Reunimo-nos à volta da mesa eucarística para nos alimentarmos de Cristo. É por isso que a Igreja nasce e renasce em torno do altar e os cristãos não podem viver sem a Eucaristia. “Este pão é o que desce do céu. Quem come este pão viverá eternamente” (Jo 6,58).
Dizer que pão é pão… é uma coisa trivial. Jesus vai além, lembrando que o pão é um dom, um dom de si mesmo, um desejo de que o outro viva. O pão não foi inventado só porque alguém estava com fome e encontrou uma solução temporária para o seu problema, não! O pão foi inventado por alguém que queria que os outros vivessem. O verdadeiro alimento que nutre é indissociável do desejo que o outro vive! E Jesus diz isso não apenas em referência ao pão material, mas referindo-se ao seu próprio Corpo.
Este é o testemunho que Cristo nos dá até ao fim dos tempos. E se ele quis que a sua memória fosse celebrada na repetição da sua Última Ceia e na memória das suas palavras, é para que possamos ter uma medida e um modelo para nos relacionarmos. Em cada Eucaristia reunimo-nos para celebrar o dom sacrificial que Jesus faz de si mesmo, a transformação da vida em alimento, da própria carne em alimento. A questão é se então, à semelhança de Jesus e do que ele fez por nós, a nossa vida também se torna alimento para os outros.
À mesa Jesus dá-nos a grande prova de amor, mas também a grande lição. A Eucaristia é uma lição. Uma lição real e persistente. Vamos à Eucaristia para aprender com Jesus como fazê-lo, e todos precisamos amadurecer para fazer dos nossos dias, do nosso ter e do nosso conhecimento um dom que nutre. Porque sabemos que o pão pode endurecer no alforje. Ele pode morrer sem ter cumprido sua missão. Se o pão não for colocado na mesa e servido, perde-se. O pão que não é oferecido imediatamente torna-se rapidamente um desperdício. E até a nossa vida pode ser perdida. Por isso, a palavra do Evangelho é: quem quiser ganhar a vida deve dar-se, deve entregar-se (Cf. Mt 16,25). Não é automático. Podemos viver uma vida inteira sem que nosso corpo sirva de alimento para alguém. Podemos viver no egoísmo, subjugados por aquela ditadura da indiferença de que fala o Papa Francisco, afundados numa zona de conforto que torna a nossa vida impermeável. Ninguém vem ao nosso encontro porque vivemos numa cápsula, protegendo-nos de tudo e de todos. Quando nos comportamos assim, nossa vida não se torna alimento para ninguém. (…)
Todas as vidas caem na imagem diária de partir e dividir o pão. Porque a vida é algo semeado, crescido, amadurecido, colhido, triturado, amassado: é como o pão. Porque não nos limitamos a saborear e consumir o mundo: percebemos dentro de nós que por sua vez o mundo, o tempo, também nos consome, nos desgasta, nos devora. Somos massa que quebra, miolo que esfarela, espessura que diminui, alimento que se distribui. A questão está em saber com que consciência, com que sentido vivemos este ciclo inevitável. (…)
Para nós, cristãos, a Eucaristia é o lugar vital para decidir o que fazer da vida. Porque todas as vidas são pão, sim, mas nem todas são “eucaristificadas”, isto é, configuradas em Cristo e assumidas, no seu seguimento, como oferta radical de si mesmo, como dom, dom vivo, como serviço de incondicionalidade.
A Eucaristia é fonte, centro e ápice da nossa vida. Se você pensar bem, um cristão não tem outro programa além deste. (…) Somos construídos e gerados pela Eucaristia. (…)
Card. Tolentino Mendonça
Encontro Internacional das
Equipas de Nossa Senhora 2024