Observatório pastoral
Muitas das pessoas que estão empenhadas na pastoral juvenil ou que têm interesse em saber por onde andam os jovens têm nos olhos as imagens da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa: passaram pouco mais de três meses, mas permanece o eco de uma experiência bela e viva, onde os jovens “estavam lá”, numerosos, participantes, cheios de entusiasmo. Imagens que encorajam e que dão esperança, que dizem que há um mundo juvenil que continua a deixar-se convocar pela Igreja.
Os muitos rostos da Igreja
Por detrás do nome genérico de Igreja encerram-se, na realidade, muitas experiências diversas, entre as quais os jovens estão habituados a distinguir: Igreja é a sua paróquia, o seu grupo, a sua associação, o seu padre, a instituição eclesial; cada um destes rostos da realidade eclesial evoca nos jovens sentimentos e reações diferentes; interesses e objeções; atenções e suspeitas… Para aqueles que fizeram uma experiência paroquial de certa duração e de certa intensidade, a Igreja significa o seu grupo, pessoas que evocam situações e momentos. (…)
Para o bem e para o mal, este é o aspeto que imprime, na consciência das novas gerações, uma marca difícil de eliminar. Há quem tenha permanecido no ambiente eclesial por causa do laço com algumas pessoas, sobretudo figuras adultas significativas, e quem se foi embora porque não se sentiu compreendido, que se apercebeu que foi excluído, ou julgado, ou não valorizado. As relações são importantíssimas na vida dos jovens. São decisivas para a relação com a própria comunidade.
Muito mais problemática é a relação com a Igreja enquanto instituição: isto constitui para muitos adolescentes e sobretudo jovens o elemento de maior obstáculo para a sua pertença. (…) O estilo eclesial é percecionado como velho (é o adjetivo mais usado para qualificar a Igreja), aborrecido, frio, fechado. É óbvio que uma realidade percecionada desta maneira não pode ser atrativa, interessante, envolvente.
A Igreja que desejaria
Desejaria uma Igreja… livre, aberta, acolhedora, inclusiva, simples, pobre, leve, mais próxima, atual, inovadora, compreensiva, autêntica, apolítica, humilde, alegre… Concluo aqui o elenco dos adjetivos com que os jovens representam o seu sonho de Igreja, mas a lista poderia continuar: estas qualidades falam de uma paixão pela Igreja, expressa por jovens que também declaram tê-la abandonado.
Quantos jovens que se afastaram da Igreja estão dispostos a voltar? Muitos respondem «sim, mas…», «com esta Igreja, não». A relação com a Igreja não foi definitivamente cortada, mas não pode ser com uma Igreja que lhes dá um sabor de antigo, de gasto, de distante das pessoas de hoje.
Passos para um novo encontro
É possível hoje uma aproximação entre o mundo juvenil e a Igreja? Que passos esperariam os jovens? Não há algo que a Igreja deva fazer pelos jovens, mas antes deveria modificar a sua vida naqueles aspetos que são motivo de distância. Não que a Igreja deva construir a sua vida e o seu pensamento a partir dos pedidos dos jovens ou de quem quer que seja; todavia, não pode não valorizar o pedido de autenticidade que há nas suas posições: deveria ser reconhecido e mereceria uma resposta. Os jovens não lhe pedem que mude e mais nada, mas que o faça na perspetiva do Evangelho: mostrando interesse pela existência das pessoas.
Paola Bignardi
In Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura