O percurso do Seminário Maior de Viseu, que assinala, este ano, 200 anos no atual edifício, antigo convento dos padres do Oratório de São Filipe de Néri, foi recordado pelo Cardeal-patriarca Emérito de Lisboa, D. Manuel Clemente, ontem, dia 7 de novembro, no auditório do respetivo seminário. A sessão iniciou-se ao som do Coral Lopes Morago, um grupo constituído por antigos alunos do seminário.
Com o mote ‘Seminário, uma história que continua’, o orador contextualizou o percurso desta instituição, que se iniciou com uma dimensão muito pequena, junto à Sé de Viseu, em 1587, com o Bispo D. Nuno de Noronha, tendo-lhe sido dado o nome Seminário de Nossa Senhora da Esperança, que se mantém até hoje. Na altura foi uma novidade que surgiu do Concílio de Trento e que permitiu a criação dos seminários nas dioceses como centros de formação.
Apesar de nascer num contexto pequeno, o Seminário foi crescendo ao longo dos séculos e, em 1824, no tempo do Bispo D. Francisco Alexandre Lobo, é que se mudou para o atual edifício onde permanece hoje, que foi doado pelos oratorianos. Fruto das decisões políticas que afetaram o país e que levaram, em 1834, à extinção das Ordens Religiosas, o Estado reivindicou o edifício, apesar dos protestos do então cónego José António Pereira Monteiro. Durante esse período, chegou a albergar um Regimento de Infantaria e serviços do Governo Civil. Só em 1968 voltou à sua função como seminário destinado à formação.
A importância dos seminários e a forma como devem ser vistos pela Igreja foram também aspetos abordados na conferência por D. Manuel Clemente, que defende que a “formação nos seminários deve ser ligada às várias instâncias da Igreja onde a vida acontece”. Do seu ponto de vista, “o seminário não deve ser visto como mosteiro, no sentido de lá se isolarem os ministros da Igreja para depois serem devolvidos à sociedade”, uma mentalidade que diz ser ultrapassada.
“As vocações nascem numa realidade geral, quando nós nascemos e onde nos somos criados, portanto a formação dos ministros da Igreja deve ser feita resguardada, mas deve ser articulada com as várias instâncias onde a vida acontece”, realçou.
Na conferência estiveram presentes o Bispo da Diocese de Viseu, D. António Luciano, acompanhado por Fátima Eusébio, coordenadora do Departamento dos Bens Culturais da Diocese de Viseu, que fez a apresentação introdutória de D. Manuel Clemente.
O Bispo agradeceu ao Cardeal Patriarca “a viagem por tantos séculos” e pela chamada de atenção para este problema da Igreja que se prende com a formação do clero. “Se tivermos um clero bem formado temos também um povo de Deus conhecedor da verdade da fé, não só para a poder viver, mas também para a testemunhar”, realçou o Prelado.
Na sua perspetiva, esta conferência serviu ainda para consciencializar sobre aquela que é a missão da nova evangelização no projeto dos seminários, porque é lá que está o âmago do coração daquilo que será a vida e o pulsar da própria Igreja”, concluiu o Bispo.