Voz do Pastor
Assinalam-se os 50 anos da Revolução do 25 de Abril.
A queda do antigo regime totalitário deu início a um tempo novo, marcado pela democracia e pela vivência da liberdade em expressão plural e responsável. O povo português aderiu em massa aos ideais de abril.
O Movimento das Forças Armadas, dinamizado por oficiais, sargentos e praças, militares dos três ramos, pôs fim de modo pacífico à ditadura do Governo do Estado Novo.
Este acontecimento marcante da história de Portugal ficou conhecido como a Revolução dos Cravos, que fez nascer um novo regime democrático, iniciando-se assim um novo período da história de um povo, marcado pela liberdade, democracia e pluralismo de opinião como base para a construção de uma sociedade mais desenvolvida, justa e fraterna.
O caminho da liberdade iniciado então é composto por muitas características assentes na Carta Universal dos Direitos Humanos.
A revolução abriu caminho a ventos novos de liberdade na responsabilidade e na corresponsabilidade na construção de uma sociedade pluralista, aberta a todos e assente nos valores humanistas, éticos e cívicos próprios da democracia sonhada na revolução de abril.
O salto qualitativo que a sociedade portuguesa foi chamada a dar e a assumir, diante dos ventos de mudança, rumo a um futuro melhor não é ainda uma vitória totalmente alcançada. Apesar de terem passado 50 anos, ainda pairam no ar sinais de polarização política que se vivem no crescimento de alguns populismos e extremismos, que se opõem aos valores de abril.
Devemos estar atentos e vigilantes no compromisso de um bem maior de todos, no respeito pelas diferenças e minorias, sabendo que em democracia deve contar a quantidade, mas não esquecer a qualidade de vida, a defesa dos direitos humanos e os valores bases de uma sociedade livre e democrática.
A luta pela liberdade alcançada continua hoje, numa sociedade que se quer pluralista, democrática, livre, responsável e participativa.
Num momento importante da história do nosso país, integrado numa Europa democrática, livre e desenvolvida é muito importante para a vida pessoal de cada um e para a vida comunitária dos cidadãos formar a consciência naqueles valores que nos levam a defender a democracia como um bem fundamental para os povos. Ao mesmo tempo, devemos estar abertos à solidariedade daqueles que se sentem mais excluídos da nossa sociedade. A esse respeito, lembro as palavras dos Bispos Portugueses, no âmbito da comemoração dos cinquenta anos do “25 de Abril”, que citando a Carta Pastoral de maio de 1973 diziam: “Não poderemos descansar enquanto a expansão económica favorecer desmedidamente alguns, sem proporcionar a todos os cidadãos a parte equitativa que lhes cabe na produção e distribuição dos seus bens”.
Estas palavras continuam atuais, cinquenta anos depois, e por isso os Bispos portugueses fazem um apelo: “No que à democracia diz respeito, é necessário que ela conte com a liberdade e a responsabilidade dos cidadãos, devidamente respeitados e estimulados para o incremento do bem comum” (Nota Pastoral da CEP sobre os “50 anos do 25 de Abril, 2024).
Os ideais de abril nunca estão acabados, eles fazem parte de um caminho quotidiano assente em valores humanos, éticos e de cidadania, que respeitam e promovem a dignidade da pessoa humana.
Os Bispos Portugueses terminam a sua mensagem com um desejo: “Neste momento comemorativo do “25 de Abril” também os quatro princípios permanentes da Doutrina Social da Igreja – dignidade da pessoa humana, bem comum, subsidiariedade e solidariedade – nos levarão a prosseguir na senda então aberta” (Ibidem).
Formulo votos para que os valores de abril ajudem os cidadãos na renovação, modernização, inovação e desenvolvimento de Portugal, procurando zelar pelos direitos e deveres de todos, defendendo os valores da liberdade, da igualde e da democracia.
Participemos todos na construção de uma sociedade civil através da abertura a um pluralismo político sadio, eleições livres e liberdade do uso dos meios de comunicação social.
Faço um apelo aos católicos, politicamente comprometidos, no Governo, nas autarquias, organismos e instituições de solidariedade social, para que contribuam para erradicar a pobreza, o desemprego, as injustiças, a corrupção e as desigualdades sociais que criam tantas vulnerabilidades na vida das pessoas.
Parabéns a Portugal! Viva o “25 de Abril”! Sejamos construtores de uma sociedade de paz e desenvolvimento, onde haja lugar para todos.
Sejamos todos cidadãos guardiães da liberdade responsável e da democracia alcançada para a construção de uma sociedade plural, desenvolvida, próspera, justa, solidária e fraterna.
+ António Luciano, Bispo de Viseu