“Dai graças ao Senhor porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia!” (Sl 117.1)
Aprendamos a viver e a contemplar o amor, a misericórdia, a ternura, a verdade, a doçura, a proximidade, a compaixão e a bondade de Deus na vida dos santos.
Com São Teotónio, busquemos Jesus o “tesouro escondido”, identifiquemos com Ele a nossa vida e sejamos merecedores de o ter como intercessor junto de Deus. Chamar lhe padroeiro significa ter a vontade de como ele através da pregação, da oração, da caridade e da vida virtuosa percorrer o mesmo caminho de santidade.
A segunda leitura do Ofício da solenidade de São Teotónio lembra-nos: “Teotónio deu mostras evidentes de grande progresso no caminho da perfeição e santidade. A sua vida era para todo o povo de Deus um admirável exemplo de virtude.
Desempenhava com exímia perfeição as obrigações da sua ordem [sacerdotal]: instruía na fé as gentes rudes e incorporava-as na Igreja pelo batismo; chamava os pecadores à penitência e, curando-os com a medicina das suas orações e palavras de encorajamento, absolvia-os e reconciliava-os com a Igreja; como bom mediador entre Deus e os homens, a todos ensinava os preceitos divinos e pregava a verdade, apresentava ao Senhor as preces dos seus fiéis e intercedia diante de Deus pelos pecados do povo, oferecia no altar o sacrifício de expiação, recitava as orações e abençoava os dons de Deus” (Leitura do Ofício, séc. XII).
Contemplando a vida e o dinamismo deste jovem sacerdote, encontramos nele um homem de Deus, com grandeza moral, um pastor fiel e protetor do seu povo ao longo dos séculos. As suas atitudes comprometem o presbitério de Viseu e desafiam-nos a viver o presente com verdade e autenticidade na fidelidade à vocação e ao compromisso pastoral. Através do anúncio do Evangelho, da força da palavra evangelizadora, da oração fraterna e perseverante, da sua caridade cheia de esperança e entusiasmo pastoral, torna-se para nós um pastor atual.
Nos tempos difíceis, que todos vivemos, decorrentes das consequências desta pandemia e dos seus efeitos sociais negativos, continua a ser um exemplo a indicar-nos como nos devemos afastar de “vícios ou vaidades mundanas, era sua constante predileção o recolhimento, a mansidão, o silêncio e a paz. Finalmente – coisa rara para o nosso tempo – foi tão profunda a sua humildade, que parecia querer passar pelo mais esquecido de todos e o último dos servos de Deus” (Ofício de Leitura, séc. XII). Cumprem-se nele as palavras da segunda leitura:” “A linguagem da Cruz é loucura para aqueles que estão no caminho da perdição, mas é poder de Deus para aqueles que seguem o caminho da salvação…” (1Cor 1, 18).
A todos mostra este tempo novo e de mudança, com grandes desafios pastorais dos quais a Igreja e o mundo nunca se pode desviar. Anunciar o Evangelho, fazer da oração o seu alimento, cuidar de todos pela prática da caridade com uma atenção primordial aos pobres, às famílias e aos jovens. “Nós pregamos Cristo crucificado, ressuscitado”.
Caríssimos seminaristas São Teotónio fez o seu percurso para o sacerdócio, na escola de formação da catedral de Viseu e foi um bom animador da pastoral vocacional. Inspirai-vos nele para um dia serdes sacerdotes à maneira de Jesus Cristo. Ordenado sacerdote em 1111, foi nomeado Prior desta Igreja de Santa Maria. Que isto vos sirva de exemplo e estimule no caminho da vossa formação sacerdotal, chamando outros jovens para fazer também este mesmo caminho.
Caríssimos Diáconos Permanentes, hoje com as vossas esposas e familiares recordais o dom da vossa vocação, o dia da ordenação diaconal e o trabalho pastoral que realizais, por isso, escolhemos este dia para a renovação das promessas Diaconais. Que São Teotónio vos ensine a servir no ministério em santidade e com o vosso exemplo serdes instrumento de chamamento de outros homens ao diaconado. Temos diante de nós um caminho e um desafio a uma vida de santidade para todos os fiéis: pastores e leigos.
Em São Teotónio encontramos os bispos, os sacerdotes, os diáconos, os consagrados (as), os missionários, as contemplativas, os membros das sociedades de vida apostólica, a ordem das virgens, os membros dos institutos seculares e os leigos um estilo de vida espiritual capaz de transformar a nossa existência humana e eclesial.
Esta é sempre uma característica dos santos, com o seu carisma marcam de modo positivo a nossa vida, por isso, se tornaram verdadeiramente amigos de Deus, quer no modo de anunciar o Evangelho, de rezar, de pregar, de celebrar, de amar, de servir, de cuidar, de testemunhar a fé na sua vida até ao fim.
A celebração solene da Eucaristia de ação de graças, reuniu nos juntos em “comunhão, participação e missão”, para descobrimos também o dom do sacerdócio de Jesus, que devemos testemunhar na humildade, na pobreza, na simplicidade, no celibato e na alegria de servir como pastores no “meio das pessoas” (Papa Francisco).
Na contemplação do ícone que é a vida, a vocação e a missão sacerdotal de São Teotónio, sentimo-nos estimulados a encontrar as raízes mais profundas da comunhão com Deus da dedicação ao serviço do seu povo de modo especial os pobres. O modelo para o nosso sacerdócio é sempre Cristo, mas São Teotónio é uma referência de vida espiritual, pastoral, na santidade e na prática das obras de misericórdia.
Os sonhos do Prior da Sé de Santa Maria de Viseu para cuidar bem do seu povo, em tempos difíceis como hoje, lembra-nos a responsabilidade de centrar a vida espiritual e pastoral em Deus, a fonte permanente e essencial para servir bem o seu povo. Por isso, ele marcou de “forma indelével e perene a vida eclesiástica da diocese de Viseu, sendo ainda hoje o seu padroeiro”(História da Diocese de Viseu, volume, I,p.285).
Rogo-lhe, passados tantos anos depois da sua morte que continue a ser para nós imagem de Cristo, o Bom Pastor e o Bom Samaritano. Peço-lhe, que apresente a Deus as nossas necessidades como, diocese, família e presbitério. Nos ensine a aprender a “caminhar juntos”, com espírito sinodal, num desafio de conversão pessoal e renovação pastoral, animados pelo nosso Plano Pastoral: ”Família, Alimenta-te na Eucaristia”.
A preparação da peregrinação dos símbolos das JMJ na nossa diocese no próximo mês de abril, devem trazer nos um novo ardor e uma nova esperança na renovação dos nossos compromissos na pastoral juvenil, vocacional e familiar. “É importante aproximar jovens e idosos. O idoso dá os próprios sonhos e o jovem recebe-os e pode transmiti-los, tendo em vista o futuro” (Papa Francisco).
Igreja de Viseu que dizes de ti mesma? Que Igreja queremos ser e construir? Uma Igreja de pastores, sacerdotes, diáconos, consagrados e leigos a vislumbrar juntos o caminho novo num compromisso marcado pela esperança de uma Igreja pascal, que sonha caminhar para Emaús na escuta e no diálogo com Jesus.
São Teotónio encontra a sua força em Deus e “ era considerado uma pessoa de bem, reflectiva e grave” (História da Diocese, Vol. I p. 284), que encontrou sempre na paternidade divina a beleza da criação, da encarnação e da redenção. Na verdade ele entregou toda a sua vida ao serviço de Cristo e da igreja, na vivência da sua vocação, onde buscou a vivência do verdadeiro dom da sabedoria que o levou “a manter uma relação próxima com a população da cidade e a praticar a caridade para com os mais necessitados”, contribuiu para granjear o respeito e admiração dos seus contemporâneos.
O livro de Ben-Sirá fala-nos do verdadeiro valor da sabedoria como um tesouro. Procurou a sabedoria de Deus com humildade, mas não desprezou o conhecimento do saber das ciências, da cultura e do conhecimento nas suas peregrinações à Terra Santa e a outros lugares.
Contemplemos em São Teotónio o sacerdote sábio e exemplo de oração, formado na escola dos valores de Jesus, cheio de fé, esperança, caridade, humildade, simplicidade, mansidão, bondade, paciência, misericórdia e anunciador das verdades eternas, porque “muitos se extraviaram pelos seus preconceitos e as fantasiosas especulações perverteram a sua inteligência” (Sir 3, 26). O nosso padroeiro cultivou a confiança em Deus de um modo sobrenatural, como lembra o Evangelho. “Não vos deixeis tratar por Mestres(…), porque um só é o vosso pai, o Pai celeste (Mt 23,9) e “um só é o vosso doutor, o Messias”, mas sede firmes na autenticidade da vossa vida e da vossa identidade. Não tenhamos medo de viver as palavras de Jesus: “Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado” (Mt 23,12).
Neste dia não quero deixar de partilhar convosco principalmente com os sacerdotes e diáconos algumas palavras que o Papa Francisco pronunciadas ontem em Roma ao inaugurar o Simpósio Internacional sobre o sacerdócio, sublinhando algumas dimensões importantes na vida dos presbíteros.
Disse que o lugar de cada sacerdote é estar “no meio das pessoas, numa relação de proximidade com o povo”. Falou da importância de conhecer a realidade onde se vive, sem perdermos a nossa identidade sacerdotal e apresentou ainda as “quatro colunas constitutivas da vida sacerdotal”, a proximidade com Deus, o povo, o bispo e os outros padres”. Sem uma relação íntima com o Senhor na oração, no silêncio interior, o nosso ministério pode tornar-se estéril. “Muitas crises sacerdotais têm origem precisamente numa escassa vida de oração, numa falta de intimidade com o Senhor, numa redução da vida espiritual a mera prática religiosa” (Papa Francisco).
Defendeu também a centralidade da dimensão da vida comunitária, como resposta ao sentimento de orfandade e muitas vezes de solidão que abundam nas sociedades em rede, com ligações, mas sem pertença e por isso, convidou a viver com alegria o celibato e a obediência.
“Vendo a tentação de nos fecharmos em discursos e discussões intermináveis acerca da teologia do sacerdócio ou sobre as teorias do que devia ser. O Senhor olha com ternura e compaixão para os sacerdotes, oferecendo-lhes as coordenadas a partir das quais hão de reconhecer e manter vivo o ardor da missão: proximidade com Deus, com o bispo, com os irmãos presbíteros e com o povo que lhes foi confiado. Uma proximidade com o estilo de Deus, que se aproxima com compaixão e ternura” (Papa Francisco).
Depois desta celebração, vamos iniciar a inauguração solene aqui na Sé e no Museu da Misericórdia, da Exposição Interdiocesana, património das Dioceses de Aveiro, Guarda, Lamego e Viseu, que a partir do dia de São Teotónio, vai permanecer no meio de nós até ao mês de junho. Eu espero que seja visitada por muitos, que seja um meio de evangelização e de catequese e possa ajudar-nos a todos na contemplação: “DIÁLOGOS – NA BELEZA DAS OBRAS CONTEMPLAMOS A BELEZA DO CRIADOR”.
Parabéns aos Diretores e membros dos Departamentos dos Bens Culturais destas Dioceses, aos senhores Bispos e seus representantes e a todos os que são convidados para este evento sinodal. Confio a Nossa Senhora do Altar Mor, a São Teotónio e à Beata Rita Amada de Jesus todo este projeto de “comunhão, participação e missão”. Ámen!
Viseu, 18 de fevereiro de 2022