Observatório Pastoral
Em certa ocasião estava a falar com alguns amigos sobre as dificuldades e desafios de evangelizar, de falar de Jesus, do amor de Deus para as pessoas aqui na Europa, sobretudo, na nossa realidade da Diocese de Viseu. Entre muitas conversas, uma chamou-me à atenção, quando um deles me disse: “Padre, aqui parece que as pessoas vão à Igreja, mas não acreditam em Deus”. Fiquei a pensar sobre tal argumento que posteriormente foi tema em algumas reflexões pessoais.
O que fazer para que esta realidade mude? Como fazer das nossas Igrejas sítios onde se perceba a presença de Deus? Porque é que as Igrejas perderam a referência de lugares de paz? Porque não são visitadas com regularidade pela gente que procura um bocadinho de conforto e paz?
Certamente a minha observação não é a de uma pessoa pessimista, mas de alguém que aceita o contraditório, tem um coração de pastor preocupado em encontrar “soluções” para mudar este quadro triste que se constata em centenas de Igrejas e capelas das nossas cidades, freguesias e comunidades rurais. Mesmo sendo belas e conservadas na sua grande maioria, o que sobressai é o aspeto funcional oriundo de tradições de cunho sentimental: famílias que foram batizadas ali ou até casamentos de gerações passadas que ali se realizaram e por isso, mantem-se o “hábito” que a reduz a uma mera prestadora de serviços sacramentais.
Para além da beleza arquitetónica e histórica, o que nos leva a entrar, a visitar uma Igreja? Nas grandes cidades e lugares de movimento e barulho, quando encontramos uma Igreja, deveríamos sentir-nos atraídos para “descansar” das agitações, ainda que seja por uns minutinhos. Descansar ao sentar-se para contemplar o espaço sacro, de acalmar o coração sentindo naturalmente a presença sobrenatural, a convidar-nos a permanecer tranquilos.
O espaço sagrado é por excelência lugar de oração, meditação e encontro. Como a nossa fé sempre nos orientou a estabelecer uma relação pessoal com um Deus vivo. Pela Sua omnipresença, sabemos que Ele está presente em todos os lugares ao mesmo tempo, presente em toda a criação. Está presente em cada um de nós, que torna visível o atuar divino.
Gerou-se uma confusão na cabeça de uma grande maioria que não consegue viver o cristianismo, ou mesmo a sua religião, por não saber relacionar-se com Deus. Quando perdemos a dimensão desta relação, torna-se difícil aceitar as mudanças próprias de cada época, aquilo que é diferente e novo. Este comportamento avesso é característico no espaço eclesial.
Uma grande oportunidade que Portugal terá para por em prática a dinâmica da abertura ao “novo” da Igreja, está prevista para Agosto nas JMJ – Jornadas da Juventude. Evento único, que se for bem acolhido renovará a vida e história de milhares que fizerem a experiência do convívio cristão num clima onde a mesma “fé católica” será partilhada na diversidade cultural e religiosa. Será um bem inestimável capaz de renovar toda a Igreja de Portugal. Abertura ao novo que levará a uma mudança de mentalidade, ou seja, a uma verdadeira metanoia integral, da mente, corpo e coração. Aquela que o Papa Francisco insistentemente pede: uma Igreja em saída, que vai ao encontro do outro, que estabelece relações fortes, alegres e verdadeiras. Uma Igreja inclusiva capaz de abraçar todos e oferecer espaços para todas as pessoas de boa vontade.
É urgente que tenhamos a alegria de testemunhar o ser cristão que trazemos em nós.