Observatório Pastoral
O mês de junho diz-se e vive-se, na devoção e piedade popular, como o mês do Sagrado Coração de Jesus. Este ano, no contexto da JMJ que se aproxima, enquadramos esta reflexão, também, no Coração Virginal de Maria!
O coração, formado por tecido muscular, é o órgão central da circulação sanguínea e situa-se no centro do corpo humano, no peito, “entre os pulmões”. Na sua função dinâmica, biológica, este recebe e bombeia o sangue, através de movimentos de contração (sístole) e dilatação (diástole), até às periferias do corpo.
Capaz de assinalar a vida e a morte, o coração não é apenas um órgão fisiológico, é também um símbolo profundamente expressivo e eloquente, que fala de realidades que estão para além da sua função vital, no âmbito fisiológico.
Na bíblia, o «coração», (em hebraico leb – pronuncia-se lev; termo que aparece 853 vezes no Antigo Testamento) embora seja, naturalmente, conhecido e compreendido como órgão do corpo humano, significa, também, o órgão central da vida interior. O coração, no mundo bíblico, significa e exprime uma série de realidades que, contendo o significado que hoje lhe damos, vão para além dessas.
Quando falamos do coração, além da dimensão biológica, referimo-nos quase sempre ao ambiente de vida afetiva, emocional, sentimental, que têm nele a sua sede. Dizemos que o coração ama ou odeia, acolhe e guarda ou rejeita e afasta, é duro como pedra ou mole como espuma, fechado ou aberto…
Na linguagem bíblica, por sua vez, o coração alarga esta visão e significa a pessoa toda, na sua totalidade, como unidade de consciência, inteligência, vontade e liberdade… O coração é a sede e o princípio de vida, física e espiritual profundas do ser humano, mas é também o lugar do pensamento; lugar da memória e centro operativo das escolhas e dos projetos de vida!
O coração é, por isso, o lugar da presença de Deus, onde Deus fala e faz a sua morada para, com cada um de nós, estabelecer esse diálogo de amor. Assim, se é no coração que Deus fala, é também com o coração que devemos aprender a escutar e a meditar a Palavra de Deus e todas as coisas, ao jeito de Maria (cf. Lc 2,19.51).
Se, como diz o filósofo francês, Blaise Pascal, «o coração tem razões que a razão desconhece», a bíblia reforça a necessidade de cultivarmos um coração aberto ao bem e inteligente que procure o verdadeiro conhecimento (cf. Prov. 15,14).
Se é no coração que se dá o encontro íntimo com Deus, também é no coração que se travam as lutas para não deixar que o mal entre (cf. 1Pd 5,8); porque o coração também pode ser sem inteligência, incapaz de compreender e fechar-se à compaixão, nutrindo ódio, inveja. Por isso, com o intuito de servir o Povo segundo os desígnios de Deus, Salomão, pede a Deus a graça de um coração de escuta, para que saiba distinguir o bem do mal (cf. 1Re3,9).
Contemplando Maria, aprendamos a sua capacidade de escuta e acolhimento de Deus, em seu coração virginal, para que possamos viver melhor o processo de discernimento, segundo a vontade de seu Filho, que é «manso e humilde de coração» (cf. Mt 11,29), nas escolhas que diariamente temos de fazer.
Em caminho sinodal, peçamos ao Senhor que, através das Sua Palavra, nos abra os olhos e nos faça arder os ouvidos do coração (cf. Lc 24,32) para que, como a Sua Mãe, nos tronemos missionários da alegria que faz “dançar” o coração, o nosso e o dos outros, ao ritmo cardíaco do Amor de Deus.