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Observatório Pastoral

 

A mensagem não está isolada de quem a transmite e da sua maneira de viver. Como seria possível transmitir uma palavra que não é vivida por quem a pronuncia? Que autoridade teria uma palavra dita e pregada, mesmo com hábil arte oratória, se não encontrasse coerência de vida em quem a proclama? A autoridade de um profeta – reconhecida a Jesus desde os inícios da sua vida pública – depende da sua coerência entre aquilo que diz e aquilo que vive: só assim é confiável. (…)

Por estas razões Jesus não se delonga no conteúdo da mensagem a pregar, mas entra sobretudo nos detalhes sobre “como” devem mostrar-se os enviados e os anunciadores. (…) Mansidão e sobriedade devem ser o estilo do enviado, porque a missão não é conquistar almas, mas ser sinal eloquente do Reino de Deus que vem, entrando numa relação com aqueles que são os primeiros destinatários do Evangelho.

Para Jesus, o testemunho de vida é mais decisivo que o testemunho da palavra, ainda que não tenhamos ainda compreendido isto. Nos últimos trinta anos falámos e falámos de evangelização, de nova evangelização, de missão, mas dedicámos pouca atenção ao “como” se vive aquilo que se prega. Estamos sempre empenhados em procurar como se prega, detendo-nos no estilo, na linguagem, em elementos de comunicação, sempre empenhados em procurar novos conteúdos da palavra, mas negligenciámos o testemunho da vida. Os resultados são legíveis, sob a marca da esterilidade.

Atenção, porém: Jesus não dá diretivas para que as reproduzamos tal e qual. Nenhum idealismo romântico, nenhum pauperismo lendário, já demasiado aplicado ao “semelhantíssimo a Cristo” Francisco de Assis, mas um estilo que permita olhar não tanto para o anunciador como modelo que deve desfilar e atrair a atenção, mas que aponte para o único Senhor, Jesus.

Trata-se de um estilo que deve exprimir, antes de tudo, descentramento: não dá testemunho do missionário, da sua vida, da sua ação, da sua comunidade, do seu movimento, mas testemunha a gratuidade do Evangelho, a glória de Cristo.

Um estilo que não se fia nos meios que possui, antes os reduz ao mínimo, para que estes, com a sua força, não obscureçam a força da palavra do “Evangelho, poder de Deus». (…)

Um estilo que aceita aquela que talvez seja a maior prova para o missionário: o fracasso. Tanto cansaço, tantos esforços, tanta dedicação, tanta convicção… e no fim, o fracasso. É o que Jesus experimentou na hora da paixão: só, abandonado, sem os discípulos e sem ninguém que cuidasse dele. (…)

O que é determinante, hoje mais que nunca, não é um discurso, ainda que bem feito, sobre Deus; não é a construção de uma doutrina requintada e expressa racionalmente. Não, aquilo que é determinante é viver, simplesmente viver com o estilo de Jesus, como Ele viveu: simplesmente ser pessoas como Jesus foi pessoa entre nós, dando confiança e instilando esperança, ajudando os homens e as mulheres a caminhar, a reerguer-se, pedindo a todos que compreendam que só o amor salva e que a morte deixou de ser a última palavra.

Nós, cristãos, deveríamos interrogar-nos sempre: vivemos o Evangelho ou proclamamo-lo com palavras sem nos darmos conta da nossa esquizofrenia entre palavra e vida?

 

Enzo Bianchi
In Altrimenti, em 09.07.2021
CategoryDiocese, Pastoral

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