Observatório Pastoral
Aconteceu 29 de agosto a 1 de setembro de 2022 o Simpósio do Clero de Portugal sobre o tema “Identidade Relacional e Ministério Sinodal do Presbítero”, e sob o apelo para uma identidade de cristãos e pastores capazes de caminhar juntos, em comunhão e fraternidade, em sinodalidade.
Duas foram as “faces” deste Simpósio: a primeira levou-nos a considerar a identidade do ministério ordenado a partir do Concílio Vaticano II, recebido como dom de fundação cristológico-trinitária, de modo que somos chamados constantemente a ampliar a nossa visão para evitar de reduzir a nossa compreensão da Igreja a estruturas e papéis funcionais. A identidade do presbítero, por isso, depende em primeiro lugar da dimensão relacional com Deus, em que a oração aparece não como atividade alienante das pessoas que o padre é chamado a acompanhar, mas integrador, porquanto é na oração que ele leva a Deus as alegrias e angústias da humanidade de hoje e traz dela as inspirações para poder traduzir-lhe Deus neste tempo. A identidade presbiteral desenrola-se, depois e necessariamente, através da dimensão interpessoal, onde se sublinharam duas tarefas: a pregação e a cura, sempre presentes na vida e ação de Jesus, e a partir de onde Ele sempre envolveu os seus Apóstolos.
Pregar e cuidar exige sempre a sensibilização, o discernimento e a preparação/formação de candidatos que acolham a possibilidade livre de viver o serviço como uma experiência saudável, que compreenda o celibato não como rejeição da afetividade, mas numa vivência afetiva madura capaz de estabelecer relações sinceras, autênticas e profundas. De facto, hoje como sempre, viver o ministério na relação com os outros, implica: ser autêntico; não ter agendas escondidas; ser investidor em autonomia, maturidade, independência e responsabilidade.
A outra “fase” desta mesma identidade do presbítero foi o ministério sinodal, quer considerado a partir do sacramento da Ordem, quer visto na relação com os outros estados de vida. Refletiu-se que, para não se cair no clericalismo, é preciso passar de uma Igreja demasiadamente centrada sobre a autoridade e a ação do clero, a uma Igreja sinodal e missionária, em comunhão e com a participação ativa de todos os seus membros. Uma Igreja sinodal é uma Igreja que escuta, abrindo, antes de mais, o coração e a mente ao Espírito Santo, diante da Palavra de Deus e dos desafios que a humanidade vive hoje. A sinodalidade insere-nos numa nova etapa da receção do Concílio Vaticano II. Interpretar o ministério do padre à luz da sinodalidade implica aceitar esta como “gémea” da própria vocação presbiteral no seio e na missão da Igreja. Por isso, para uma melhor vivência, requer-se o discernimento contínuo, à luz do Espírito Santo.
A partir de testemunhos vivos, foi-nos lembrado que o sacerdócio é um dom profético de Deus ao serviço da humanidade, acolhido em homens concretos que aceitam viver a contemplação e a ação de forma coerente. Não se querem padres ativistas laicos nem padres preguiçosos sempre de terço na mão. Pode-se revisitar a história destes simpósios e a partilha de conteúdos no sítio da Internet: http://ecclesia.pt/cevm