“Maria, encontraste graça diante de Deus”
A Virgem Maria, a cheia de graça, que recebeu o Espírito Santo e a força do Altíssimo a cobriu com a sua sombra, por privilégio singular de Deus é a Imaculada Conceição.
“Salve, Mãe Imaculada, não há palavras dignas do vosso louvor, de vós recebemos o Salvador do mundo, Jesus Cristo Nosso Senhor”.
Esta saudação a Nossa Senhora ajuda-nos a entender que a vida de Maria está intimamente unida a Seu Filho, Cristo Jesus no mistério da economia da salvação e da redenção do género humano.
“Não é a mesma coisa procurar construir o mundo com o Seu Evangelho em vez de o fazer unicamente com a própria razão. Sabemos bem que a vida com Jesus Se torna mais plena e, com Ele, é mais fácil encontrar o sentido para cada coisa. É por isso que evangelizamos. O verdadeiro missionário, que não deixa jamais de ser discípulo, sabe que Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio do compromisso missionário. Se uma pessoa não o descobre presente no coração mesmo da entrega missionária, depressa perde o entusiasmo e deixa de estar seguro do que transmite, faltam-lhe força e paixão. É uma pessoa que não está convencida, entusiasmada, segura, enamorada, não convence ninguém” (AE, 266).
“Unidos a Jesus, procuramos o que Ele procura, amamos o que Ele ama” (AE, 267) e imitamos as virtudes Maria, a Estrela da “Nova Evangelização”. Há um estilo de vida mariano na atividade evangelizadora da Igreja. Porque sempre que olhamos para Maria, a Imaculada voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto, que nos vem da Palavra de Deus e daqueles, que como Maria a guardam e conservam cuidadosamente “no seu coração” (Lc 2,19).
Maria é a contemplativa do mistério de Deus no mundo, na história e na vida diária de cada um e de todos. É a mulher orante e trabalhadora em Nazaré, mas é também Nossa Senhora da prontidão, a que sai à pressa” (Lc 1,39) da sua povoação para ir ajudar os outros. Esta dinâmica de justiça e ternura, de contemplação e de caminho para os outros faz dela um modelo eclesial para a evangelização.
A Estrela da nova Evangelização ajuda-nos a entender estas palavras da Liturgia com as quais desejamos saudar e venerar Nossa Senhora, como a mulher “Imaculada, a Cheia de Graça”, a escolhida por Deus e isenta do pecado original para na plenitude dos tempos dar o seu “sim” e tornar-se a “Mãe do Salvador” prometido à humanidade.
O Evangelho que acabámos de escutar parece não ter lugar na festa que hoje celebramos pois fala-nos da conceção de Jesus no seio de Maria, mas ambos os momentos se entrelaçam, encontram e clarificam o mistério da vida de Jesus e de Maria que hoje celebramos nesta solenidade.
Diante da grandeza e da missão a que foi chamada maria de Nazaré a dizer “sim”. “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38). Cheia de graça e de santa alegria acolhestes no teu seio o Espírito Santo, que semeou no teu coração Imaculado a vida de Jesus. Na verdade Jesus só podia nascer de uma Virgem, que desde o momento da Sua Conceição foi toda possuída por Deus e isenta de pecado.
O Livro do Génesis atesta que o pecado é um mal do “princípio” do homem, as suas consequências desde então pesam sobre todo o género humano, e juntamente contém o primeiro anúncio da vitória sobre o mal e sobre o pecado. Eva a “mãe de todos os viventes” (Gn 3,20) e Maria a “mãe de todos os crentes”.
A dignidade da pessoa humana está na “unidade dos dois”, que está ligada à criação do homem, como homem e mulher, à imagem e semelhança de Deus, segundo o modelo da comunhão perfeitíssima de Pessoas que é o próprio Deus.
A “mulher” do Proto-Evangelho é inserida na perspetiva da redenção. O confronto Eva-Maria pode ser entendido também no sentido de que Maria assume em si mesma e faz seu o mistério da “mulher”, cujo começo é Eva. “Em Maria, Eva descobre qual é a verdadeira dignidade da mulher, da humanidade feminina. Esta descoberta deve penetrar continuamente no coração de cada mulher e plasmar a sua vocação e a sua vida” (A Dignidade da Mulher, nº 11). A dignidade da mulher está intimamente ligada com o amor que ela recebe pelo próprio facto da sua feminilidade e também com o amor que ela por sua vez dá.
Vivemos numa sociedade onde são muitas as formas de atentar contra a dignidade da mulher, que profundamente repudiamos. Toda a mulher deve encontrar em Maria Imaculada o modelo do seu ser mulher a viver com dignidade na sociedade atual. Condenamos todas as formas de exploração da mulher hoje e da sua utilização para fins de abuso, de lucro, de tortura, ou manipulação do seu ser e destruição da sua dignidade.
O povo cristão sempre acreditou na virgindade Imaculada de Maria desde a sua conceção e sempre a defendeu perante os ataques do inimigo.
