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Festa da Natividade da Bem-Aventurada Virgem Maria

 

O nascimento da Bem-Aventurada Virgem Maria encheu de alegria e de esperança a terra inteira. Tornou-se um momento único e significativo à luz da fé para a história da humanidade e da Igreja.  O seu nascimento no contexto bíblico da história da salvação, enche de esperança messiânica o povo de Israel, que contempla em Maria de Nazaré a ilustre filha de Sião e a honra do povo de Israel.

Da Virgem santa e imaculada, segundo a profecia de Isaías devia nascer o Salvador do mundo. Alegremo-nos, pois com o nascimento da Virgem Santa Maria e exultemos de júbilo por Deus a ter escolhido para ser a Mãe de Jesus, o Salvador do Mundo. Como nos lembra uma antífona da Liturgia, que canta de modo singular a beleza e o mistério da Virgem Santa Maria. “Felizes as entranhas da Virgem Maria, que trouxeram o Filho do Eterno Pai”. Era preciso que do lar de São Joaquim e de Santa Ana, nascesse uma menina ornada de virtudes, a quem foi dado o nome de Maria, que foi escolhida por Deus para ser cheia de graça e de beleza divina, pois d`Ela havia de nascer o autor da vida, Jesus Cristo.

A Natividade de Maria é para nós um motivo de alegria, de esperança e de festa. Na verdade, quando nasce uma criança o   mundo fica mais rico e a família recebe uma dádiva de Deus, um presente precioso de valor incalculável para a humanidade.

A vida humana é um dom de Deus confiada aos pais como um tesouro precioso que deve ser cuidado e estimado. São João Paulo II no Evangelho da Vida afirmava: “A vida humana é sagrada, porque, desde a sua origem, supõe “a ação criadora de Deus” e mantém-se para sempre numa relação especial com o Criador, seu único fim. Só Deus é senhor da vida; desde o princípio até ao fim, ninguém em circunstância alguma, pode reivindicar o direito de destruir diretamente um ser humano inocente”. Com estas palavras, a Instrução Donum Vitae expõe o conteúdo central da revelação de Deus sobre a sacralidade e inviolabilidade da vida humana” (EV 53).

Quero dar graças a Deus convosco, por neste dia subirmos a este lugar, a este monte, para celebrar solenemente esta liturgia eucarística e saborear as maravilhas da fé, contemplando so mistérios da vida de Jesus e de Maria. Diante da veneranda imagem de Nossa Senhora do Castelo, que desta cidade de Mangualde atrai a este santuário tantos fiéis, tantos peregrinos, dos mais diversos lugares destas terras da Beira, para aqui refazer as suas forças, agradecer imensos favores, rezar e pedir a graça de Deus, que nos concede a saúde da alma e do corpo.

Venerada pelos fiéis ao longo de tantas gerações, mostra-nos o seu amor de Mãe nesta sua casa onde nos convida a olhar com esperança para o futuro da humanidade. Deste lugar altaneiro podemos vislumbrar com fé e gratidão a meta, que é o próprio Cristo que nos convida a subir ao monte santo da salvação. Neste lugar abençoado por Deus, contemplamos o céu, a nossa pátria definitiva, aspiramos às coisas do alto. Aprendamos a olhar para Maria, a cheia de graça, que nos convida a caminhar juntos pela estrada da santidade em comunhão, participação e missão.

À luz da Palavra de Deus, que escutámos, exultemos de alegria no Senhor e celebremos com fé o nascimento da Virgem Santa Maria, da qual nasceu o Sol da justiça, Jesus Cristo, nosso Deus. Na primeira leitura o profeta Miqueias anunciava um tempo novo: “De ti, Belém-Efratá (…), sairá aquele que há-de reinar sobre Israel. Por isso Deus os abandonará até à altura em que der à luz aquela que há-de ser mãe (Mq 5,1-4). O seu filho se levantará para apascentar o seu rebanho pelo poder do Senhor. Nesses dias marcados pela esperança messiânica surgirá um tempo novo. “Viver-se-à em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz” (Cf Mq 5,1-4ª). Na carta aos Romanos São Paulo diz-nos, “que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam, dos que são chamados, segundo o seu desígnio” (Rom 8,28). Deus no seu mistério insondável de amor conhece-nos, predestinou-nos, chamou-nos e justificou-nos pela morte de seu Filho para participarmos da sua glória.

