Para o Cardeal D. José Tolentino Mendonça, “uma Igreja maníaca da organização e da ordem, obcecada pelo regime da pureza distancia as pessoas. Torna-se um lugar de cerimónia, estático e correto como um museu, mas deixa de ser um território de celebração da vida, atravessado pelo quotidiano, pela sua turbulência e pelas suas pegadas. Fica sequestrada pelo formalismo e pelo zelo, em vez da misericórdia e da alegria” (A Vida em Nós, Aforismos, Quetzal, 2024, p. 31). A afirmação é muito oportuna e leva-nos a elogiar a preferência pelo método sinodal, defendido pelo Papa Francisco.
O Documento Final do Sínodo dos Bispos merece uma especial atenção e uma leitura cuidada. (…) Torna-se, de facto, necessária uma linguagem adequada ao tempo presente: há uma comunhão de Igrejas, reportando-nos ao povo de Deus, como corpo unido em Cristo. O universalismo não pode, assim, confundir-se com uniformização. As igrejas locais correspondem a diferentes maneiras de viver as relações entre cristãos. (…) As diferenças e as complementaridades devem ser valorizadas, mercê de uma riqueza que deve ser compreendida como compromisso de fé.
“Devemos tornar-nos uma espécie de centro no qual as diferentes pessoas possam reconhecer-se como irmãos e irmãs, filhos de um único Pai”. No número 76 do Documento Final especifica-se que “não se trata de contrastar o que o ministro ordenado pode fazer em contraste com o que leigo pode fazer”. Estamos perante uma ideia diferenciada de serviço, que pode ser vivida de forma integrada e dinâmica, não sendo os leigos subalternos ou substitutos. Isto aplica-se nas áreas mais remotas, mas também na Europa bastante secularizada onde devemos pensar em alargar a participação dos cristãos, uma vez que a Igreja deve ser entendida não numa visão piramidal, mas comunitária. Na liturgia, este tema é um dos que ainda devem ser avaliados, não havendo uma ideia de substituir presbíteros por leigos. Aliás, a importância da Eucaristia dominical teve especial destaque nos trabalhos sinodais, como “um lugar onde se aprende e também se pode compreender simbolicamente o que significa construir comunidades que vivam autenticamente o Evangelho”. (…)
Entretanto, (…) são estes os temas considerados relevantes na perspetiva sinodal missionária: 1. Alguns aspetos das relações entre Igrejas Orientais Católicas e Igreja Latina; 2. A escuta do grito dos pobres; 3. A missão no ambiente digital; 4. A revisão da Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis; 5. Algumas questões teológicas e canónicas em torno das formas ministeriais; 6. A revisão dos documentos que regulam as relações entre bispos, vida consagrada e realidades eclesiais; 7. Alguns aspetos da figura e do ministério do bispo (em particular: critérios de seleção dos candidatos ao episcopado) 8. O papel dos representantes pontifícios; 9. Critérios teológicos e metodologias sinodais para um discernimento partilhado de questões doutrinais, pastorais e éticas controversas; 10. A receção dos frutos do caminho ecuménico nas práticas eclesiais. São temas de grande significado que merecem uma ponderação refletida, importando, no fundo, dar continuidade ao método, com abertura efetiva à participação e à partilha de responsabilidades dos cristãos.
Guilherme d’Oliveira Martins
In 7Margens