Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Este título levanta a suspeita de que, mesmo os que afirmam convictamente que são católicos praticantes, o mais certo é serem praticantes não se sabe bem de quê, misturarem atos religiosos com algo de supersticioso e desconhecerem os fundamentos da doutrina cristã.

Quando olhamos para a debandada de crianças e adolescentes após fazerem ‘as comunhões todas’ sem que tenham absorvido o que a catequese lhes ensinou; quando observamos quão poucos são os jovens adultos a ocupar os bancos das igrejas nas celebrações litúrgicas; e quando pomos os olhos nas rugas das pessoas de terceira idade que ainda vão cumprindo os seus deveres religiosos conforme o que aprenderam no seu tempo de catequese, teremos de achar oportuna a afirmação de que são poucos os verdadeiros praticantes e de que são muitos os que desconhecem os fundamentos da fé.

Comecemos por refletir sobre o que é ser praticante. Gramaticalmente, sabemos que o verbo praticar pressupõe alguém que realiza uma ação – aquela ação que o verbo põe em evidência. Um praticante é praticante de alguma coisa. (…) Há trabalhadores que trabalham, mas outros só engrossam o número, porque a preguiça lhes invadiu a vida. Não conhecem estudantes que não estudam, jogadores que não jogam, cidadãos que se estão nas tintas para os deveres de cidadania? Pois bem, são pessoas que não praticam o que lhes competia praticar – são trabalhadores inativos e, mesmo assim, não perdem o «título» de trabalhadores. O mesmo acontece com a religião. Há quem se diga crente e praticante só de «título» porque, de facto, as suas manifestações religiosas e posturas de comportamento moral e social são de quem não crê. (…)

O Concílio de Trento, no século XVI, é o responsável pelo sentido ritualista e sacramental que se deu à expressão «católico praticante». O católico praticante era quem cumpria os deveres ‘religiosos’ – numa palavra, os sacramentos, os atos litúrgicos, os mandamentos da Lei de Deus e da Igreja. Acontece que, com o andar dos tempos, a sociedade deixou de ser religiosa em favor da mentalidade laicista que os últimos séculos despoletaram. Hoje a sociedade é laica no seu agir. E a influência do laicismo atingiu de morte as comunidades cristãs. A consequência é visível: por causa do relativismo e da indiferença religiosa de muitos cristãos atuais que a Igreja é vista como uma espécie de laboratório, com muitas espécies de crentes «praticantes». Eis algumas. Há o crente alpinista – vai à igreja, mas a sua atenção está em olhar para o alto, à procura de teias de aranha. Há o crente noiva – chega sempre atrasado. Há o crente chiclet – só mastiga a Palavra, mas não se alimenta dela. Há o crente peixinho – nada, nada, rezar nada, jejum nada. Há o crente 007 – disfarçado, ninguém sabe em que consiste o seu cristianismo. Há o crente jornal de notícias – sempre a murmurar e a comentar a vida alheia. Há o crente turista – passeia de igreja em igreja, sem se comprometer com nada. Há o crente de cristal – em quem não se pode tocar. (…)

É preciso ter muita coragem para ser católico a sério. A Exortação Apostólica “Evangelli Gaudium” do Papa Francisco fala da necessidade de se passar da mística do católico praticante de atos ritualistas para a espiritualidade do “seguidor de Cristo” e “missionário do seu Evangelho”. O tempo do católico praticante já deu o que tinha a dar. Chegou a hora de um novo espírito, de uma mística mais evangélica centralizada nos verbos “seguir” e “evangelizar”.

Manuel Maria Madureira da Silva

In Revista Eborensia, ano XXX, nº51

CategoryIgreja

© 2016 Diocese de Viseu. Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento: scpdpi.com

Siga-nos: