Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

No registo de despedida das Irmãs da Divina Providência e da Sagrada Família, após 50 anos de tão precioso quanto humilde serviço aos Seminários da nossa Diocese, fica aqui um testemunho, dos muitos que poderiam ser dados por quantos sentiram o maternal carinho destas Irmãs:

Quando o realizador do melhor filme sobe ao palco do sucesso para receber a estatueta de ouro, num discurso frequentemente impreparado e quase sempre atabalhoado, agradece. Lá se ouve, na cauda das palavras proferidas, por vezes, um “a todos os que contribuíram para este sucesso…”. Todos é impessoal, todos é ninguém em particular. E continuam ignorados a costureira que pregou um botão no guarda-roupa, o carpinteiro que pregou o prego essencial no cenário, o faz-tudo que trocou uma lâmpada, desviou um cabo… Os bastidores da vida escondem, tantas vezes, um trabalho humilde, mas precioso e essencial à realização da obra. As Irmãs do Seminário têm rostos, têm nomes… Balbina, Bernardete, Alexandrina, Maria José, Rosa, Teresa, Glória e tantos outros, sem desprimor para estes que a memória, velha já de mais de 30 anos, não consegue recordar. Rostos e nomes e pessoas essenciais no caminho de formação e crescimento nos seminários da Diocese, quer em Fornos de Algodres, quer em Viseu. Rostos maternais de mulheres consagradas ao serviço, ao amor, à causa do sacerdócio na Igreja. Rostos maternais que cuidam, alimentam, vestem… rezam. A quantos de nós estes rostos maternais não suavizaram o desterro aos dez, doze anos de idade?! Oh, Ir. Balbina, quanto suavizaram, nessa idade, a dor e o medo daquelas injeções mensais de penicilina, os seus olhos meigos, o seu sorriso terno, as suas palavras afáveis! Trabalho escondido, de bastidores, ignorado tantas vezes. Horas a fio de ferro de engomar na mão, de pé, camisa após camisa. Meias passajadas com infinita paciência. Pesadas cestas carregadas de roupa, arrastadas esforçadamente por escadas esconsas para caves regeladas. Corredores polidos, limpezas gerais quando todos aproveitavam as férias de verão. Igrejas e Capelas limpas e asseadas para a missa e oração dos de dentro e dos de fora… Horas, dias, anos, décadas! Nos intervalos, a alegria do trabalho feito com e por amor, partilhada no convívio comunitário, na mesa fraterna. Unindo e dando sentido a tudo, a oração. Pedra angular, tarefa imensa e nunca perfeita ou acabada. Não por si. Ou raramente. Sempre pelos rapazes, pelos jovens seminaristas e sacerdotes. Pelos filhos! “A virgem conceberá”. A alegria e o são orgulho de os ver, depois, “no altar”! A alegria de uma primeira missa celebrada na sua capela, a capela das Irmãs, com elas e por elas e para elas, vivida na simplicidade da fé. Quantos nos lembrámos desta entrega escondida na hora do discurso impreparado e atabalhoado? Se ficou por dizer o imenso e merecido bem-haja, ele aqui fica, sentido, de coração, a cada rosto com nome.

G.I./Padre Paulo Estêvão

 

CategoryIgreja, Viseu

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