A Eucaristia é a fonte e o centro da vida espiritual da Igreja.
O tema central deste dia, dedicado ao mistério do Corpo e Sangue de Cristo e ao culto Eucarístico, apresenta-nos Jesus como o alimento divino que se oferece no pão da Palavra e da Eucaristia. A Palavra fez-se Carne e Sangue de Jesus no mistério do Verbo Encarnado, no seio de Maria, para ser nosso alimento e nossa vida.
A solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, que hoje celebramos, tem como objetivo colocar diante de todos os cristãos o mistério da Santíssima Eucaristia, que Jesus celebrou e instituiu na última ceia com os apóstolos no Cenáculo.
Neste contexto, a Palavra de Deus ilumina o nosso caminho da fé e afirma que o Senhor nos chama a percorrer o caminho da salvação, como aconteceu com o povo de Israel. Moisés convidou o povo de Israel a recordar o tempo que, “durante quarenta anos no deserto”, Deus lhe fez “compreender que o homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor” (Dt 8, 3.14b). No deserto, Deus fez surgir da rocha dura a água viva e alimentou o seu povo, dando-lhe a comer o maná, o pão vivo descido do céu.
São Paulo, na Carta aos Coríntios, faz “memória” de Jesus na instituição da Eucaristia, na última Ceia, e ensina-nos que a celebração da Eucaristia é o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, mistério de “comunhão”, que no cálix de bênção nos oferece “o Sangue de Cristo” derramado por nós e nos oferece como alimento o Pão vivo descido do céu, o “Corpo de Cristo”, que partimos e comungamos na Eucaristia. “Fazei isto em memória de mim” (1 Cor 11.24-25).
A razão mais sublime da nossa vocação cristã está em viver em comunhão com Deus, celebrando unidos a Santíssima Eucaristia, até que Ele venha. Por isso o povo de Deus é chamado a fazer comunhão com Jesus na Eucaristia para nos tornarmos verdadeiramente o seu Corpo, pois a Eucaristia é sinal de comunhão e unidade: “embora sejamos muitos, formamos um só corpo, porque participamos do único pão” (1 Cor 10, 16-17).
O Evangelho apresenta Jesus a dizer à multidão: “Eu sou o pão vivo descido do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é a minha Carne pela vida do mundo”.
Jesus disse ainda: “Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei no último dia. A minha Carne é verdadeira comida e o meu Sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em mim e Eu nele” (Jo 6, 51-58).
Jesus é o Pão vivo descido do Céu que quer saciar a nossa fome e a nossa sede espiritual e dar sentido à razão de ser da nossa vida e da nossa fé cristã.
O Concílio Vaticano II explicitou: “O nosso Salvador instituiu na última Ceia, na noite em que foi entregue, o Sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue para perpetuar, pelo decorrer dos séculos até Ele voltar, o Sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é concedido o penhor da glória futura” (SC 47).
Jesus, o Pão Vivo descido do Céu, torna-se presença real no Santíssimo Sacramento em cada celebração da Eucaristia, da Missa em cada domingo e em cada dia, para alimentar a vida dos fiéis com a sua Palavra, e com o seu Corpo construir a Igreja, Corpo de Cristo. Jesus está presente na celebração da Eucaristia, continua presente na Hóstia Consagrada. No Pão eucarístico Jesus está vivo à nossa espera no sacrário.
Jesus entregou-se na Eucaristia para ser conhecido, amado e adorado.
Aproximai-vos frequentemente e com devoção de Jesus, o Pão Vivo descido do céu, o pão da Vida que dá força e alegria aos cristãos. Como os discípulos de Emaús, digamos a Jesus: “fica connosco”. Fazendo memória das maravilhas do Senhor, unidos na comunhão, aprendamos a viver com Ele e para Ele.
Na celebração da Missa ou no sacrário, Jesus permanece vivo no meio de nós. Devemos reconhecer Jesus “ao partir do Pão”. Ó Jesus, eu vos louvo e vos amo no Santíssimo sacramento.
Na celebração, adoração, ação de graças e louvor eucarístico ou na solene procissão de “Corpus Christi”, os cristãos tomam consciência de Jesus vivo presente na Santíssima Eucaristia.
Diante de Jesus Eucaristia, na sua presença, somos interpelados a esvaziar o nosso coração de tudo o que somos e temos. Somos convidados a adorar e amar para acolhermos o “maior dom do coração de Cristo” (São Paulo VI). Somos convidados a ficar diante de Jesus em oração e silêncio e dizer-lhe: hoje estou aqui diante de ti, mas eu não quero falar, não quero dizer nada, quero escutar as tuas palavras. Em todos os lugares, Deus está connosco para o “adorar em espírito e verdade”.
Você reza, reza, mas não muda; se a sua vida não muda é sinal de que a oração não está a ser bem feita. Tudo pode ser mudado pela força da oração, a oração é o atalho para a nossa vida mudar de rumo e percorrer o caminho da santidade e da transformação interior. “Quando o homem reza, algo muda nele e à sua volta” (Pedro Finkler).
Santa Teresa de Calcutá dizia: “Todos os dias fazemos a Exposição do Santíssimo Sacramento e verificamos uma enorme transformação na nossa vida. Sentimos um amor mais profundo a Cristo através do rosto sofredor que nos apresentam os pobres”. Esta mulher apaixonada por Jesus percebeu muito cedo que a Eucaristia, celebrada, comungada, vivida, adorada e testemunhada, era o segredo da sua própria santificação e das suas irmãs.
“As nossas vidas estão unidas a Jesus Eucaristia, e a fé e o amor que nascem daí permitem vê-lo no sofrimento dos pobres”. “A nossa Eucaristia é incompleta se não nos conduz ao serviço e ao amor aos pobres” (Santa Teresa de Calcutá). A Eucaristia é o Sacramento do amor e da caridade fraterna para com todos. “Servir os pobres, para servir a vida” de todo o ser humano em missão.
A Eucaristia é fonte de amor e força de evangelização.
Gostaria de recordar nesta Eucaristia o bom testemunho de tantos fiéis cristãos das comunidades paroquiais e religiosas da nossa Diocese que adoram o Senhor solenemente exposto no Santíssimo Sacramento, no Lausperene e no sacrário para reavivar o dom da fé.
Não estão hoje os cristãos a perder um pouco esta consciência eucarística, deixando de viver um tempo de oração, adoração e contemplação, diante de Jesus presente na Santíssimo Sacramento?
Devemos promover a prática da piedade da adoração eucarística, base eficaz de uma fecunda evangelização e catequese. Temos muitas comunhões, poucas confissões e pouca formação cristã e eclesial.
Não é possível um compromisso com o apostolado direto sem se ser uma alma de oração diante do sacrário. Caríssimos, amai a oração, senti muitas vezes ao longo do dia a necessidade de rezar, e procurai fazê-lo orientando o vosso coração para Jesus presente no Santíssimo Sacramento da Eucaristia.
A Eucaristia é o sacramento que antecipa a pertença dos homens e das coisas criadas à Jerusalém celeste. Daí o convite do Salmo responsorial: “Jerusalém, louva o teu Senhor” (Sl 147).
Maria, mulher, mãe, educadora e discípula missionária.
Faz-nos bem pensar em Maria e ver nela a mulher Eucarística, a Mãe de Jesus e da Igreja. A mulher que escutou a Palavra de Deus e a guardou no seu coração, para depois a pôr em prática. Maria é a mulher do acolhimento, do sim e do serviço da caridade, tornando-se o modelo de todos os discípulos e de toda a Igreja.
Maria é a mulher da comunhão, da oração e da intimidade com Jesus, porque o acolheu no seu seio virginal no mistério da Encarnação como primeiro templo e sacrário onde Jesus, por obra e graça do Espírito Santo, habita.
Por intercessão de Maria, rezemos pelas melhoras do Papa Francisco, pela paz no mundo, pelas crianças que hoje celebram a Primeira Comunhão, pelos jovens em caminho para a JMJ, pelos pobres e pelos doentes, pela santificação das famílias, dos sacerdotes e pelo aumento das vocações sacerdotais.
Que Nossa Senhora, Mãe de Jesus, a Mulher Eucarística, nos ajude a fazer o caminho da “comunhão, participação e missão”.
Aprendamos com Maria a adorar Jesus, que nos convida a fazer a vontade do Pai e a ir pelo mundo inteiro a anunciar o Evangelho como Boa-Nova de salvação.
+ António Luciano, Bispo de Viseu