica, Ano 68, p. 12, Janeiro-Fevereiro 2022).

Perante este cenário mundial, diante de uma economia que mata tantos sonhos e projetos humanos, devemos continuar a cantar: “Deus tenha compaixão de nós e nos dê a sua bênção” (Sl 66 (67),2).

Esta oração do salmista completa a mensagem que os anjos cantaram na noite de Belém: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados” (Lc 2,14). A alegria que traz a notícia do nascimento de Jesus, cantada pelos Anjos, é um dom de paz e de fraternidade para toda a humanidade.

A “paz” e a ”bênção” são um sinal maravilhoso da presença de Deus no meio de nós. Todos devemos empenhar a nossa vida na construção da cultura da paz, da justiça e do amor, como rezava São Francisco de Assis. “Senhor fazei de mim um instrumento da vossa paz”.

O Livro dos Números hoje apresenta-nos este modo orante de estar diante de Deus: “O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz” (Num 6,22-27).

Estas palavras ajudam-nos a pedir um mundo novo a Deus, para, através da oração, alcançar o dom da sua bênção. A bênção de Deus resplandeça sempre sobre a nossa vida e a Luz do seu rosto ilumine todo o nosso agir humano e cristão: A vossa face Senhor eu procuro desde a aurora, jamais serei confundido. Vós sois a minha luz, a minha fortaleza, a minha confiança, a minha esperança, o renascimento da minha vida.

Não nos esqueçamos disto: “Foi Deus quem nos amou primeiro”. Foi ele que teve a iniciativa de vir ao encontro do homem, de olhar para cada um de nós e nos salvar. Veio para nos dar a vida em Seu Filho, nascido de Maria, e para se cumprir a profecia: “deram-lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo” (Lc 2,21).

Na presença de Jesus, queremos aprender a saborear a doçura divina e a mansidão do seu nome, a balbuciar pela oração: Jesus, Jesus, doce nome de Jesus, eu confio em Vós!

Somos chamados a “caminhar juntos” no crescimento da fé criativa, na esperança sobrenatural. A Igreja é chamada a renovar-se em cada um de nós e em cada comunidade. “Família, alimenta-te na Eucaristia!”: eis o nosso lema diocesano. Este é um sonho, um slogan, um desejo, um compromisso, mas também uma atitude, um processo de realismo pastoral, que nos desafia na comunhão, na participação e na missão.

“A sinodalidade é antes de tudo uma prática, um estilo de vida da Igreja, um modo de ser dos cristãos, que se apoia em algumas atitudes a desenvolver: a escuta, a humildade, a confiança, a liberdade, a fé e a oração, o diálogo e o encontro, a participação ativa e a busca da comunhão para a missão. Ela supõe e produz uma Igreja humana e inculturada, uma Igreja plenamente imersa no mundo e em diálogo com a cultura contemporânea, uma Igreja frágil e humilde, que se reconhece simultaneamente santa e pecadora, que vive da misericórdia que ela própria anuncia, uma Igreja corajosa e criativa que assume riscos e não tem medo de experimentar novos caminhos, inclusive acidentados. Em resumo, uma Igreja em saída, que não separa a liturgia do serviço, indo sempre para as periferias, de maneira a tornar-se este “hospital de campanha” aberto a todos os feridos da vida, que esta crise atual torna ainda mais necessário”, (Irmã Nathalie Becquart, Bíblica, 2022, p. 21).

A Igreja é o povo de Deus em caminho na história, que se vai escrevendo com “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem” (GS,1).

“A luz de Deus, que a todos ilumina” (Jo 1,14), trouxe-nos a plenitude da vida de Jesus, que nasceu em Belém como a Estrela que conduz o homem em direção a Deus, no serviço aos irmãos. Jesus nasceu para nos libertar da escravidão do pecado e do mal. O filho de Deus, pela graça do Batismo, derramou sobre nós o dom da filiação e adoção divinas.

Maria, ao assumir a maternidade humana de Cristo no seu seio, participa da filiação divina e coopera, na ordem da graça, na salvação do género humano. “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar filhos adotivos” (Gál 4,4-7).

“Os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura” (Lc 2,16). Ao contemplar este belo quadro, adoram Jesus e oferecem-lhe os seus presentes. Aprendamos também nós com os pastores a encontra Jesus e a regressar à nossa vida glorificando e louvando a Deus.

Contemplemos o “Príncipe da Paz” e levemos ao mundo o Evangelho da paz: “Bem-Aventurados os construtores da Paz, porque serão chamados filhos de Deus”.

Diante da Mensagem do Papa Francisco para o 55º Dia Mundial da Paz, sublinhemos a atualidade do tema da paz, do amor e da justiça, para a construção de um mundo novo: “Diálogo entre gerações, educação e trabalho: Instrumentos para construir uma paz duradoura” (Papa Francisco).

As suas palavras a partir do texto de Isaías sublinham: “Que formosos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz” (Is 52,7).

O Papa Francisco propõe-nos assim um caminho novo:

1º Dialogar entre gerações para construir a paz.

“Dialogar significa ouvir-se um ao outro, confrontar posições, pôr-se de acordo e caminhar juntos” (Papa Francisco). Façamos todos este exercício.

2º A instrução e a educação como motores de paz.

“Faço votos de que o investimento na educação seja acompanhado por um empenho mais consistente na promoção do cuidado” (Papa Francisco). Promover a educação em vez das armas, eis o grande desafio para os responsáveis dos povos.

3º Promover e assegurar a cultura do trabalho como construção para a paz. “Como é urgente promover em todo o mundo condições laborais decentes e dignas, orientadas para o bem comum e a salvaguarda da criação!” (Papa Francisco).

Dirijo a minha Mensagem deste Novo Ano a todos repetindo as palavras do Papa:

“Aos governantes e a quantos têm responsabilidades políticas e sociais, aos pastores e aos animadores das comunidades eclesiais, bem como a todos os homens e mulheres de boa vontade, faço apelo para caminharmos, juntos, por estas três estradas: o diálogo entre as gerações, a educação e o trabalho” (Mensagem do Dia Mundial da Paz de 2022).

Imploremos a proteção da Santa Mãe de Deus, a Rainha da Paz, pedindo um caminho novo marcado pela esperança, o diálogo, a escuta, a partilha, a proximidade, a fraternidade, a solidariedade de “caminhar juntos” na transformação da sociedade e do mundo, segundo o sonho de cada um numa vida nova e melhor, mais plena de sentido espiritual com Deus.

Que o sonho de cada um de nós de uma vida nova leve os cristãos, as famílias, os governantes e todas as pessoas de boa vontade a ser capazes de construir, em cada dia do novo ano, a paz, a justiça, a harmonia, a saúde, o pão, o trabalho e uma habitação digna para todos.

Confiemo-nos, com fé, à proteção da Rainha da Paz, a Santa Mãe de Deus, a Senhora do Altar Mor, a Mãe da nossa Esperança, e a São José, com o desejo de construir um mundo novo mais justo, fraterno e pacífico. Ámen!

 

 

† António Luciano dos Santos Costa,
Bispo de Viseu
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