Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Louvai o Senhor nos seus Santos

Reunimo-nos, movidos pela fé, esperança e caridade, para louvar e bendizer o Senhor na celebração da Eucaristia, na solenidade de São Teotónio.

Louvar o Senhor que nos convida a percorrer caminhos de santidade, imitando as virtudes heroicas de São Teotónio. A santidade é a essência do próprio Deus, que pela graça do Espírito Santo é derramada nos nossos corações. Na primeira leitura, Ben-Sirá lembra-nos que o homem humilde encontra sempre graça diante do Senhor. “Filho, em todas as tuas obras procede com humildade e serás mais estimado que o homem generoso” (Sir 3,19). Por ser grande o poder do Senhor, os santos e os humildes cantam a sua glória eternamente.

O Senhor faz-nos hoje de novo o convite: “Sede santos como o Senhor vosso Deus é santo”. A santidade é um atributo divino que brota das fontes da salvação e nos é comunicada pela graça do Espírito Santo.

Jesus explicou com simplicidade o que é ser santo, quando proclamou no monte as Bem-aventuranças (cf. Mt 5,3-12), apresentando-as como o bilhete de identidade do cristão. “A palavra ‘feliz’ ou ‘bem-aventurado’ torna-se sinónimo de ‘santo’, porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade” (GE 64). No monte Jesus começou a pregar dizendo:

  1. “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu” (Mt 5,3). O Evangelho convida-nos a reconhecer a verdade do nosso coração, para ver onde colocamos a segurança da nossa vida. Configuremo-nos a Jesus, que “sendo rico Se fez pobre” (2Cor 8,9). “Ser pobre no coração: isto é santidade” (GE 70).
  2. “Felizes os mansos, porque possuíram a Terra” (Mt 5, 5). Esta é uma frase forte no mundo que, desde o início, é um lugar de inimizade, onde se litiga por todo o lado, onde há ódio em toda a parte, onde constantemente classificamos os outros pelas suas ideias, os seus costumes e até a sua forma de falar ou vestir. Em suma, é o reino do orgulho e da vaidade, onde cada um se julga no direito de elevar-se acima dos outros (cf. GE 71). Vivamos com humildade e mansidão uns com os outros: isto é santidade.
  3. “Felizes os que choram, porque serão consolados” (Mt 5,4). Perante as dores e os sofrimentos do nosso mundo, aprendamos a chorar com os que choram por toda a espécie de problemas pessoais, familiares e sociais. Quantas situações dolorosas nos nossos dias de tanta gente sofre horrivelmente e chora na aflição. “Chorai com os que choram” (Rm 12,15). Saber chorar com os outros: isto é santidade.
  4. “Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5,6). Fome e sede são duas experiências muito dolorosas que hoje fazem parte da vida de muitos dos nossos irmãos. “Procurai o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei justiça aos órfãos, defendei as viúvas” (Is 1,17). Buscar a justiça com fome e sede: isto é santidade.
  5. “Felizes os misericordiosos, porque alcançaram misericórdia” (Mt 5,7). “A misericórdia tem dois aspetos: é dar, ajudar, servir os outros, mas também perdoar e compreender” (GE 80). São Mateus resume isto numa regra de ouro: “O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles” (Mt 7,12). Olhar o outro e agir com misericórdia: isto é santidade.
  6. “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” Mt 5,8). Quando o coração ama a Deus e ao próximo, afirma que “esta bem-aventurança diz respeito a quem tem um coração simples, puro, sem imundície, pois um coração que sabe amar não deixa entrar na sua vida algo que atente contra o amor, algo que o enfraqueça ou coloque em risco. “Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor: isto é santidade” (GE 86).
  7. “Felizes os construtores da paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 9,10). Esta bem-aventurança faz-nos pensar nas numerosas situações de guerra e conflitos que se vivem na Ucrânia e em tantos países martirizados do mundo, onde o ódio, a violência, a fome, as violações e a morte são um cenário constante em cada dia. O mundo das murmurações, feito por pessoas que se dedicam a criticar e destruir, não constrói a paz. Os pacíficos são fonte de paz. “Semear a paz ao nosso redor: isto é santidade” (GE 89).
  8. “Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu” (Mt 5,10). A cruz de cada dia, as provações, as fadigas e os sofrimentos que suportamos para viver o mandamento novo do amor e o caminho da justiça são fonte de luz e amadurecimento na estrada da santidade. “Abraçar diariamente o caminho do Evangelho, mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade” (GE 94).

Abraçar o caminho de Jesus o Mestre da sinodalidade é uma bem-aventurança, alegremo-nos por isso com São Teotónio. “O caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja no terceiro milénio” (Papa Francisco).

Jesus dá-se a conhecer a quem Ele quiser no caminho da Cruz. “Quem quiser seguir-Me, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia e siga-me” (Mt 16,24). Paulo, na carta aos Coríntios, afirma: “Irmãos, a linguagem da Cruz é loucura para aqueles que estão no caminho da perdição, mas poder de Deus para aqueles que seguem o caminho da salvação” (1Cor 1,18).

São Teotónio seguiu o caminho da Cruz e aprendeu o que significa encontrar Jesus, abraçar o crucificado e dar a vida por Ele. Façamos nós também o mesmo em cada dia e seremos felizes. São Paulo ensina-nos o modo como somos chamados a testemunhar a nossa identidade cristã: “Quanto a nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (1Cor 1, 23).

Caríssimos sacerdotes, diáconos, consagrados, seminaristas, leigos e autoridades, peçamos a São Teotónio a graça de Cristo crescer na nossa vida, para em nós se manifestar o poder de Deus e a sabedoria de Deus.

O mundo atual tem dificuldade em compreender a linguagem da Cruz, o estilo de vida daqueles que deixam tudo para seguir Jesus. São Teotónio aponta-nos cinco pontos importantes para a vida dos presbíteros, diáconos, consagrados e leigos: primeiro, viver a vocação aceitando as contrariedades e sofrimentos da vida; segundo, aprender a levar a cruz com paciência e humildade; terceiro, acolher com espírito de fé e mansidão os irmãos; quarto, viver a vida espiritual com alegria e sentido de humor; quinto, testemunhar a santidade cristã com ousadia (parrésia) e ardor.

Em oração constante pelo nosso povo, entreguemos ao Senhor, por intercessão de São Teotónio, as intenções e necessidades da Igreja e do mundo. Rezemos pelas crianças, os adolescentes, os jovens, as famílias, os doentes, os pobres, os vulneráveis e todas as vítimas de abuso sexual na Igreja ou com violência doméstica. Condenemos o crime hediondo dos abusos sexuais de crianças menores na Igreja, cuidemos das vítimas com amor e justiça. Trabalhemos e rezemos todos pela prevenção de tão grandes males e para que a Igreja Católica seja sempre um lugar seguro para todos.

São Teotónio nasceu por volta do ano 1082, no século XI, em Ganfei, território de Valença do Minho onde recebeu as primícias da sua instrução escolar no mosteiro ali existente. Veio para Viseu, onde fez a sua formação sacerdotal, e em 1110 terá sido nomeado Prior da Sé de Viseu pelo Bispo de Coimbra e a pedido do clero e do povo, que lhe reconheciam qualidades e virtudes cristãs. Por isso muito o estimavam.

“A elevada conduta moral e ética que o seu biógrafo lhe atribui, aliada ao zelo pastoral, à prudência, à ponderação do seu carácter, bem como ao cumprimento das regras eclesiásticas não terão passado despercebidas aos seus companheiros viseenses, nem ao Bispo conimbricense. Esta postura na vida e na religião permitiram-lhe não só o reconhecimento dos seus pares como a admiração das populações, o que teria justificado a sua nomeação como prior da Sé de Viseu, numa idade ainda tão jovem” (cf. HDV, I p.284).

O pouco tempo que foi prior na Sé de Viseu marcou de forma indelével e perene a vida eclesiástica da Diocese de Viseu. O seu testemunho como sacerdote impressionava a todos, depois de ter regressado a Viseu da peregrinação que fez à Terra Santa. É notícia a Missa que celebrava na Igreja de São Miguel Arcanjo às sextas-feiras. “No final promovia a distribuição de bens pelos mais pobres”.

Inspirado por uma grande devoção a nossa Senhora, a convite de D. Telo, juntamente com outros clérigos, fundam o Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, no Verão de 1131. Foi o seu primeiro Prior. Morreu a 18 de fevereiro de 1162, tendo sido sepultado na capela do mosteiro. Em 1163, um ano após a sua morte, o Papa Alexandre III canonizou-o, assistindo à cerimónia o arcebispo de Braga D. João Peculiar.

Quero neste dia agradecer a Deus o dom da vida e Ministério Episcopal de Sua Excelência Reverendíssima o Senhor D. Ilídio Pinto Leandro, tendo presente que no dia 21 ocorre o terceiro aniversário da sua morte. Quisemos hoje fazer memória e gratidão da sua vida, colocando na Galeria dos Bispos na Casa Episcopal um retrato com a sua pintura. Foi um gesto sinodal em caminho de santidade para agradecer a Deus o serviço prestado à Igreja e aos irmãos.

Também nesta celebração os nossos Diáconos Permanentes, acompanhados pelas suas esposas e filhos, farão dentro de momentos a renovação das promessas diaconais. Que Deus os ajude e fortaleça na caminhada diaconal ao serviço de Deus, da Igreja e do seu povo.

Agradeço a presença de todos, das autoridades, das famílias, dos grupos e dos profissionais da Comunicação Social.

Imploremos de São Teotónio a proteção e o entusiasmo para os nossos jovens em caminho sinodal rumo à Jornada Mundial da Juventude em Lisboa. Rezemos pelas famílias de acolhimento e por todos os jovens e animadores que escolheram a nossa Diocese para as Pré-Jornadas. Que São Teotónio fortaleça os membros do Secretariado Diocesano da Juventude e do COD para que levem a bom termo a sua missão. Aproveitemos esta oportunidade que Deus está a oferecer à Igreja em Portugal, para empreender um caminho de renovação pela estrada da santidade.

Que São Teotónio, nosso padroeiro, continue a ser nosso intercessor junto de Deus, pedindo as maiores graças e bênçãos para todos os que vivem, estudam, trabalham e testemunham a fé na Diocese de Viseu.

Solenidade de São Teotónio, 18 de fevereiro de 2023

+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu

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