Esta é a Casa do Senhor, solidamente construída sobre a rocha firme, que é Jesus Cristo, a Pedra Angular. Deus vive no meio do seu povo.
O Senhor reuniu-nos neste lugar sagrado como ovelhas do seu rebanho, para nos santificar com a sua presença
Nesta Igreja celebramos, com alegria e com um coração em festa, a Dedicação da Catedral da Diocese de Viseu.
A Igreja Mãe da Diocese é sinal de uma maternidade espiritual realizada na missão de ser mestra e educadora dos seus filhos. A Catedral é a Igreja Mãe de todas as igrejas, e foi construída neste lugar como espaço sagrado para aqui nos reunirmos com alegria a saborear a fé, acolhendo as palavras do apóstolo: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é santo, e vós sois esse templo” (1 Cor 3, 16-17).
Este Templo construído pelos homens é o lugar onde Deus mora e o povo se reúne em assembleia festiva para escutar a Palavra de Deus, celebrar os sacramentos e agradecer o dom desta casa de oração, dedicada ao Senhor, num dia festivo e que hoje recordamos como memória agradecida.
O altar, no centro do espaço sagrado para o qual orientamos a nossa vida e a nossa fé, foi consagrado ao Senhor e ungido com o óleo do santo crisma para ser a mesa do sacrifício e do banquete eucarístico.
A volta da mesa do altar, que representa Cristo, o Pastor e o Cordeiro imolado, reúne-se o povo de Deus como sinal de comunhão e de unidade entre todos os cristãos, que acolhem a Palavra de Deus e comungam o Pão da Eucaristia. Neste lugar sagrado, prestamos o culto devido a Deus e, em ação de graças ao Senhor, comprometemo-nos a servir os irmãos. Somos a Igreja de Cristo, o Povo de Deus em peregrinação, a comunidade dos filhos de Deus que celebram a fé e testemunham a esperança.
Somos um povo sacerdotal em construção e renovação espiritual. As obras que estão a decorrer na Catedral lembram-nos o dinamismo da Igreja, edifício em construção, mas também a essência da nossa vocação de cristãos em caminhada de renovação espiritual, pois somos pedras vivas do Templo do Senhor.
A fé cristã que professamos em cada domingo e vivemos em cada dia da nossa vida, convida-nos a rezar solenemente: Creio em Deus, Pai todo poderoso criador do céu e da terra. Creio em Jesus Cristo que morreu na cruz e ressuscitou ao terceiro dia. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida. Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica. Creio na ressurreição da carne e na vida do mundo que há de vir. Uma fé celebrada, professada e testemunhada na esperança da vida eterna. “Eu vi a nova Jerusalém, resplandecente de luz eterna, descer do céu, de junto de Deus, para habitar no meio dos homens”.
Aproximemo-nos desta Igreja, mistério de comunhão e de unidade, sinal sacramental e universal de salvação, fonte de caridade presente em todos os lugares da terra e visível no meio de nós.
Sejamos todos pedras vivas na construção deste edifício espiritual e entremos na concretização da sua missão de ensinar, santificar e governar.
Ao olhar para a Igreja Mãe da Diocese, para todas as paróquias, comunidades e serviços que tornam viva a nossa Igreja Diocesana, a minha primeira atitude é dar graças a Deus e pedir que a sua casa seja cada vez mais “uma casa de oração” onde se escuta a Palavra de Deus e se celebram os sacramentos, de modo particular a Eucaristia, fonte e cume da vida espiritual da Igreja. Sejamos todos construtores de uma Igreja, povo de Deus, em caminho sinodal, na “comunhão, participação e na missão”.
Convido todos os batizados a sermos membros de comunidades vivas e renovadas pela graça do Espírito Santo. O Espírito divino vem em auxílio da nossa fraqueza, para nos purificar e perdoar os nossos pecados. Saibamos pedir com fé na nossa oração os dons espirituais, para produzirmos muitos frutos de caridade para a vida do mundo.
Celebramos o 5º aniversário da minha entrada solene como Bispo na Diocese. Foram cinco anos de graça, marcados pela esperança e novidade, cheia dos desafios que nos vêm dos sacerdotes, dos leigos e das paróquias. Anos cheios de trabalho pastoral intenso e de empreendimentos eclesiais marcados pela confiança em Deus e na proximidade com os irmãos. Os desafios do caminho sinodal e as linhas de orientação pastoral do novo ano devem levar-nos a relançar a esperança de um novo trabalho pastoral com os jovens, a família e as vocações a partir da JMJ.
Celebramos o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, que o Papa Francisco nos apresenta com alegria e esperança na proximidade e cuidado daqueles que mais precisam dos nossos serviços.
Aproximam-se os “Dias nas Dioceses” e a vivência da JMJ com o Papa Francisco em Lisboa. Vivamos este tempo de graça à luz da mensagem do Evangelho deste domingo, que nos apresenta as parábolas do Reino, a da semente lançada à terra e o mistério do trigo que nasceu junto com o joio. Jesus disse aos discípulos: “Deixai crescer um e outro até à colheita” (Mt 13,29).
O mistério de Deus escondido numa semente pequena lançada à terra faz-nos pensar nas suas potencialidades. Contudo, diante da semente do trigo e do joio que crescem juntas, Jesus diz-nos que devemos ter muita paciência, saber esperar e não ter pressa. A esperança de Deus e a paciência são sempre algo que nos desconcerta. Deus convida-nos sempre a ser pacientes diante das dificuldades.
As três parábolas têm uma mensagem comum. Nas três, o reino de Deus compara-se com algo pequeno e simples, mas ao mesmo tempo carregado de vida, que cresce e se manifesta pouco a pouco a partir de dentro, sem ruídos nem aparências de ruído. O Reino chega pela força de Deus e vai crescendo silenciosamente, semeando as suas graças e bênçãos. Os verbos semear, aguardar, confiar, esperar, respeitar, cuidar e partilhar têm aqui muita força.
Antes da colheita, é preciso, sobretudo, escutar o nosso terreno interior com mais profundidade e esperança. Ali, há um rico “celeiro” e reservas dos melhores cereais, que devem ser mobilizados para o nosso crescimento e maturidade espiritual.
A espiritualidade inaciana revela-nos que a paciência é uma ferramenta imprescindível no processo de decisão, uma luz que indica o próximo passo ao longo do caminho da construção de nós mesmos e da Igreja. O hábito permanente do discernimento pode tornar revolucionários os pequenos gestos de cada dia. Pois a paciência de Deus implica aprender a parar nas encruzilhadas dos caminhos, para eleger sempre o melhor e maior bem.
A paciência faz a vida: ela mobiliza os nossos recursos mais nobres, desperta a criatividade espiritual e pastoral e impulsiona-nos a investir as nossas melhores energias naquilo que é essencial e que dá sentido ao nosso caminhar como Igreja. Sejamos semeadores da boa semente de Deus na Igreja e no mundo.
Rezai por mim, para que seja fiel até ao fim. Também rezo por vós e peço, por intercessão de Nossa Senhora do Altar Mor, de São Teotónio e da Beata Rita Amada de Jesus, a renovação espiritual e pastoral da nossa Diocese de Viseu.
Dedicação da Catedral, 23 de julho de 2023
+ António Luciano, Bispo de Viseu