Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

O nascimento está quase a acontecer! Quanta alegria! Quantas dúvidas e quantos medos! Quanta esperança e quanta luz! Quem e o que virá a ser esta criança? Este poderia, muito bem, ser o espírito de uma família à espera de um filho. Por entre toda a inquietação feliz, há algo de muito importante que não pode ficar esquecido: o nome! Que nome dar ao bebé? É muita responsabilidade definir o nome que vai acompanhar e identificar alguém ao longo da vida; é como um “complemento” à vida gerada!

Normalmente, durante a gravidez, esta é uma das missões mais belas e especiais de um pai e uma mãe; e até dos irmãos, se os houver! Por vezes, fazem-se listas…com os nomes da “moda” ou de nomes inspirados nas novelas, no desporto, em artistas, nos familiares; com nomes modernos ou antigos, típicos, nacionais ou estrangeiros (alguns destes últimos, por vezes, nem os avós o conseguem pronunciar corretamente!!)! Uff! Uma coisa é certa, escolher um nome e atribuí-lo a uma pessoa é uma das primeiras grandes decisões e é algo muito especial para os pais! Para alguns pode ser uma “tarefa” difícil, para outros é algo resolvido há muito, outros esperam o nascimento para ver a carinha do bebé.

No mundo bíblico, porém, descobrimos que os modos de conceber e entender o nome a dar a um bebé eram bem diferentes do contexto contemporâneo. A imposição do nome, sendo, também, muito importante para os antigos, em geral, trazia em si algo acerca da pessoa. Habitualmente, o nome escolhido realçava a missão para a qual a pessoa tinha sido chamada, isto é, exprimia, num sentido dinâmico, a essência da pessoa que o recebia.

Por exemplo, o nome Adão (’adam em hebraico) recorda a terra da qual é feita, moldada a pessoa (de facto, em hebraico, terra diz-se ’adamah (cf. Gn 2,7); possuem quase o mesmo som!);Moisés é um nome de origem egípcia (como o nome do faraó Ra-mses, por exemplo), composto com o verbo hebraico mashah, que significa “tirar para fora” – na verdade, Moisés foi “tirado para fora” (salvo) das águas (cf. Ex 2,10) e terá como missão “tirar para fora” (salvar) o Povo, do Egito. Outros nomes: Isaías significa “Yhwh salva”, Josué significa “Yhwh é salvação”Ben-Owni significa “filho da minha dor”, pelas circunstâncias em que nasceu e depois Binyāmîn significa “filho da minha direita”, (cf. Gn 35,16-18).

Às portas do Natal, também, nos devemos perguntar qual o nome do Menino que está quase a nascer? Terão Maria e José pensado nisso? Como foi a escolha do nome? Estas podem parecer perguntas desnecessárias dado que já sabemos o nome; mas saberemos o que significa? Qual a sua importância? Tem este nome impacto na minha vida?

Quando entramos nos Evangelhos da Infância (Mt 1–2 e Lc 1–2) abrem-se-nos as portas do verdadeiro e único Natal: o nascimento do Deus Menino, cujo nome é bálsamo e perfume que preenche toda a casa; luz que dissipa as trevas; alimento que fortalece a vida, brisa que refresca, remédio que abranda as dores da humanidade, porta que se abre para vida etena.

O Evangelho de São Mateus, o primeiro na ordem canónica, abre-se com uma espécie de “livro das origens”, conhecido como genealogia (Mt 1,1-17): uma longa lista de nomes que nos leva às origens e através da qual emerge a relação particular do Menino que está para nascer com o rei David.

Os últimos dois nomes dessa longa lista são os de José e Maria, respetivamente. A mãe, Maria, ocupa, mesmo, o último lugar, mas é, seguramente, uma linhagem nova que ramifica: está grávida, à espera de um filho, fruto do Espírito Santo (Mt 1,20).

