Todos conhecem o mestre dos trillers relacionados com o mundo do direito e do crime que é John Grisham. Ele, o mestre da ficção, conta uma história que nada tem a ver com ficção… Conta ele que quando era estudante da Faculdade de Direito, um amigo – e colega de curso – convidou-o para almoçar. Ao almoço, esse seu amigo disse-lhe que tinha cancro e que os médicos não lhe davam muito tempo de vida. Grisham ficou chocado com esta notícia, e perguntou ao amigo: “o que é que a gente faz quando temos consciência que estamos a morrer?” O seu amigo respondeu: “É muito simples… acertas as contas com Deus, tentas passar o maior tempo possível com aqueles que amas, depois tentas deixar as coisas o melhor possível com os demais.” E, depois de ter pensado mais um pouco, acrescentou: “Sabes, realmente, devemos viver todos os dias como se tivéssemos apenas mais alguns dias de vida”. Diz o grande escritor que aquele conselho lhe bateu fundo: “Realmente devemos viver todos os dias como se tivéssemos apenas mais alguns dias de vida”. Nunca mais esqueceu aquele conselho e passou a pautar os seus dias com essa máxima.
E acho que é isso que tem piada… este quase-jogo de crianças: “tu, põe-te à alerta porque eu vou aparecer de repente!” Então a outra criança aprende a arte da espera! (…)
Há 250 milhões de anos, não sei se sabem, o nosso planeta foi ao médico… queixava-se de várias coisas… as temperaturas estavam a subir perigosamente, um mal estar global… e nós sabemos que as temperaturas altas não nos fazem bem… e o médico disse “Sr. Mundo, tem que começar a ter juízo. Olhe que já tem muitos milhões de anos, já não é propriamente um jovem, e se não mudar de vida, não lhe dou mais 250 milhões de anos de vida… Assim, você não chega a velho!”… Mas o mundo tomou consciência, nessa altura, que não se dura para sempre… É evidente que The New York Times não falou deste assunto da maneira pouco séria com que eu falei… porque com coisas sérias não se brinca como eu costumo brincar. Mas, em 2018 apareceu um artigo no The New York Times sobre o facto de que, há 250 milhões de anos atrás, o planeta viu um aquecimento global repentino que varreu praticamente quase tudo o que era vivo da face da terra. Nos oceanos 96% das espécies se extinguiram. O aquecimento global retirou o oxigénio dos oceanos e muitas espécies não sobreviveram. E, no entanto, cá estamos… a vida, oferecida como um dom, como uma segunda oportunidade…
A vida, condimentada com um sentido de urgência, um reconhecimento do imenso valor de cada dia e do como o gastamos! O que é limitado é aquilo que, precisamente, tem mais valor. O que quer que não possa ser reclamado, uma vez passado, é infinitamente precioso e alarmantemente urgente. (…)
Estejamos conscientes do quão precioso é o nosso tempo, para que possamos levar mais a sério aquilo que o amigo do John Grisham disse: “tens de viver cada dia como se tivesses só mais alguns dias de vida”… E ele até já deu as pistas do que se deve fazer: “acertar as coisas com Deus”; “passar o maior tempo possível com as pessoas que amamos”; “e então também tentar ficar de bem com todos os outros”…
Pe. Humberto Martins, Sacerdote Dehoniano