Observatório Pastoral
Quando alguém bate à porta da Igreja para pedir um sacramento – «Que pedis à Igreja de Deus?» – espera da nossa resposta uma série de procedimentos administrativos, talvez com reuniões à mistura, etapas obrigatórias de preparação.
A sensação que parece habitar o coração e as conversas de muitos situa-se dentro do registo da obrigação. Parece imperar a lógica da prestação de serviços: aceitam-se os requisitos (mínimos) obrigatórios, a fim de obter determinado serviço.
Dos sacramentos, porém, não deveria nascer a Igreja? Não estaremos a tentar catequizar quem nem sequer está evangelizado? Presumimos – sem julgar – um certo nível de fé e de discipulado em quem pede um sacramento? Trabalhamos ainda na lógica de transmissão de informação e não de transformação e conversão? (…)
Convicto de que é, para nós, uma «santa insatisfação», se queremos resultados diferentes precisamos de novas ações e para que elas aconteçam impõe-se uma nova mentalidade. Isto «implica a assunção daquilo que o Papa Francisco invoca, já há tempos, como “conversão da mentalidade pastoral”, ou seja, como disponibilidade para rever em profundidade as modalidades mediante as quais os crentes alcançam, com a sua proposta de fé, os homens e mulheres do seu tempo. A mentalidade pastoral atualmente em vigor já não é capaz de garantir tal resultado e já não é possível – prossegue o Papa Francisco – pensar na sua simples reparação ou numa sua modificação marginal. É hora de uma mudança radical» (Armando Matteo, Converter Peter Pan). (…)
Hoje, podem ser menos as pessoas que batem à nossa porta para pedir um sacramento; mas continuam a procurar a Igreja. Podemos questionar se o desejo de quem pede um sacramento coincide com o desejo da Igreja: «O que pedis à Igreja de Deus?».
O padre James Mallon, no livro Renovação Divina, apresenta uma proposta que pretende desligar determinados automatismos sacramentais que envolvem, de forma particular, a festa da Primeira Comunhão e o sacramento da Confirmação.
O autor aponta um princípio pastoral: é essencial que aqueles que batem à nossa porta sejam bem acolhidos, com braços abertos e amor, não interessa quanto é limitada a sua fé ou a compreensão daquilo que estão a pedir. O nosso ponto de partida é nunca dizer «não» a qualquer pedido de sacramentos. Dizê-lo seria cortar qualquer possibilidade de conversão.
O que significa dizer (sempre) sim? Mais do que a marcação da data, alguns papéis e uma rápida preparação, o nosso «sim» é uma incondicional vontade de caminhar com quem pede os sacramentos até que esteja pronto para os celebrar. A proposta – mais do que um curso, é um caminho de conversão – há-de ser acompanhada de uma clara definição do que significa «estar pronto». (…)
Queremos fazer discípulos. Vamos implementar modelos que nos separem e um sistema baseado em questões de idade e de recompensa, para passar a momentos de autêntica celebração da fé, no coração da comunidade cristã.