O Evangelho de São Mateus relata a Genealogia de Jesus e o modo como Maria de Nazaré foi escolhida para ser a Mãe de Jesus. Descreve o nascimento de Jesus e fala do modo como José acolheu Maria como sua esposa. “José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que n`Ela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu pôr-lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados” (Mt 1,18-22). Em Maria de Nazaré a Igreja encontra o seu modelo maternal e também o caminho para a meta. “Por Maria a Jesus” (São Luís Monforte). “Totus Tuus Maria” (São João Paulo II).

Peçamos a Maria “Estrela da Manhã”, que nos ajude a caminhar neste tempo novo de renovação pessoal e eclesial. O sínodo que estamos a viver convida-nos a olhar para Maria, a mulher cheia do Espírito Santo, que na grandeza da sua vida mostra a beleza da harmonia de Deus. No caminho sinodal precisamos de imitar as virtudes e a espiritualidade de Maria, para servirmos como Ela em fidelidade o nosso Deus e os nossos irmãos.

Caríssimos cristãos, peregrinos de Nossa Senhora do Castelo, desafio-vos a abrir o vosso coração ao Espírito Santo, o primeiro agente da sinodalidade da Igreja. Imitemos Maria no serviço a Deus e à Igreja, celebremos o seu nascimento e prestemos homenagem a todas as crianças, que nasceram e são felizes, porque encontraram uma família e um mundo que as acolheu. Alegremo-nos com todas as mães, que esperam os seus filhos e vivem o seu nascimento como um momento alto da sua maternidade. Entrego no coração de Deus e de Nossa Senhora todas as crianças que não chegaram a nascer e não foram desejadas e amadas pelas suas famílias.

Muitas crianças nascem ainda hoje, mas não são bem recebidas pelos pais, pela família e são vítimas de maus tratos, de abusos e violências e muitas são eliminadas por genocídios, ou morrem vítimas da fome, da guerra, da perseguição e até do abandono. Amemos a vida e sejamos promotores de uma cultura de vida sadia para todas as crianças que nascem. Diante do mistério do nascimento e da vida da Bem-Aventurada Virgem Maria, vislumbremos um projeto de vida e de serviço, que diz respeito a todos os cristãos e a todas as pessoas de boa vontade. Somos a favor da vida. Defendemos a vida desde o momento da conceção até à morte natural.  A vida e o exemplo de Maria ilumina a profundidade do nosso ser, a nossa interioridade e intimidade e exorta-nos no testemunho da fé, liberta-nos da escravidão do pecado e ensina-nos a servir com caridade o nosso próximo. Faz bem à Igreja contemplar Maria de Nazaré, enquanto criança que nasce e cresce feliz no seio de uma família humana, envolvida num projeto de amor e de graça divina, que fez dela Imaculada na sua Conceição. Foi em virtude do desígnio de Deus, escolhida na plenitude dos tempos para ser a Mãe do Salvador.

Maria viveu este estilo de vida numa relação profunda com Deus, acolhendo o Seu Filho com o seu “Sim” na Anunciação, na Visitação com o “Magnificat” canta, exulta, louva e serve a sua prima Isabel, oferece-lhe o Seu Filho, que vai nascer no presépio em Belém, como Salvador do mundo. Maria é a mulher orante por antonomásia, Ela medita todas estas coisas no seu coração. No templo de Jerusalém oferece Jesus ao Pai e toma consciência de que Ele é verdadeiramente o filho de Deus, que deve ocupar-se das coisas de seu Pai. Na vida oculta da casa de Nazaré ensina Jesus a viver com alegria a dimensão da família, da oração e do trabalho na submissão à vontade do Pai. Na vida pública de Jesus aparece como a verdadeira discípula que escuta a palavra de Deus e a põe em prática.

No Calvário, quando Jesus “agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural” (LG 61). Aí manifesta a sua Maternidade Espiritual aceitando ser a Mãe dos discípulos de Seu Filho, que acompanha na terra em cada momento da sua vida com ternura, oração, proximidade, piedade e compaixão. Na verdade Maria continua hoje ainda a cuidar, “com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada” (LG 62).