Após este início cheio de nomes, uns mais conhecidos do que outros, Mateus narra, a partir do ponto de vista de José (“Anunciação a José”, Mt 1,18-25), aquilo que no Evangelho de Lucas é anunciado pelo anjo – mensageiro divino – a Maria (“Anunciação a Maria”, Lc 1,26-38). E é no contexto destes dois breves relatos, distintos no momento, no modo e nos destinatários [e que nos oferecem tanto, tão profundo, tão belo e tão sublime] que ficamos a saber qual o nome que os pais vão dar ao Menino que está para nascer.

Nas as palavras do anjo, em Mateus, José recebe uma missão importantíssima: a de dar o nome ao Menino; vejamos: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados». Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer ‘Deus connosco’». (Mt 1,20-23).

Deste ponto de vista, é ainda mais desconcertante o Evangelho de Lucas porque confia a missão de dar o nome ao Menino a uma mulher, a mãe: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim» (Lc 1,30-33).

Os dois evangelistas concordam no relato; o nome do Menino é: JESUS! Nome que deriva do aramaico Yeshua e que significa, literalmente, «Deus salva», «Deus é salvação». Se olharmos com atenção para o texto de Mateus percebemos que dentro do nome Jesus, anunciado pelo anjo e que os pais devem dar ao Menino, está já contida e se resume a Sua missão, ou seja, algo acerca do próprio Menino, o motivo da Sua vinda ao mundo, a armação (e alargamento) da Sua tenda no meio de nós (cf. Jo 1,14). O Menino chama-se Jesus porque Ele «salvará o povo dos seus pecados». Jesus nasce, então, para nos salvar. Jesus é o Salvador.

Mas a narrativa de Mateus oferece-nos, ainda, algo mais sobre o mistério deste nascimento, e sobre o significado do nome dado ao bebé, ao ligá-lo à profecia de Isaías sobre o nascimento de um filho anunciado à jovem esposa do rei de Judá, Acaz: «Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há de pôr-lhe o nome de Emanuel» (Is 7,14). Mateus diz-nos, assim, que, a Jesus, é dado um outro nome: será chamado, também, Emanuel, em hebraico ‘Immanû’el, que significa, «Deus Connosco».

Desta forma, através do texto do profeta Isaías, o anúncio do nascimento de Menino em Mateus leva-nos à promessa contida no final do seu Evangelho, quando, sobre o Monte, Jesus diz aos Seus discípulos: «Eu estou sempre convosco [‘Immanû’el] até ao fim dos tempos» (Mt 28,20). Portanto, podemos dizer, de algum modo, que também através deste segundo nome, as duas Anunciações se unem profundamente, uma vez que o Emanuel de Mateus é Aquele que cujo «reinado não terá fim», em Lucas.

O nome Jesus revela-nos, assim, que Deus desce para ficar junto a nós, para caminhar connosco (syn-odos) e tocar-nos com a Sua Salvação. Que nome tão simples e tão belo! Jesus, nome tão cheio de graça e inebriante «como o aroma de um perfume que se expande» (cf. Ct 1,3) por toda a casa comum e que nos inspira a rezar com o salmista, de modo especial, neste tempo natalício: «como é grande, admirável e glorioso o Teu nome em toda a Terra» (cf. Sl 8,2).

É extraordinário pensar que ainda Jesus não tinha nascido e já o anjo dizia aos pais, e aos leitores crentes de cada tempo, a missão do bebé; que o nome do Menino, que o vai definir e identificar, é divino; e que, desde logo, este nome se tornaria numa invocação cheia de graça e em fonte de divina salvação.

Eis a força, o valor e o significado do nome de Jesus, apresentados pelos apóstolos: «[J]á que hoje somos interrogados sobre um benefício feito a um enfermo e sobre o modo como ele foi curado, ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel: É em nome de Jesus Nazareno, […] é por Ele que este homem se apresenta curado diante de vós. […] E não há salvação em nenhum outro, pois não há debaixo do céu qualquer outro nome, dado aos homens, que nos possa salvar» (At 4,9-12).