O Dogma da Imaculada Conceição foi proclamado pelo Papa Pio IX em 8 de dezembro de 1854, através da Bula “Ineffabilis Deus”.
A primeira celebração do culto da Imaculada Conceição em Portugal, decorreu em Coimbra no dia 8 de dezembro de 1320. Portugal consagrou-se com a coração da Imagem de Nossa Senhora da Conceição em Vila Viçosa como Rainha e Padroeira de Portugal nas Cortes de 1646.
Como escreveu o Papa São João Paulo II na sua primeira Encíclica, ao olhar para a missão de Maria afirma: “Maria é a Mãe da Igreja, porque, em virtude de inefável eleição do próprio Eterno Pai e sob particular ação do Espírito de Amor, Ela deu a vida humana ao Filho de Deus, ‘para quem são todas as coisas e por quem todas existem’, e do qual todo o Povo de Deus recebe a graça e a dignidade da eleição. O próprio Filho quis explicitamente estender a maternidade de sua Mãe ao confiar-lhe do alto da Cruz, como filho, o seu discípulo predileto” (…). “Esse amor aproxima-se de cada um de nós por meio desta Mãe e adquire desse modo sinais mais compreensíveis e acessíveis a cada homem. Por isso, Maria deve encontrar-se em todos os caminhos da vida quotidiana da Igreja” (João Paulo II, RH, 22).
Graças à sua presença materna como Mãe, olha para todos nós com o seu olhar de beleza e ternura, repleto de santidade, porque só Ela é a Imaculada. “Finalmente, a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa do pecado original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada por Deus como rainha, para assim se conformar mais plenamente com seu Filho Senhor dos senhores (cfr. Apoc. 19, 16) e vencedor do pecado e da morte” (LG 59).
Também nós imitando Maria nas suas virtudes e raízes de profundidade e plenitude viveremos como cristãos e discípulos missionários de Cristo a “Alegria de sermos Raízes” em verdadeiros campos da vida onde somos chamados a semear o Evangelho. “E suplico a Maria, celeste Mãe da Igreja, que nesta oração do novo Advento da humanidade, Ela se digne também perseverar connosco, que formamos a Igreja, Corpo Místico de Seu Filho unigénito” (RH, nº 20).
Maria é venerada na Igreja com “um culto especial” e honrada com o título de “Mãe de Deus”, e sob a sua proteção se acolhem os fiéis, em todos os perigos e necessidades” (cfr. LG 66). A figura de Maria aparece-nos no Tempo do Advento como sinal de esperança e de consolação, em virtude de ser a Mãe de Jesus foi glorificada em corpo e alma e de ser a Imaculada, que transporta consigo o seu ser na totalidade de mulher toda dada ao serviço de Deus, por isso, “brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor (cfr. 2 Ped. 3,10); (LG 68)”.
O Concílio Vaticano II fala de Maria e da Igreja, identificando-as na sua na missão evangelizadora e no compromisso de serviço e de construção do Reino de Deus. A Igreja tudo deve fazer para imitar a vida da Virgem Imaculada e ajudar a humanidade imitando o exemplo de Maria, pedindo que a paz social e internacional aconteça no mundo em que vivemos.
O homem em busca da verdade e do bem, torna-se construtor da justiça e da paz, no respeito pelos direitos invioláveis do homem – “a paz é obra da justiça” – ao passo que a guerra nasce da violação desses direitos e acarreta consigo ainda mais graves violações dos mesmos. Se os direitos do homem são violados em tempo de paz, isso torna-se particularmente doloroso ter como fator fundamental do bem-comum, o bem da pessoa humana e da comunidade internacional (cf. RH, 17). De que é que tem medo o homem contemporâneo? “O homem de hoje parece estar ameaçado por aquilo mesmo que produz” (RH, 15).
Todos os caminhos da Igreja levam ao homem. O homem é o caminho da Igreja, caminho que conduz decerto modo à origem de todos os caminhos pelos quais deve caminhar a Igreja (cf. RH, 14). “A união de Cristo com o homem é em si mesma um mistério” (RH, 18). Por isso a Igreja deve estar sempre em saída (Francisco).
Com o olhar de Maria Imaculada aprendamos a olhar as pessoas e o mundo nas suas fragilidades, pobreza e necessidades, levando-lhes o conforto e alegria da Mãe do Senhor que cuida dos seus filhos que ainda peregrinam na terra no meio de angústias, na solidão, no abandono, na guerra, na violência, nos conflitos e em tantas formas de descriminação e desprezo humano, racial e social. Que Maria Imaculada derreta o gelo da indiferença e da descrença e abençoe as famílias, as crianças, os jovens, os adultos, os Enfermeiros na celebração dos 40 anos de Curso, o Santo Padre, o Episcopado, o Clero, os Consagrados e os Leigos na sua missão de servir como Maria a Igreja e a humanidade.
Interceda por nós, por Portugal e pelo mundo a nossa Padroeira, a Imaculada Conceição. Amem!
+ António Luciano, Bispo de Viseu