Luís Miguel Neto, professor universitário, fala de dias em que se experimentam novas identidades.
Luís Miguel Neto, psicólogo e professor universitário, disse à Agência ECCLESIA que “no carnaval, as máscaras caem”, revelando novas facetas das pessoas, num clima mais propício à alegria.
“Se calhar há mais verdade no carnaval do que na maior parte do resto do ano”, refere, em entrevista transmitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP 2), a respeito das celebrações carnavalescas.
O investigador na área da “psicologia positiva”, sublinha a tentativa de construção de “novas identidades e novos comportamentos”
“Este tempo de carnaval é um tempo de algum exagero, de excentricidade”, de expansão de limites “pessoais e coletivos”, precisa.
Ao contrário do que acontece no resto do ano, os dias antes do início da Quaresma parecem trazer consigo uma “obrigação de expressar alegria”.
Luís Miguel Neto considera que a “máscara” de carnaval está ligada à “complexidade” de cada ser humano, à maneira como cada pessoa se mostra, pelo que estes dias permitem “descer mais fundo” em si e identificar áreas que não são tão comuns na forma como as pessoas se veem e são vistas.
“Experimentar outras maneiras de ser pessoa pode ser muito útil e expansivo da minha própria humanidade”, acrescenta.
Para o docente universitário, há pessoas que “não se sentem bem na sua identidade” e há outras que “se sentem presas na sua identidade”.
“O carnaval pode ser uma maneira de expandirmos a nossa humanidade e deixarmos de estar presos a algumas convenções”, sustenta.
Luís Miguel Neto considera, no entanto, que o fundamental é afastar as “fachadas” para chegar à “riqueza humana” de cada pessoa.
Nesse contexto, rejeita a ideia de um Cristianismo sem “alegria”, porque as manifestações espontâneas de alegria são um “sinal de espiritualidade”.
“A alegria é também uma expressão e manifestação de fé”, observa.
O psicólogo entende que não se pode viver o carnaval sem Quaresma, numa dinâmica associada à ideia dos “ciclos” na consciência humana.
A Igreja Católica adaptou práticas pré-cristãs, relacionando o período carnavalesco com a Quaresma: uma prática penitencial preparatória à Páscoa, com jejum começou a definir-se a partir de meados do século II; por volta do século IV, o período quaresmal caracterizava-se como tempo de penitência e renovação interior para toda a Igreja, por meio do jejum e da abstinência.
“A Quaresma e o carnaval têm de ser vistos como um binómio”, observa Luís Miguel Neto, para quem a disciplina e a autorregulação são fenómenos “estruturantes” da personalidade.
G.I./Ecclesia:OC