A veneração da Palavra (EG 146) de Deus e da sua beleza, acontece desde a tradição mais antiga da revelação divina, que reconhece e aceita a Bíblia Sagrada, como o Livro que contém todos os Escritos da Sagrada Escritura.
“A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras a par com o próprio Corpo do Senhor, não deixando, sobretudo na liturgia, de tomar o pão da vida à mesa, tanto da palavra de Deus como do Corpo de Cristo, nem de o distribuir aos fiéis” (DV 21). A Palavra de Deus revelada e transmitida ao povo de Israel ao longo da história da salvação é “a palavra viva e eficaz” (Heb 4,12). “É preciso, pois, que toda a pregação eclesiástica, bem como a própria religião cristã, se alimente e seja orientada pela Sagrada Escritura. Com efeito, nos Livros Sagrados, o Pai que está nos céus vem muito amorosamente ao encontro dos seus filhos e conversa com eles” (DV 21). Precisamos de nos abeirar da Palavra com um coração dócil e orante, a fim de que ela penetre a fundo os nossos pensamentos e sentimentos.
Devemos ter gosto por ouvir, conhecer e estudar a Palavra de Deus, para depois a pregar e transmitir quer na liturgia, no estudo pessoal, na formação de cursos e encontros bíblicos, para assim nos tornarmos verdadeiros servidores e testemunhas da palavra através da nossa vida. O pregador “deve ser o primeiro a desenvolver uma grande familiaridade pessoal com a Palavra de Deus” (EG 149).
Nós o povo de Deus devíamos escutar, ler, meditar e rezar muitas vezes o Evangelho. Tomemos como exemplo a parábola do semeador, onde Jesus ensinou através de uma dimensão profética, litúrgica, pastoral e prática designada por “lectio divina” o modo de escutar a Sua Palavra e de nos deixarmos transformar pelo Espírito Santo. “Consiste na leitura da Palavra de Deus num tempo de oração, para lhe permitir que nos ilumine e renove (EG 152). Tem os seguintes passos: leitura, meditação, oração, contemplação e compromisso.
A leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada da oração, para que se verifique o colóquio entre Deus e o homem; pois “com ele falamos quando rezamos: a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos” (DV 25).
É dever dos pastores ensinar os fiéis que lhe forem confiados no reto uso dos Livros Divinos, de modo particular do Novo Testamento e sobretudo dos Evangelhos por meio da pregação, estudo e formação adequada, “porque desconhecer as Escrituras é desconhecer a Cristo” (São Jerónimo).
A Igreja, no decorrer do Concílio Vaticano II, teve a preocupação de colocar em relevo a Palavra de Deus e promulgar a “Dei Verbum”, convidando todos os cristãos a ouvir religiosamente a Palavra de Deus, a escutar a boa notícia, que com desassombro se manifestou em plenitude na pessoa de Jesus de Nazaré. As palavras do Senhor são de “vida Eterna”, são testemunho do amor misericordioso do Pai, da “Boa-Nova” anunciada por Jesus ao mundo e que nos foram dadas pela graça do Espírito Santo que recebemos, “vimos e ouvimos, vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco” (1 Jo 1,3).
A Igreja propõe a verdadeira doutrina sobre “a Revelação Divina e a sua transmissão, através da pregação para que, ouvindo o anúncio da salvação, o mundo inteiro credite, acreditando espere, esperando ame” (DV 1).
A Bíblia é Palavra de Deus. Devemos ler a Bíblia na Igreja e com a Igreja. E não se pode falar, hoje, da Palavra de Deus sem mencionar e estudar a (Dei Verbum) Palavra de Deus do Concílio Vaticano II; pois este é o documento mais importante que a Igreja produziu sobre a Bíblia. “Com a leitura e estudo dos Livros Sagrados, que a Palavra do Senhor se propague rapidamente e seja acolhida com honra, e o tesouro da Revelação, confiado à Igreja, encha cada vez mais os corações humanos” (DV 26).
Felizes os que escutam a Palavra de Deus e a vivem todos os dias no testemunho da fé. A Igreja, serva e discípula da Palavra, convida toda a humanidade a abrir o seu coração a Deus e a descobrir que “na riqueza do seu amor, fala aos homens como a amigos (Ex 33,11; Jo 15, 14-15) e conversa com eles (Br 3,38), a fim de os convidar e admitir à sua comunhão” (DV 2).
Todos os batizados são chamados a ouvir a Palavra de Deus com fé e como Maria a guardá-la no seu coração, depois vivê-la na intimidade com o Espírito Santo, para produzir frutos novos de caridade para a vida do mundo.
O Papa Francisco ao propor o “Domingo da Palavra” aos cristãos como uma referência festiva, convida-nos com alegria a viver a dimensão da Palavra de Deus na nossa vida e a força dinamizadora da evangelização neste processo de “caminho sinodal”.
“As comunidades encontrarão a forma de viver este Domingo como um dia solene. Entretanto será importante que, na celebração eucarística, se possa entronizar o texto sagrado, de modo a tornar evidente aos olhos da assembleia o valor normativo que possui a Palavra de Deus” (Papa Francisco). Celebrar o Domingo da Palavra de Deus de forma festiva, dando um lugar de relevo à Bíblia, colocando-a num pequeno altar, adornando-a com flores e com duas velas acesas.
Aproveitemos a mensagem do Santo Padre para valorizar esta celebração do Domingo da Palavra de Deus, entregando a Bíblia às famílias, às crianças como desafio e compromisso de estudo e de testemunho.
Que todos sintamos fome do pão da Palavra de Deus e o saibamos distribuir pelos nossos irmãos que desejam conhecer melhor Jesus.
Como discípulos missionários tornemo-nos verdadeiros evangelizadores dos jovens e das famílias e levemos-lhe com esperança a “Alegria do Evangelho”.
Durante este ano pastoral procuremos estudar mais e melhor o Evangelho de São Lucas e descobrir nele a alegria de Jesus. Sentir nas parábolas da misericórdia o amor de Deus que vem ao encontro dos pecadores para os curar, perdoar e salvar. Façamos ainda a descoberta do projeto de Deus na vida de Maria de Nazaré e a força da ação do Espírito Santo no coração daqueles que se deixam evangelizar e escutam com fé a Palavra de Deus.
“Maria, Mulher da escuta, abre os nossos ouvidos; faz com que saibamos ouvir a Palavra do teu Filho Jesus, no meio das mil palavras deste mundo; faz com que saibamos ouvir a realidade em que vivemos, cada pessoa que encontramos, especialmente quem é pobre e necessitado, quem se encontra em dificuldade. Maria, mulher da decisão, ilumina a nossa mente e o nosso coração, a fim de que saibamos obedecer à Palavra do teu Filho Jesus sem hesitações; (…). Maria, Mulher da ação, faz com que as nossas mãos e os nossos pés se movam “apressadamente” rumo aos outros, para levar a caridade e o amor do teu Filho Jesus, para levar ao mundo, como tu, a luz do Evangelho. Ámen!”