Observatório Pastoral
Neste tempo da contemporaneidade temos que usar todos os recursos para vivenciar e proclamar a Palavra de Deus. É o anúncio da Boa-Nova que junta os fiéis (cf. LG 26; PO 4) na dinâmica da Igreja doméstica e, por isso temos que ser ousados e criativos na evangelização. Eis a sublime missão da Igreja. A origem e o princípio da comunidade eclesial missionária, que tem como centro e ponto culminante a Eucaristia (cf.EE 3), é a Palavra de Deus anunciada, escutada, meditada e encarnada na vida das pessoas.
Estamos a viver numa sociedade em “desconstrução” que muito necessita da proclamação da Palavra de Deus. Na carta Fratelli Tutti, Francisco usa essa expressão: “desconstrucionismo” (cf. FT 13). Um movimento intelectual da década de 60 que procurou desfazer as verdades vinculadas à tradição, tendo como fundamento uma conceção pluralista. Esse movimento vem ganhando espaço com o avanço da tecnologia aplicada nas redes sociais.
Na perspetiva do Papa Francisco, essa penetração cultural do desconstrucionismo, em que a liberdade humana pretende construir tudo a partir do zero, “é uma nova forma de colonização cultural. Uma maneira eficaz de dissolver a consciência histórica, o pensamento crítico, o empenho pela justiça e os percursos de integração. Um esvaziar de sentido ou manipular as grandes palavras” (FT 14).
A doutrina Breitbart, liderada por Steve Bannon, assessor político que auxiliou o ex-presidente Donald Trump, ensinava que “se alguém quiser mudar a base de uma sociedade precisa destruí-la e só quando a destruir poderá reconstruir os seus pedaços através da visão de uma nova sociedade”.
Todos nós temos consciência de que quando criamos uma metodologia de ódio acabamos por gerar ódio, e a partir daí surgem conflitos, guerras, desavenças etc. Atualmente, podemos perceber que as redes sociais, além de serem uma ferramenta de informação e relacionamento, produzem por outro lado, ódio, intriga, guerra, desunião, principalmente pelas fake News e pós-verdade.
Frente a essa realidade, o Papa Francisco vem dizer na Fratelli Tutti que não podemos desprezar a história nem rejeitar a riqueza espiritual e humana que foi transmitida através das gerações, ignorando tudo quanto nos precedeu, desfazendo-nos de questões tradicionais (cf FT 13).
Acredito que uma maneira de rever essa cultura do desconstrucionismo é atingir o maior número possível de pessoas com a Palavra de Deus, despertando as comunidades para serem mais ousadas, criativas e visionárias.
Perante a realidade, o Sumo Pontífice apresenta uma visão que implica novos comportamentos pastorais e que se apresenta também uma resposta ao desconstrucionismo. Francisco sinaliza que não se pode ignorar o risco de acabarmos vítimas de uma “esclerose cultural” (cf. FT, 134). O papa sugere ainda a necessidade “de se manter um diálogo confiante e paciente, para que sejam transmitidos os valores da própria cultura e para que haja o acolhimento das experiências alheias” (FT, 134). Nesse sentido, impele a uma nova visão do futuro, com esperança e sensatez, promovendo uma amplitude de visões. Assim afirma Francisco: “o futuro podemos contemplá-lo na variedade e na diversidade das contribuições que cada um pode dar. Como a família humana precisa aprender a viver conjuntamente, em harmonia e paz e sem necessidade de sermos todos iguais!” (FT, 100).