Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

A porta mora à espera

De perfil se ensombra

E descansa

O degrau é paciência

O umbral é anúncio

O silêncio é o lugar

Onde baterão as mãos      (Daniel Faria, poeta)

O uso excessivo de um objecto, a habitação permanente de um espaço, a passagem frequente num lugar, a repetitividade quotidiana, faz com que objectos, aspectos e momentos importantes da vida sejam concebidos e reduzidos às suas dimensões meramente mecânicas, funcionais e utilitárias. Assim sucede com a porta: de casa, de um edifício público, da igreja, com maior ou menor interesse arquitectónico e artístico. Através dela entramos, saímos, quase sempre de modo irreflectido e autómato.

Mais do que simples estrutura necessária no edifício, que permite entrar e sair – apesar de, para isso bastar uma abertura na parede, sem mais – a porta encerra em si mesma componentes simbólicas, até identitárias, em espaços privados e comunitários, de referência cultural, cultual, histórico, individual e colectivamente considerados.

Já a Bíblia refere múltiplas vezes a porta, aludindo à entrada para o encontro com Deus, no Templo, em privado ou como Povo. O próprio Jesus usou a metáfora da porta para se referir a Si mesmo, se auto designar: “Eu sou a Porta, quem entrar por Mim será salvo” (Jo 10,9); para se situar perante nós: “Eu estou à porta e chamo…” (Ap 3,20). A imagem da porta surge com sentido teológico e litúrgico, que permanecem ainda hoje. Pensemos, por exemplo, no profundo significado da Porta Santa, neste Ano Jubilar.

Muito além da praticidade da porta, que possibilita acesso ou saída dos lugares que habitamos no quotidiano, são variadas as facetas de âmbito estético, espiritual, vivencial que importa salientar, recuperar e valorizar. “A porta destina-se a algo mais do que satisfazer uma simples finalidade: a porta fala, escrevia o grande Romano Guardini. E o que nos diz?

Por que porta entramos na nossa habitação interior: pela porta do coração, da reflexão, ou, distraídos, nem sequer entramos, permanecendo na superficialidade da parábola da semente que cai no caminho (cf. Mt 13,4)? Importa entrar na nossa própria porta, na porta grande da verdade, do eu profundo, em silêncio, não evitando o conhecimento de nós mesmos.

Como entramos na Igreja? Que disposição interior e exterior nos orienta? Entramos para um encontro com Ele e com o irmão, com a mente e postura do corpo focados no essencial, expressa na serenidade, no rosto, na indumentária. Que pena, as pessoas que entram…sem entrar, especialmente em matrimónios, baptismos e, até, na assembleia dos domingos? Entrar pela porta da igreja é bem mais que uma ida a um concerto, cerimónia, convívio de amigos.

A porta mora à espera Ele é degrau paciente que convida e prepara, o silêncio é o lugar do encontro que incute Esperança para tempos novos. Entremos.

José Henrique Santos

CategoryBispo

© 2016 Diocese de Viseu. Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento: scpdpi.com

Siga-nos: