A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

O apoio domiciliário não é uma intuição nova. Começou, há 407 anos, resultante de um olhar atento e compassivo sobre a fragilidade da condição humana. Naquela manhã de domingo, o Padre Vicente preparava-se para a celebração da Eucaristia. Por ali, passam sempre as últimas notícias a levar ao pároco. Ouçamo-lo contar o que se passou:

«Veio alguém dizer-me que numa casa isolada, vivia uma família cujos elementos estavam todos de cama. Não havia ninguém que pudesse assisti-los e padeciam todos de grande necessidade. Comoveram-se-me as entranhas. À homilia, recomendei-a com grande interesse. E Deus, moveu toda a assembleia à compaixão, por esses pobres aflitos. Depois do jantar (almoço), reunimo-nos na casa de uma boa senhora fidalga para estudar o modo de socorrer essa família. Todos se mostravam dispostos a ir visitá-los, consolar de palavra e ajudá-los como pudessem». (1)

E, para que perdurasse e não fosse somente resultado da emoção do momento, o Padre Vicente de Paulo elabora um regulamento de que passo a transcrever alguns parágrafos:

«Quem estiver de serviço, depois de ter tirado tudo o que for necessário da despensa para confecionar a comida para os pobres, naquele dia, prepara a refeição, leva-a aos doentes e, ao chegar, cumprimenta-os com alegria e caridade. Prepara uma mesinha, na cama; sobre ela estende uma toalha, coloca um copo, uma colher e pão. Lava as mãos do doente: reza o “Benedicite”; dita a sopa numa tijela e a carne num prato; dispondo tudo na dita mesa. Então, convida caridosamente o doente a comer, por amor de Deus da Sua Santa Mãe. Tudo com muito carinho, como se fosse o seu próprio filho, ou melhor, o Filho de Deus, que considera feito a Si mesmo todo o bem feito aos pobres. Diz-lhe algumas palavras sobre Nosso Senhor; se o achar desolado, procura animá-lo. Corta a carne em pedaços e dá-lhe de beber. Depois de ter preparado tudo para ele comer, se ainda houver mais algum doente, deixa este e passa a outro, tratando-o do mesmo modo. Terá sempre o cuidado de começar por aquele que tenha alguém em sua companhia e terminar naquele que viver sozinho, para poder ficar mais algum tempo com ele. Voltará à tarde, para trazer o jantar, e procederá do mesmo modo». (2)

Passaram-se quatro séculos. Todas estas situações sociais, antes ignoradas pelos poderes públicos, agora também começaram a ser assumidos pelo Estado. Todavia, penso que estas instituições, nascidas da caridade cristã, conservam algo de sempre novo, de profundamente humano que o Estado não tem e, por isso, não dá. Só um coração comovido, debruçado sobre a miséria humana para curar e levantar, quem nela jaz prostrado, o pode fazer… E continuam a ser as nossas Comunidades cristãs as detentoras (não únicas) desta missão.

Pe. José Alves CM

(1) V. Vincent De Paul, Oeuvres, XI, p. 242.

(2) Extraído do regulamento da 1ª Confraria da Caridade, em 23 de Agosto de 1617. V. Pierre Coste, Monsieur Vincent, T, I, p. 106.

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