
A concepção do espaço de uma igreja e todos os elementos que o integram não são apenas coisas concretas, não são meros adereços de adorno, revestem-se de um significado específico, constituem recursos de comunicação, de reflexão espiritual e de anúncio da Boa Nova. Cada objeto por si e em articulação com os outros, o modo como são utilizados e integrados na liturgia, revelam o mistério de Cristo. Por exemplo, para além do significado de cada peça dos paramentos, também a sua cor se reveste de um sentido específico, cuja explicação constitui uma ferramenta de evangelização, de maior compreensão da realidade que está presente, mas não é visível. Será que a maioria dos fiéis conhece esse significado e compreende a mudança da cor em articulação com o calendário litúrgico?
Em alguns dos períodos mais importantes para a Igreja Católica, em particular no Advento e na Quaresma, estruturaram-se dinâmicas como propostas de caminhada de preparação para os grandes mistérios da fé. Recorrentemente são programas concebidos pelos responsáveis de secretariados diocesanos, ficando a sua aplicação dependente da criatividade, do bom gosto e da sensibil2idade dos responsáveis pela sua implementação em cada paróquia.
Habitualmente, em cada domingo destes tempos litúrgicos, na celebração dominical, são colocados símbolos e/ou palavras, aos quais se associam ações que os fiéis são convocados a realizar durante a semana. Utilizam-se os símbolos para acompanhar a liturgia e dar maior visibilidade e presença ao caminho de conversão que é proposto para cada tempo litúrgico, sinalizando as diferenças e o sentido específico de cada período. Porém, a utilização dos símbolos só tem sentido se cada um deles for introduzido por um rito que explicite o seu sentido. Por outro lado, é importante reflectirmos não só sobre o conteúdo e o sentido de cada símbolo, mas também sobre o impacto da sua integração no espaço de celebração. É importante que a colocação de símbolos esteja em harmonia com o espaço de celebração e não se converta num factor de distração ou de minoração daquele que deve ser o foco principal, a celebração da eucaristia. Em muitos casos, há um excesso de símbolos, em outros a sua dimensão e disposição no espaço retira dignidade aos elementos do presbitério, cuja visibilidade nunca deve ser subtraída, como a mesa de altar ou o ambão.
O espaço litúrgico é simbólico, deve-nos remeter para a realidade invisível, por isso, tudo o que nele se coloca deve ser objeto de especial cuidado, nomeadamente os materiais e a dimensão dos símbolos, pois a poluição visual, o excesso de cartazes, perturba, incomoda e distrai, condiciona a receptividade da mensagem e da palavra de Deus, compromete o relacionamento do ser humano com Deus.
Doutora Fátima Eusébio
Departamento dos Bens Culturais