Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

E chegou o Verão. Tempo de encontro, do ar livre, da evasão, das férias, da praia, das festas populares, romarias, eivadas de mais ou menos sentido religioso, em louvor dos santos populares – Santo António, São João e São Pedro – e de tantos outros, sobretudo de Nossa Senhora, em múltiplas evocações. Não haverá bairro, aldeia, vila ou cidade, que descure a festa jubilosa ao seu padroeiro, com programa religioso e profano nesta estação do ano, porque vem mais gente, os emigrantes, ainda que, para tal, se altere o calendário próprio da comemoração, adiando, normalmente para o fim-de-semana ou domingo mais próximo. Estas festividades do ciclo temporal anual têm raízes seculares, são de tal modo importantes e identitários dos povos que, frequentemente, o santo padroeiro dá nome à própria localidade. São sinais da necessidade e sede de transcendência e da natural convivialidade do ser humano, individual e colectivamente considerado. Numa simples abordagem à Bíblia, e à história de outras civilizações, verificamos a quantidade de festas prescritas: festa da Ceifa (Ex 23); da Páscoa (Ex 12;6; Mt 26); das Primícias (Lv 23,9); Festa da Lua Nova (Nm 28) e outras A religiosidade ou piedade popular, com mais ou menos densidade religiosa, atrai centenas, às vezes milhares, de romeiros, devotos, ou simplesmente festeiros, cujas motivações são muito diversificadas. Há quem vem movido pelo sentimento espiritual, ou pelo simples encontro de amigos e partilha de mesa. Ambas são motivações profundamente humanas, expressões do “homo festivus” e de uma ‘alma colectiva’ que exulta e se alegra.

Nestas manifestações de religiosidade popular, não são de fácil distinção os aspectos especificamente espirituais e cultuais dos antropológicos e profanos. A simbiose é tal que, ao invés de contrapor, deve optar-se, sem confusão, por valorizar e potenciar os elementos valorativos e humanizadores comuns: a efeméride comemorativa, o encontro, a sã coexistência festiva. Separar, sem mais, o sagrado do profano, reduz o positivo de um e de outro, pois as emoções verdadeiramente humanas contêm em si muito de sagrado.

A Missa, a assembleia, o coro, a banda filarmónica, a procissão engalanada com os andores do costume, com destaque para o padroeiro, os percursos tradicionais, a peregrinação, o cumprimento de promessas, a oferta de esmolas são componentes que, em grande parte, com mais ou menos fervor e dignidade, se mantêm. Porém, esta centralidade vai-se secundarizando. Por isso, o cuidado na formação das comissões e mordomias, de celebrações de religiosidade popular, no sentido de qualificar, sem anular, pois, “os actos de piedade popular são recomendáveis desde que estejam em conformidade com as normas da Igreja…gozem de dignidade…derivem da celebração litúrgica e a ela conduzam” (SC 13). Assim, desde o anúncio da festa, os cartazes, por vezes ambíguos quanto à natureza da festa, se é arraial popular, ou festa religiosa, a visibilidade imagem do santo a celebrar – às vezes ausente – entre tantos nomes de bandas musicais, de promotores, que não se intui onde está o carácter religioso; até ao desenrolar dos festejos. Desde o anúncio, tudo deve decorrer sem exageros, sã alegria, e espírito de festa exterior e, sobretudo, nos corações. Também Jesus participava nas festas tradicionais judaicas, quando o tempo era de festa, e terá festejado, cantando: “Que alegria quando me disseram, vamos para a casa do Senhor…” (Salmo 122) “louvemos a Deus no seu Santuário…ao som de trombetas com a harpa e a cítara, tambores e danças. Tudo quanto respire louve o Senhor” (Salmo 150). Esta é a essência e razão de ser da festa.

José Henrique Santos

CategoryBispo

© 2016 Diocese de Viseu. Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento: scpdpi.com

Siga-nos: