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Observatório Pastoral

Uma das dialéticas presentes do tema das vocações de consagração é o da relação entre a dimensão comunitária da vocação e a dimensão pessoal da vocação. Tem-se verificado que, não raramente, esta dimensão pessoal é pouco observada, ficando relegada para um acompanhamento no foro interno.

Vivemos num tempo em que os jovens tendem a valorizar experiências gratificantes, mesmo no que toca à vivência da fé, sendo, para isso, capazes de percorrer seja que distâncias for para se encontrarem com outros jovens e desbravarem juntos novas expressões da vivência ou celebrações da mesma fé. Nota-se que se trata de organizações ou ambientes (como Taizé, a JMJ, etc.) que descartam a rigidez em favor de uma maior liberdade de expressão dentro de uma forma mínima de comunhão essencial. Quando o encontro se afunila na dimensão instituição vocacional, onde, por vezes, a comunhão é mais aparente e menos expressiva, não raramente se apaga o entusiasmo da procura, ficando-se no isolamento. Talvez esteja por aqui a explicação das dificuldades de compromisso.

Pergunto: quando na Igreja falamos de “novas vocações” só nos estamos a referir a novas admissões vocacionais nas nossas instituições ou atrevemo-nos a vislumbrar o caminho de cada pessoa como uma vocação de original consagração? Na parábola dos talentos que Jesus, vislumbra-se naquela afirmação “colho onde não semeei” algum espaço para a originalidade e a criatividade, partindo do pressuposto de que cada vida é um talento ou um talento pode valer a totalidade de uma vida. Prova-o o testemunho do jovem Carlo Acutis que, iluminado pelo Espírito Santo, soube fazer uma bela síntese entre os seus gostos e qualidades pessoais e a Eucaristia e a evangelização. Esta vida sugere que entre o Batismo e as formas institucionais das vocações, há um mar imenso de possibilidades de realização vocacional batismal.

Na sua mensagem para o 60º Dia Mundial de Oração pelas Vocações (30/04/2023), o Papa Francisco falou-nos da Vocação como “graça e missão”. Se, por um lado, “não há vocação sem missão”, por outro, a vocação é uma graça, um dom gratuito, antes de mais, para cada pessoa entendida pelo Santo Padre como uma “missão nesta terra”.

Sendo assim, ao mesmo tempo em que nos preocupamos com o número de vocações de consagração para a urgente missão das comunidades, não será cada comunidade chamada a ocupar-se de cada história vocacional pessoal, reconhecendo os carismas? Uma ideia poderia ser, como mero exemplo, a par do acompanhamento e da celebração da Confirmação, propor a cada jovem que escolhesse um/a animador/a vocacional que o acompanhasse no discernimento do seu perfil vocacional ou entrega original na missão da Igreja. Quase sempre se pensa e age em relação aos jovens do ponto de vista de uma ocupação comunitária, pensada, muitas vezes, como “contrato por tempo limitado”, até que vá para a universidade ou que cresça até uma certa idade, onde o elã vocacional pode ser suplantado pela formação e por uma mera procura de profissão rentável.

Assim, poderá vir a acontecer com as vocações de especial consagração o que já acontece com os ministérios e as profissões: por um tempo determinado ou a termo. No sentir do Papa Francisco, a alegria é primeiro sinal de que uma pessoa se sente no caminho certo, sentimento de quem não procura uma paga, mas de quem descobre que “há mais alegria no dar que no receber” (Act 20,35).

Pe. António Jorge dos Santos Almeida

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