Voz do Pastor
A Sagrada Família de Jesus, Maria e José é um modelo de vida e de virtudes para todas as famílias. A família é a célula base da sociedade, a família cristã é uma pequena “Igreja doméstica” onde se aprende a escutar a Deus, a amar, a evangelizar, a rezar, a cuidar e a servir o próximo à luz dos ensinamentos de Jesus.
A família cristã é uma verdadeira comunidade de vida e de amor, abençoada por Deus no Sacramento do Matrimónio e constituída testemunha do amor de um homem e uma mulher, que vivem de modo estável a sua entrega recíproca na indissolubilidade, na unidade e na fidelidade.
A festa da Sagrada Família desafia a Igreja, as famílias cristãs e todos os casais e agentes de pastoral a trabalhar pelo bem da família através de equipas da pastoral familiar, dos movimentos laicais e familiares de modo que se organizem em cada paróquia, arciprestado e diocese equipas de pastoral familiar, unidas e organizadas para ajudar as famílias a viver este ideal de vida e de amor, através de uma pastoral orgânica e de comunhão. O apostolado familiar é uma preocupação da Igreja e da diocese, que deve defender com a graça do Espírito Santo a família das várias ameaças do nosso tempo, que tentam destruir a grandeza deste sacramento. Imitar as virtudes da Sagrada Família de Nazaré deve ser um desafio para cada cristão, para todas as famílias de modo, que sejam fiéis aos mandamentos do Senhor e ao respeito pela vida humana, desde o momento da conceção até à morte natural.
A família humana é o santuário da vida e do amor, que deve ser respeitada como dom de Deus, inviolável e sagrada em todas as fases da sua existência. É preciso defendê-la ainda na sua missão na Igreja e no mundo, mesmo no meio das mais diversas complexidades da vida, valorizando a sua dimensão humana e cristã com a missão de ser uma referência moral no respeito pela vida, na educação dos filhos, na escola de fé e na transmissão dos verdadeiros valores.
O Papa São Paulo VI na sua alocução em Nazaré, a 5 de janeiro de 1964, afirmava o seguinte: “Nazaré é a escola em que se começa a compreender a vida de Jesus, é a escola em que se inicia o conhecimento do Evangelho. Aqui se aprende a observar, a escutar, a meditar e a penetrar o significado tão profundo e misterioso desta manifestação do Filho de Deus, tão simples, tão humilde e tão bela”.
Talvez aprendamos também, quase sem dar conta, a imitar as virtudes da Sagrada Família de Nazaré, tendo presente os ensinamentos breves de São Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI e o Papa Francisco no seu Magistério, cuja nascente foi a Gaudium et Spes nº 49 a 52, do Concílio Vaticano II.
A primeira lição é do silêncio. “Oh se renascesse em nós o amor ao silêncio, esse admirável e indispensável hábito do espírito, tão necessário para nós, que nos vemos assaltados por tanto ruído, tanto estrépito e tantos clamores, na agitada e tumultuosa vida do nosso tempo!” (São Paulo VI em Nazaré).
O silêncio de Nazaré ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. A escola de Nazaré ensina-nos o valor da formação, do estudo, da meditação e da oração interior.
A segunda é uma lição de vida familiar. “Que Nazaré nos ensine o que é a família, a sua comunhão de amor, a sua austera e simples beleza, o seu carácter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré como é preciosa e insubstituível a educação familiar e como é fundamental e incomparável a sua função no plano social” (São Paulo VI em Nazaré).
A terceira é uma lição de trabalho. “Nazaré a casa do Filho do carpinteiro! Aqui desejaríamos compreender e celebrar a lei, severa mas redentora do trabalho humano, restabelecer a consciência da sua dignidade, de modo que todos a sentissem; recordar aqui, sob este teto, que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que a sua liberdade e dignidade se fundamentam não só em motivos económicos, mas também naquelas realidades que o orientam para um fim mais nobre” (São Paulo VI em Nazaré).
As Famílias são convidadas a caminhar com a Virgem Maria, São José e Jesus, a pedir o dom da Paz para o mundo. “Famílias que rezam unidas, caminham e permanecem unidas” (D. António dos Santos).
Convido as famílias da nossa Diocese a olhar para Maria no início do ano civil e a pedir à “Santa Mãe de Deus” e “Rainha da Paz” o dom da paz para o mundo.
Rezemos de modo especial pelas famílias em crise, em dificuldades, doentes, fragilizadas e separadas, para que encontrem o caminho da renovação, da unidade e da estabilidade humana e social na pessoa de Jesus de Nazaré.
Empenhemo-nos todos na construção da paz, no crescimento da pastoral familiar, na renovação da Igreja para que, imitando as virtudes de Jesus Maria e José, caminhemos todos juntos no caminho sinodal, na santidade e no “progresso da ciência e da tecnologia como caminho para a paz como afirma na sua mensagem o Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2024.
Peçamos a Jesus o Príncipe da Paz, a “Raiz da nossa Alegria”, a Santa Maria, a Mãe de Deus, a Rainha da Paz, e a São José um Ano Novo de 2024 cheio de dons de modo a sermos nas nossas comunidades eclesiais, na família e no mundo verdadeiras “Raízes da Alegria” de Jesus, o Salvador da humanidade, que nasceu na noite santíssima de Belém para o nosso bem. Ámen!
António Luciano, Bispo de Viseu