Observatório Pastoral
O término da caminhada terrena do papa Bento XVI, unida a uma série de perdas ao longo do ano de 2022, deveria ser um convite à reflexão da humanidade. Muitas foram as figuras da história mundial a desaparecer durante o ano de 2022 e com uma conotação marcadamente macabra pode afirmar-se que se fecha o ano com “chave de ouro”.
O papa Bento XVI foi, e continua a ser, um marco fundamental na história da Igreja na segunda metade do séc. XX e no início deste séc. XXI. Contudo dever-se-ia dizer que não é apenas um marco da história da Igreja mas da história da humanidade no seu todo, já que o seu pensamento andou intimamente unido a todas as revoluções e momentos de indecisão da vida da humanidade todo este período histórico. De um jovem teólogo revolucionário que conduziu o Concílio Vaticano II a um período novo na vida da Igreja, na busca da comunhão com o passado e no regresso às fontes primordiais, ao caminho de sistematização da fé como âncora e tesouro vida da Igreja, à vivência do ministério petrino convidando a uma olhar interior e reflexivo que conduzisse ao encontro transformante com a pessoa de Cristo Jesus. No meio de todo este caminho pode-se dizer que o seu sentido era sempre o mesmo e sua busca interior era pautada por um horizonte de verdade, de quem se dizia simplesmente cooperador, como claramente afirma o seu lema episcopal.
Joseph Ratzinger, para além de ser o papa Bento XVI, apresenta-se à história universal como um homem de uma inteligência única e notável, capaz de abarcar tantas matérias do pensamento e do conhecimento, contrastando com a quase imbecilidade que grassa do mundo hodierno. Num mundo de Facebook’s, Tik Tok’s, Instagram’s, onde parece ser tão fácil saber tudo ou chegar a todo o lado e não se chega ao mais importante, ao interior de si mesmo, construindo-se uma vida que mais parece uma casa de telhado e fachada mas sem alicerces sérios e profundos na corrente existencial, a redescoberta de um homem, e dos seus escritos, que teve como grande sonho e objetivo olhar para o mundo com a profundidade que a vida exige, no rigor de quem deseja verdadeiramente ver o belo e o verdadeiro como caminhos que saciam e preenchem o vazio interior do ser humano.
Se o ministério do Papa Francisco é marcado por gestos significativos e pela ação vigorosa de um Cristo que se deseja sempre jovem, o ministério de Bento XVI é marcado pela simplicidade e profundidade das palavras que conduzem a uma reflexão profunda da pessoa de Cristo, percebendo que a ação vigorosa somente terá reflexo a partir de um encontro constante com o verdadeiro, o bem, o justo e o belo, já que, apesar de esquecidos ou banalizados, os pensadores clássicos tinham em si as genuínas interrogações do ser humano.
Em suma, por muitos conhecimentos que se tenham, por muitas conquistas, técnicas ou científicas, que a humanidade alcance, nunca se pode esquecer que o mais difícil está feito e caminhamos com horizontes tão largos como são enormes os gigantes sobre os quais nos erguemos.