Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

As palavras do Senhor são “espírito e vida”, fonte de alegria e de paz.

Celebramos o Domingo III do Tempo Comum, o Domingo da Palavra de Deus, instituído pelo Papa Francisco.

É uma oportunidade para descobrirmos a riqueza da Palavra de Deus, que nos foi anunciada pelos Profetas e Jesus Cristo. Devemos todos estudar e conhecer a Bíblia e ter presente os documentos da Igreja de modo especial a “Dei Verbum” do Concílio Vaticano II (1965) e a Exortação Apostólica Pós-Sinodal do Papa Bento XVI “Verbum Domini”, de 30 de setembro de 2010, que se debruçou sobre a importância da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja.

“A Igreja sempre se renova e rejuvenesce graças à Palavra de Deus” (1 Pd 1,25). A Igreja precisa de anunciar e comunicar a alegria que nos vem do encontro com a Palavra de Deus. É preciso abrir o coração das pessoas à vida de Deus e ao gosto por escutar a sua Palavra. Convido-vos a fazer um ato de fé diante de Deus e da sua Palavra, que alegra o nosso coração. A vossa Palavra Senhor é “luz para os meus caminhos”.

Felizes os que escutam a Palavra de Deus com fé e alegria e se deixam iluminar por ela. A Palavra de Deus convoca, reúne, ilumina, ensina, alimenta, fortalece e promove a festa que dá sentido à nossa vida. Como Maria, “são felizes os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11,28).

A Igreja  exorta-nos a todos a redescobrir o encontro com o Verbo, com a pessoa de Jesus. A Palavra de Deus é o Verbo que se fez carne e habitou entre nós. Jesus fala-nos através do Evangelho que escutámos.“Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir” (Lc  4,21 ).

A leitura do Livro de Neemias, relata o modo como o povo de Israel participou na celebração da Palavra de Deus.  O “sacerdote Esdras trouxe o Livro da Lei perante a assembleia de homens e mulheres e todos os que eram capazes de compreender” (Ne 8,2), desde a aurora até ao meio dia, escutaram todos a leitura do Livro da Lei.

A centralidade e a importância da Palavra de Deus na nossa vida, leva-nos a escutar a palavra que suscita sempre sentimentos de alegria e de paz nos seus ouvintes, chamados a semear a vida nova no coração dos que se deixam renovar pela graça do Espírito Santo.

Como cristãos devemos fazer uma escuta assídua e atenta da Palavra de Deus, para a exemplo de Maria, a mulher da escuta, guardarmos a Palavra de Deus no coração, meditá-la e depois pô-la em prática.

A primeira leitura recorda a atitude de escuta do povo ao ouvir a Lei do Senhor. Levantou-se e respeitou a Palavra de Deus e Esdras bendisse o Senhor e “todo o povo respondeu, erguendo as mãos: “Ámen! Ámen!” (Ne 8, 6).

Os levitas  ao fazerem a leitura explicavam ao povo o modo de compreender a beleza das palavras, que eram proclamadas. Está aqui um trabalho que a Igreja, as famílias, os catequistas e todos os batizados devemos fazer hoje. Proclamar a Palavra de Deus e levá-la ao coração das pessoas, depois explicá-la através da evangelização, da catequese, da formação bíblica, da celebração da liturgia e dos sacramentos, da oração pessoal, da leitura orante da Palavra “lectio divina”, onde Deus nos fala através da leitura, meditação, oração, contemplação e ação.

A celebração comunitária da Liturgia das Horas, principalmente aos Domingos e dias festivos deve ser uma preocupação pastoral de todos nós. Privilegiar a oração de vésperas na tarde de domingo é também um desafio de renovação, para uma Igreja que deseja ser orante e missionária.

“A fé vem da pregação e a pregação pela Palavra de Cristo” (Rom 10, 17). “O fruto da Sagrada Escritura é a plenitude da felicidade eterna” (São Boaventura).

A Sagrada Escritura deve tornar-se cada vez mais familiar a cada um de nós. Escutamos nós a Palavra de Deus? Que marcas deixa na nossa vida? Reunimos o povo para escutar e estudar a Palavra de Deus? Dizia São Jerónimo: “Quem desconhece as Escrituras, ignora o próprio Cristo”.

Quando a assembleia terminou, Neemias despediu o povo e mandou-o regressar a casa para tomar a refeição. Convidou-os a fazer festa e a partilhar o pão com os mais necessitados, dizendo-lhes: “Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza” (Ne 8, 10).

Ao celebrarmos o Domingo da Palavra de Deus associemo-nos a estas crianças que hoje celebram a festa da Palavra e vão receber a Bíblia dos seus pais. Uma delas receberá o Corpo de Jesus ao fazer a sua primeira comunhão. Dou-vos os meus parabéns por esta festa e procurai ser sempre amigos, felizes e fiéis à Palavra de Deus.

Ajudadas pelo vosso pároco, pelos vossos pais e catequistas saboreai com fé e alegria a Palavra de Deus. Os pais são para os seus filhos os primeiros anunciadores da Palavra de Deus, os primeiros catequistas. Oxalá que na vossa casa a Bíblia tenha um lugar de destaque e todos aprendamos a dizer como o salmista: “As vossas palavras, Senhor, são espírito e vida” (Sl 18 ).

Estamos a viver a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, por isso convido-vos a crescer na comunhão e na unidade, pedindo na oração a força que nos vem da Palavra, para que os sentimentos que São Paulo nos recorda na primeira Carta aos Coríntios cresçam em nós: “Vós sois corpo de Cristo e seus membros, cada um por sua parte”. De facto, todos fomos batizados num só Espírito para constituirmos um só corpo em Cristo Jesus.

Rezemos pela comunhão e unidade dos cristãos, um tema tão caro e recomendada por Jesus no discurso e na oração realizada antes da última ceia. “Pai santo, guarda-os em teu Nome, o Nome que Me deste, para que eles sejam um, assim como Nós somos um” (Jo 17, 11).

A Palavra de Deus e a oração geram unidade no amor e constroem a verdadeira comunidade e fraternidade evangélica. Vejamos o exemplo e o testemunho das primeiras comunidades cristãs: “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações” (cf. At 2, 42-47).

Procuremos fazer das nossas comunidades paroquiais verdadeiras escolas de escuta da Palavra de Deus e de aprendizagem no discipulado. Façamos cada vez mais a descoberta do lugar privilegiado que a Palavra de Deus deve ter na Liturgia, especialmente na celebração da Eucaristia, de modo a acolher a Palavra do Evangelho com muita fé e confiança.

Foi na Sinagoga de Nazaré, que Jesus proclamou a leitura do Livro de Isaías, o qual lhe apontou a grandeza e a urgência da sua missão: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor” (Lc 4, 14-21). O Espírito Santo estava n’Ele para anunciar, curar, libertar e congregar o povo de Israel que andava disperso.

O mesmo Espírito anima a missão da Igreja, das famílias e de todos os cristãos. Toda a pastoral deve ser animada pela Palavra de Deus. A missão da Igreja é anunciar a Palavra de Deus ao mundo e promover a nova evangelização com fraternidade, para que todos escutem com fé a Palavra de Deus. Sejamos fiéis à Palavra de Deus, que nos pede um compromisso de serviço e solidariedade com o mundo.

Termino a olhar para a imagem de Maria, a mulher da escuta da Palavra, a Virgem fiel, que guarda a palavra no coração e a põe em prática. Maria é  o nosso modelo,  a mãe da Palavra, a mulher da escuta e a mãe da alegria.

Levemos ao coração de todos a alegria e o desejo de escutar, de meditar e estudar mais a Palavra de Deus, para a semear com abundância no coração dos nossos irmãos.

 

Sé de Viseu, 23 de janeiro de 2022
† António Luciano, Bispo de Viseu
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