Senhor eu espero em Ti e confio na tua Palavra
As palavras do Salmista são um convite forte para escutar a Palavra de Deus, verdadeiro alimento para a vida da Igreja e dos seus fiéis. É preciso alimentar a fé com a Palavra de Deus e fazer dela a força interior, que com entusiasmo nos convida a fazer a Peregrinação de Esperança ao longo deste Ano Jubilar.
Saborear a Palavra de Deus, que é mais doce que o mel, é encontrar a forma natural de alimentar a vida cristã e espiritual. Devemos fazê-lo, diariamente, com a escuta da Palavra de Deus, com a meditação e a reflexão orante da Bíblia através da prática da “Lectio Divina”.
O estudo da Palavra de Deus deve ser feito na Escola de Jesus, como prioridade, a nível pessoal e comunitário, procurando conhecer as verdades divinas anunciadas e reveladas ao longo da História da Salvação pelos Profetas e confiadas por Jesus Cristo aos Apóstolos e à Igreja, para as anunciarem até aos confins da terra.
Durante este mês de janeiro, as comunidades cristãs em caminho sinodal e jubilar, devem preparar e viver intensamente dois eventos eclesiais importantes e marcantes para a vida da Igreja.
O primeiro é a celebração da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, tema importante para refletir e ser rezado na atualidade, por todos cristãos empenhados na construção de caminho sinodal empreendido pela Igreja. O Documento Final da XVI Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre a comunhão participação e missão, fala da importância e prática do Ecumenismo na vida da Igreja, nas diversas Igrejas cristãs e em concreto nas nossas comunidades, onde hoje chegam cristãos vindos das mais diversas latitudes. “A unidade da Igreja não é a uniformidade, mas a integração orgânica das legítimas diversidades” (NMI 46).
O tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que se celebra de 18 a 25 de janeiro de 2025, tem a ver com a seguinte pergunta de Jesus feita a Marta: “Crês nisso?”
A pergunta que Jesus fez a Marta tem a ver com o sofrimento diante do episódio da morte de seu irmão Lázaro e do diálogo sobre a sua identidade como Messias: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês nisso?” (Jo 11, 25,26).
Jesus desafia Marta na sua fé e na sua esperança e ela responde: “Creio na vida eterna”. Este desafio também é nosso e de todos aqueles que experimentam o Ecumenismo e passam por muitas perguntas e respostas na caminhada da fé, que devem ser dadas de muitas formas de viver e testemunhar a vida em Cristo Ressuscitado.
A Diocese de Viseu precisa de dar passos concretos nesta matéria, pois eu anseio por um encontro ecuménico vivo, bem preparado com todos os cristãos das diversas religiões, que vivem no meio de nós. Temos que dar passos nesta caminhada ecuménica no encontro com os nossos irmãos de outras religiões, que se encontram no meio de nós, quer através de celebrações, orações e diálogo fraterno.
A Igreja celebra no dia 19 de janeiro, pela sexta vez, o Domingo da Palavra de Deus, que foi instituído pelo Papa Francisco. É um Domingo principalmente “dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus” (Aperuit Illis,3) para chamar a atenção de todos os fiéis para a centralidade da Sua Palavra na vida dos batizados e das comunidades eclesiais. Como nos recorda o Concílio Vaticano II, Deus é o autor da Sagrada Escritura, fala-nos através da Sua Palavra e comunica-se a cada um de nós como a um amigo. “Nos Livros santos, com efeito, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro dos seus filhos, a conversar com eles” (DV 21).
Ao celebrarmos, ao longo deste ano, o grande Jubileu com o lema “Peregrinos de Esperança”, o Papa Francisco escolheu com fonte de inspiração e celebração deste Domingo da Palavra, as palavras do Salmista: “Espero na tua Palavra” (Sl 118/119, 74).
Esta prece cheia de esperança e confiança no Senhor deve ajudar todos os batizados a fazer a Peregrinação da Esperança alimentados pela Palavra de Deus, que dá sustento à nossa vocação cristã.
São Paulo afirma, que “Cristo é a nossa esperança” (1Tm 1,1), na verdade Ele apresentou-se publicamente na sinagoga de Nazaré, como Aquele que realiza a promessa de que a Boa Nova do Evangelho é anunciada aos pobres e nos oferece em plenitude, “o Ano da graça do Senhor”, o “Ano Jubilar da Esperança”, que estamos a celebrar.
Convido todos, neste Domingo da Palavra, a renovarmos a nossa esperança no Senhor, porque Ele é fiel à Palavra do seu amor por nós. Ele realiza todas as suas promessas por nós a fim de alcançarmos a salvação eterna. Esta é a razão porque a esperança não nos desilude (cf. Rm 5,5), porque a Sua Palavra foi derramada em abundância nos nossos corações. “As Palavras do Senhor são espírito e vida”.
Devemos dar mais atenção ao estudo e meditação da Palavra de Deus nas nossa paróquias e comunidades, através de cursos, reflexões, meditações, orações e estudo. Precisamos de criar grupos bíblicos nas famílias, nas comunidades e em todos os espaços da pastoral, pois “ignorar a Sagrada Escritura é ignorar o próprio Cristo” (São Jerónimo).
Peço a todos os sacerdotes que dinamizem com todos os agentes da Pastoral, principalmente os leitores e catequistas o Domingo da Palavra de Deus, uma festa na comunidade e entronizem a Palavra de Deus numa mesa devidamente ornamentada, para todos percebermos com alegria e fé, o lugar que a Palavra de Deus ocupa na vida da Igreja, na Liturgia, nos sacramentos, na oração, na formação cristã e na vida de caridade dos fiéis. Deus está presente na Sua Palavra e convida-nos à conversão, ao arrependimento dos pecados e a sermos discípulos missionários na Igreja para transformação do mundo.
O verdadeiro discípulo de Cristo cumpre as suas Palavras, porque “são palavras de vida eterna”. Guardar a Palavra do Senhor no coração, como fez Maria de Nazaré, é um sinal de maturidade interior, de grandeza na fé e de testemunho da esperança. O Apóstolo São Pedro, que disse a Jesus: “A quem iremos Senhor, só Tu tens Palavras de vida eterna, foi o mesmo que afirmou: “À Tua palavra, Senhor, lançarei as redes” (Lc 5,5), o que significa “confio em Ti Senhor”, é o mesmo que afirmar “eu sei em quem acreditei, eu sei em quem pus a minha fé”. Que Maria, a mulher da Escuta e da Palavra, nos ensine a guardar a Palavra de Deus no nosso coração e a pô-la em prática na nossa vida.
+António Luciano, Bispo de Viseu