Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

O lema da minha ordenação é a profecia de Isaías proclamada por Jesus na sinagoga: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres, enviou-me a proclamar aos prisioneiros a libertação e aos cegos a recuperação da vista, a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano da graça do Senhor» (Lc 4,18-20; cf. Is 61,1-2a.42,7). E hoje leio-o como uma tentativa de configuração contínua com Cristo Bom Pastor, a começar pela consideração da presença do Paráclito na minha entrega, uma vez que fui ordenado presbítero a 21 de junho de 1998, ano dedicado ao Espírito Santo no caminho da Igreja para o Jubileu do Ano 2000. Recordo-me andar em Fátima à procura de uma casula o mais simples possível para a celebração e dei de caras com uma que tinha a pomba e as sete línguas de fogo. Percebi que este dom de mais um sacerdote dado por Deus à nossa Igreja era (con)sequência da Iniciação cristã inaugurada na minha família cristã, “regada” pela família paroquial, em Travassós de Cima – Rio de Loba (com o Batismo e a Eucaristia) e “podada” pela vivência do Seminário desde tenra idade (onde fui ungido com o Crisma). Como explico mais abaixo, aquele lema não deixa de ser continuidade da vivência do diaconado, que nunca senti terminar (considerando-o mais do que uma etapa ou um mero exercer ritual-litúrgico). O lema diaconal é: «Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu vos fiz, vós façais também» (Jo 13,15). A vida de Santo António, invocado como padrinho no meu Batismo, tem-me inspirado a fazer uma boa integração entre a vida batismal e a missão eclesial.

 

Nestes 25 anos de sacerdócio, vejo a Igreja como Caminho sinodal, dentro de uma tensão dinâmica entre a nossa Igreja particular (a Diocese) e a Igreja universal (Católica), em que as instituições se procuram melhorar para levar as pessoas à Verdade e à Vida em Cristo. As múltiplas dimensões em que me foi dado servir no âmbito diocesano e nacional levaram-me a aprender e a privilegiar o trabalho em equipa como estilo, a comunhão como serviço. Na celebração destas bodas sacerdotais, contemplo a realização desta XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo sobre a Sinodalidade (“Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação, missão”) como a “cereja por cima do bolo”, um incentivo a ser ainda mais dócil à ação do Espírito de Cristo dentro da História.

 

Hoje, sentir-me chamado é perceber-me continuamente amado como sou, por um lado, uma vez que o convite vem do Pai, o Eterno (ch)amante, e a autodeterminar-me por uma resposta contínua no quotidiano, tendo em vista o ideal que o Senhor sonhou para mim, o que procuro fazer através da humildade, simplicidade e espírito de serviço. Por outro lado, é sentir-me continuamente pertença de uma Igreja particular concreta, a nossa diocese de Viseu, mediadora e apoio da minha vocação. No dia da minha Ordenação, o meu pároco de então aconselhou-me a deixar-me tocar pelo “mistério da inquietação” que tinha sido um dos rasgos provocatórios da renovação operada pelo Concilio Vaticano II; desde então, nunca deixei de me sentir inquietado, inquieto e inquietador.

 

Um episódio que me marcou, nestes anos, foi, para além da Ordenação, a formação em Roma, para acolher o serviço da corresponsabilidade no acompanhamento e formação dos futuros presbíteros, na forma mais fundamentada e realista possível. Aprendi, com a recapitulação de toda a minha vida, que o sujeito a formar mais necessária e urgentemente era a minha própria pessoa e o meu então ser pequeno de padre. Regressei de lá a perceber que o protagonista da formação mais importante é o Espírito Santo; e a melhor forma possível de O acolher em mim, para os outros, era o de viver o espírito da obediência e da fraternidade no serviço.

 

Para os próximos anos, sinto-me impelido a dar ainda mais primazia à escuta da Palavra de Deus, a par da escuta dos anseios e das alegrias dos outros, para, na prática, não impedir, mas ser mais facilitador do que o Bom Pastor quer realizar na vida das pessoas que Ele me confia na comunidade que sirvo e na vida daquelas que Ele me fizer cruzar no caminho, presencialmente ou pela internet onde me habituei desde cedo a comunicar. Estou convencido de que o dom que Ele dá à Igreja através de mim é um toque concreto e uma especificidade a comungar com outras vocações específicas. Sinto que a graça da especificidade que me foi dada no primeiro grau do Sacramento da Ordem ─ o diaconado ─ é complementar à do segundo grau ─ o sacerdócio ─, sendo que a graça deste só descerá às pessoas através daquele, entendendo-o não tanto como “transitório”, mas mais como transitável na complementaridade dos dons. O diácono que está em mim é o “jumentinho” que transporta o dom sacerdotal que me ultrapassa, pela participação no Sacerdócio de Jesus Cristo.

© 2016 Diocese de Viseu. Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento: scpdpi.com

Siga-nos: