Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Para quem cresceu a ver o filme Ratatui, é difícil equacionar que seja negativo dizer que “a montanha pariu um rato”.

Ora, geralmente, quem afirma que o Sínodo foi uma montanha que pariu um rato, di-lo com duas entoações diferentes. A primeira muito semelhante a uma “eu avisei”. A segunda muito próxima a um “não contem mais comigo”. No entanto, ambas as posições parecem ter pouca sofisticação e são em si contraditórias. No caso da primeira, quem o diz festeja o facto de o Sínodo não ter alcançado aquilo que elas próprias não queriam que ele alcançasse. E no caso da segunda, porque o Sínodo não alcançou aquilo que elas queriam impreterivelmente que alcançasse.

Ora, é aqui que se mostra a contradição e, em ambos os casos, o motivo é o mesmo: o Sínodo foi mesmo um Sínodo, ou seja, evoluiu, mudou de rumo, voltou atrás, repisou perguntas, ponderou respostas… Ou seja, quem desejava ardentemente um Sínodo e agora está desiludido com o resultado, porque não tem as respostas que queria, aparenta-se com aqueles que defendem a democracia e as eleições livres, mas, quando o resultado não lhes agrada, se apressam a dizer que o povo é ridículo, inculto e ingrato. Quem não desejava um Sínodo, proclamava que este era a deturpação da Igreja, e agora se ri de mansinho por aquilo que é proposto no documento final não prometer uma “revolução”.

Mas terá sido mesmo assim? Terá o Sínodo ficado mesmo aquém? Na Igreja, é necessária uma conversão das relações, para que ocorra uma conversão das estruturas. Porque a conversão ou a conservação das estruturas – que, na verdade, para serem autênticas, não existem uma sem a outra, – só acontece verdadeiramente por esta via. (…)

Querem-se normas. Exigem-se mudanças. Reclamam-se diretrizes. Mas talvez seja preciso romper a surdez. E deixar de lado a consolação quando o magistério diz o que já sabemos ou queremos ouvir. (…) Por isso, importa perguntar: de que modo as decisões e orientações pastorais são reflexo dos consensos dos fiéis? Elas são fruto de um “estilo peculiar que qualifica a vida” através da radicalidade do batismo, ou da arbitrariedade? Não sendo a Igreja estruturalmente uma democracia, não terá esta certeza nos distraído de procurar, promover e implementar estruturas mais comunitárias, que sejam expressão de uma Igreja-comunhão, e não de uma participação à partida “cativa” da hierarquia? (…)

Além destas questões, creio que o Sínodo tornou incontornáveis duas reflexões. Em primeiro lugar, a reflexão sobre a necessidade de transparência, tantas vezes analisada como uma cedência “ao espírito do mundo”, mas que o Sínodo sintoniza na correspondência à “bem-aventurança evangélica dos puros de coração”. Em segundo lugar, a necessidade de transição da conceção de lugar como espaço físico – no qual se sedia uma comunidade – para a de “território existencial”, considerando que “a paróquia não está centrada em si mesma”.

Mas o Sínodo que termina fornece ainda uma leitura importante para os mais recentes dados vindos dos sinais dos tempos. A frase de Karl Rahner dizendo que “o cristão do futuro será místico ou não será” tornou-se um lugar comum da espiritualidade cristã. Mas isso nunca acontecerá enquanto não formos exorcizados do nosso pequeno mundo e o Sínodo é a melhor maneira de o fazer.

Pe. João Bastos, In Pontos SJ

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