Na verdade, só o nome de Jesus é a nossa salvação. Só Ele nos pode salvar e nenhum outro, por mais ilusões que nos “vendam”. Este é o nome que nos deve acompanhar no coração. Mas não esqueçamos, ninguém pode confessar o nome de Jesus se não for no Espírito Santo (cf. 1Cor 12,3).

Se o nome de Deus é a Sua presença fiel no meio do Povo, com o nascimento de Jesus, como afirma uma homilia antiga do séc. II, «o Nome do Pai é o Filho» e, por isso, remetendo-nos de algum modo ao episódio da sarça ardente, sobre o nome de Deus que Moisés deve dizer aos seus irmãos, (eheyeh asher eheyeh/«Eu Sou Aquele que Sou», cf. Ex 3,13-15), todas as vezes que Jesus se apresenta com «Eu Sou», no Evangelho de João, reconhecemos essa presença contínua do Nome de Deus, do Qual, Jesus é o rosto visível e ato salvífico. Pensemos que cada vez que fazemos o sinal da Cruz, com que se invoca o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sinal simples e potente, Deus está verdadeiramente no meio de nós (cf. Mt 18,20).

Por isso, o próprio Jesus, mudará o nome e a vida de Simão, tendo em conta a missão que lhe viria a ser confiada: kai epethēken onoma tō Simōni Petron/«e impôs o nome a Simão, Pedro» (cf. Mc 3,16); bem como, de modo misterioso, a força e a luz do nome de Jesus que se identifica com os que são perseguidos, os últimos, “muda” o nome daquele Saulo, que perseguia o nome de Jesus e que depois se passa a chamar Paulo, o grande missionário ad Gentes (cf. At 9,4-5).

Tanto assim é que, na Carta aos Filipenses, Paulo nos deixa uma passagem fundamental para a vida e espiritualidade cristãs sobre o nome de Jesus; nome este que recolhe, desde a luz do Natal à luz da Páscoa (cf. Fl 2,6-8), uma força e um sentido tão pragmático quanto programático: «Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nomepara que, ao nome de Jesus, se dobrem todos os joelhos, os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra; e toda a língua proclame: «Jesus Cristo é o Senhor!», para glória de Deus Pai» (Fl 2,9-11).

Assim, em nome de Jesus, o Deus Menino que nasce para nos salvar, rezemos pelas crianças do mundo inteiro, especialmente por aquelas que vivem em ambientes de violência, as que morrem vítimas da guerra, cujo nome os pais escrevem no corpo para que as possam identificar… Ele, e só Ele, é o Senhor do Natal.

É tempo de celebrar o nascimento de Jesus. Num mundo que nos oferece tantos “salvadores”, talvez nos faça bem cantar com alegria, rezar, repetindo com fé e confiança, esta bela, simples e pequena oração que é o nome do Menino que está para nascer: Jesus. Digamo-lo desde que acordamos até que nos deitemos; digamo-lo antes, durante e após qualquer ação durante o dia, porque é Ele que nos acompanha nos caminhos quotidianos da vida.

Cristãos, alegria que nasceu Jesus, a Virgem Maria no-lo deu à luz. Jesus! Jesus! Saudemos Jesus. Jesus! Jesus! Saudemos Jesus. Gravemos o Seu nome no coração e nos lábios; perfumemos a vida com o nome de Jesus e assim, mais facilmente, será Natal todos os dias e quando o Homem quiser.

Em nome de Jesus, desejo a todos um Santo e Feliz Natal.

Artigo da autoria do Padre António Henrique, da Diocese de Viseu, publicado na Agência ECCLESIA.

CategoryIgreja

© 2016 Diocese de Viseu. Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento: scpdpi.com

Siga-nos: