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Observatório Pastoral

 

O corpo também reza. Apesar de uma redutora perceção, assaz difundida e assumida, segundo a qual orar e celebrar a fé requerem a simples disposição da mente, do coração, do intelecto, é inquestionável que a pessoa humana tem necessidade de expressar os seus sentimentos, mais intensos e profundos, ou vulgares, emocionais ou religiosos, o seu estado de alma, a sua fé, com gestos, movimentos, palavras, posturas, cantos, silêncios, numa unidade que vincula espiritualidade e corporeidade. Todas as dimensões do ser humano influem e interagem na expressão da fé, na oração, individual ou litúrgica.

Nos inícios do séc. XX, registava Romano Guardini (1885-1968) – filósofo, teólogo de referência, ultimamente redescoberto e revalorizado, sobretudo por Bento XVI e Francisco: «A liturgia é um mundo de realidades misteriosas e santas, tornadas presentes de forma sensível…» (in Sinais Sagrados). Esta intuição foi retomada pelo concílio Vat. II: «Para fomentar a participação ativa, promovam-se as aclamações dos fiéis…as ações, gestos e atitudes do corpo» (SC 30). É imprescindível, para que tal suceda, uma educação litúrgica, não somente o ensino académico, a formação para a liturgia, mas uma aprendizagem adquirida na experiência litúrgica, a formação pela liturgia, que conduz à participação plena, ativa e consciente, através de sinais, de palavras, de gestos corpóreos,

É, portanto, todo o corpo que celebra, o que supõe suma adequada educação quanto ao modo como expressamos com o corpo a fé cultual. Nesse sentido, é esclarecedor e pertinente o que refere a Instrução Geral do Missal Romano, ‘vademecum’ para a compreensão e vivência da Eucaristia, válida em toda a ação litúrgica: «Os gestos e as atitudes corporais, tanto do sacerdote, do diácono e dos ministros, como do povo, visam conseguir que toda a celebração seja bela e de nobre simplicidade, que se compreenda a significação verdadeira e plena das suas diversas partes e se facilite a participação de todos» (IGMR 42).

Não pretendendo ser exaustivos quanto aos diversos membros do corpo humano na oração litúrgica, dêmos o exemplo das mãos – não só do sacerdote, mas de todos os participantes – parte do corpo a que, habitualmente, não atribuímos especial significado, além do mero funcionalismo. Contudo, as mãos, na sua capacidade expressiva, são fundamentais, desde o sinal da cruz inicial: «Em nome do Pai…», à bênção final. As mãos possuem uma linguagem própria, densa e rica. Com o rosto, as mãos constituem a parte mais espiritual do corpo.

O uso e postura das mãos constitui um prolongamento do íntimo do ser humano, consegue a fusão do corpo e espírito, com palavras ou sem elas, são um autêntico instrumento e espelho da alma. Mãos que benzem no sinal da Cruz, batem no peito, se elevam, mãos que se erguem, abrem e dão, se estendem e consagram, ungem, recebem… «quando te aproximas, faz da tua mão esquerda um trono para a tua mão direita, uma vez que esta deve receber o Rei. Recebe o Corpo de Cristo na concavidade da tua mão» (S. Cirilo de Jerusalém, séc. IV).

Bela linguagem, a da mão. Foi-nos dada por Deus, escreveu Pascal, «para nela trazemos a alma».

 

Pe. José Henrique Santos
CategoryDiocese, Pastoral

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