A Virgem Maria é verdadeiramente feliz porque faz a vontade de Deus cuidando de Jesus. Agora no Céu Ela continua a cuidar de todos nós, para que os cristãos frequentando a Escola de Maria, modelo de graça, de oração, de virtude, de santidade e de serviço, aprendam a imitar o seu exemplo de vida de modo que nos ajude a superar as dificuldades da vida. Muito temos a aprender com Maria de Nazaré, a Mãe de Jesus, a mulher que nos inspira a fazer o caminho sinodal na comunhão, participação e missão. Ela é a criança que nasce cheia de graça, a Mulher e a Mãe cheia de Deus, o “Catecismo Vivo” (S. Paulo VI), no qual devemos aprender as verdades da fé, para fazermos o verdadeiro encontro com Jesus Cristo, de modo a segui-Lo como “discípulos missionários”. Maria de Nazaré torna-se o rosto visível das profecias messiânicas, nasce por desígnio do Criador envolvida em dons sobrenaturais da família de Joaquim e Ana, verdadeiros membros do povo de Israel, que educaram a sua filha de modo a que Deus a chamasse para ser através do seu sim generoso, a mãe de Jesus. Na verdade, Ela é a “Virgem que conceberá e dará à luz um filho, o Emanuel, o Deus-Connosco”.

Neste dia em que se celebra a festa da Natividade de Nossa Senhora, quero dar-lhe os parabéns, agradecer a Deus o dom de estarmos aqui na sua Casa, para ouvir as suas palavras maternas e escutar como filhos a sua mensagem de esperança. “Fazei tudo o que Jesus vos disser” (Jo 2, 5). Que Nossa Senhora console todas as mães que acompanham com fé os seus filhos. Proteja as famílias, as crianças, os jovens, os recém-casados, os divorciados, as viúvas, os idosos, os doentes, os presos, os refugiados e os pobres. Confiemos à Virgem Maria todos os problemas da nossa vida, do nosso mundo e as necessidades da Igreja e dos cristãos.

Ao olharmos para Maria fixemos nela o nosso olhar, escutemos o Seu Filho Jesus, deixemo-nos guiar por Ela, contemplemos o seu rosto materno e cheio de luz, invoquemos a sua proteção maternal, balbuciando os títulos de Advogada, Corredentora, Auxiliadora, Medianeira, Consoladora, Protetora, Ajuda, Socorro  e Mãe de Misericórdia. “Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre todos os perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada” (LG 62). A Virgem exaltada por todos os anjos e santos, intercede junto de Jesus por todos os seus filhos que ainda peregrinam na terra.

Como lembra o Papa Francisco “sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto. Nela, vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentir importantes. Fixando-a, descobrimos que aquela que louvava a Deus, porque derrubou os poderosos de seus tronos e aos ricos despediu de mãos vazias (Lc 1, 52-53), é a mesma que nos dá o calor maternal na busca da justiça (…). É contemplativa do mistério de Deus no mundo, na história e na vida diária de cada um de nós e de todos. É a mulher orante e trabalhadora em Nazaré, mas é também nossa Senhora da prontidão, a que sai à pressa (Lc 1,39) da sua povoação, para ir ajudar os outros. Esta dinâmica de justiça e ternura, de contemplação e de caminho para os outros faz dela um modelo eclesial para a evangelização” (EG 288). É esta imagem de criança, de jovem, de mulher e de mãe, que deve estimular os nossos jovens a levantarem-se como Maria, a porem-se a caminho, tomando-a como modelo para partir e servir os irmãos. Esta é a dinâmica para os jovens viverem de modo a poderem participar nas Jornadas Mundiais da Juventude em agosto de 2023 em Lisboa.

Façamos todos este caminho espiritual com grande alegria e consolação, com fervor e devoção, recorrendo à poderosa intercessão da bem-aventurada Virgem Maria, para lhe pedirmos o fim da pandemia, do flagelo da guerra na Ucrânia, de tantas formas de violência e conflitos no mundo, de tantas situações de pobreza, de fome e de miséria, para que liberte do sofrimento os doentes, conceda o dom da chuva aos nossos campos e dê à Igreja um tempo de paz e de esperança pascal. Nossa Senhora do Castelo intercedei por nós, concedei-nos a vossa graça e dai-nos a “Alegria do Evangelho” (EG 1), vós que sois a Rainha da Paz. Ámen!

 

Mangualde, Santuário de Nossa Senhora do Castelo, 8 de setembro de 2022

† António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu
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