O respeito pela vida humana é algo de transversal em todos os códigos de orientação e conduta do ser humano desde a antiguidade, no Juramento de Hipócrates, na tradição judaico cristã, nos códigos de Ética, nas convenções Internacionais de Bioética e na Constituição da República Portuguesa, que no artigo 24 afirma: “A vida humana é inviolável”.
Está a decorrer a Semana da Vida, de 14 a 21 de maio de 2023, com o tema: “Levanta-te! A tua vida é um dom”, tendo como inspiração a mensagem das Jornadas Mundiais da Juventude, e convida-nos a refletir sobre a valorização da vida em toda a sua plenitude como dom de Deus, desde o momento da conceção até à morte natural.
São João Paulo II, com o seu ensinamento pontifício, promoveu, pregou e escreveu com muita clareza, frontalidade, verdade, veemência de carácter e firmeza o valor inviolável e sagrado da vida humana.
Foi uma voz que ao anunciar o “Evangelho da Vida” em todos os lugares e circunstâncias afirmava, que “não pode haver paz verdadeira, sem respeito pela vida humana”.
Estas palavras são hoje atualíssimas ao olharmos para o cenário de um mundo envolvido em situações dramáticas de guerra, violência, ódio, morte, destruição, descriminação racial, perseguição, injustiça social, fome e falta de trabalho digno para todos.
A vida humana está exposta a muitas vulnerabilidades que deveriam ser
objeto da nossa reflexão, para trabalharmos pela inclusão social dos mais pobres e desfavorecidos, pela integração na comunidade dos indefesos, dos frágeis, dos doentes e dos incuráveis. A vida humana é um valor que precisa de cuidadores a tempo inteiro, que nunca nos acusem por negligenciar a sua dignidade e longevidade natural.
Para tudo há um tempo próprio, para nascer, para viver e para morrer. Uma sociedade civilizada não precisa de recorrer a formas de extermínio da pessoa humana, mas com uma medicina científica e de cuidado, responder ao sofrimento mesmo quando nos parece desproporcional à vida. Ainda bem, que muita gente acredita e cumpre os princípios fundantes de uma medicina científica, humanista com princípios e valores éticos que se devem respeitar.
A primeira coisa que se pede a um médico, enfermeiro, farmacêutico, técnico de saúde ou familiar é que seja um cuidador com profissionalismo e com ética capaz de privilegiar a aplicação correta dos princípios da Beneficência, da Não Maleficência, da Autonomia e da Justiça. Perante os desafios da injustiça, um dilema ético e o discernimento de juízo valorativo diante da escolha do tratar, cuidar, paliar ou dar a morte a alguém, ou ajudar a morrer, o eminente professor de Ética e Bioética Diego Gracia, conhecedor do que acontecia nos países que aprovaram a lei da Eutanásia ou Suicídio Assistido, afirmou numa conferência em Lisboa no Centro de investigação Champalimaud, que era preciso fazer uma reflexão prudencial séria e profunda sobre um tema tão fraturante da nossa sociedade. Foi uma advertência, que penso que não lhe demos a devida atenção, por isso cientistas, médicos, enfermeiros, responsáveis das diversas Igrejas e o Papa Francisco tenham tido um pronunciamento de condenação da aprovação da lei da Eutanásia e Suicídio Assistido, pela Assembleia da República no passado dia doze de maio.
Estamos a celebrar a Semana da Vida e não a Semana da Morte, provocada ou assistida. Nós cristãos estamos do lado da vida em todas as suas etapas. Devemos promover a cultura da vida para morrer com dignidade e cuidados médicos e não com a prática da Eutanásia ou o Suicídio Assistido.
Aprendamos a lição! Quando não respeitamos a natureza, ela revolta-se contra nós. Quando não respeitamos a vida, ela fica ferida, magoada, desprezada, abandonada e mesmo destruída, geme, grita diante de um ato irracional que é alguém causar a morte direta a um outro ser humano. Destruir a vida, aniquilar o outro, o próximo, o amigo, o irmão, o marido, o filho, a filha, o pai, a mãe, o avô, a avó, o doente, o utente, o estrangeiro, o desconhecido, o vulnerável, o sem abrigo, é sempre um crime hediondo, que ofende o Criador e desrespeita a Casa Comum e a Vida.
Estamos a celebrar a “Semana da Vida” e somos convidados a promover uma “cultura da vida”, que respeite e dignifique todo o ser humano que habita o planeta.
Há leis que são contrárias ao amor de Deus e ao bem comum, comprometem a responsabilidade e a liberdade moral daqueles que as promovem.
Promovamos a condenação de todas as ações que atentam contra a dignidade da vida humana e que são dirigidas para destruir a vida desde o ventre materno até à morte natural, mesmo quando os sofrimentos e as vulnerabilidades da doença se tornam insuportáveis.
Nós somos a favor da vida e defendemos a dignidade e o cuidado qualitativo de toda a vida humana em todos os tempos e culturas.