Prioridade deve ser humanizar e acompanhar, frisa o padre José António Pais.
O padre José António Pais, capelão dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), diz que é fundamental encontrar soluções para “humanizar e dar dignidade” às pessoas, aos doentes, perante o sofrimento e a morte.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o sacerdote, coordenador dos Capelães dos Hospitais da Diocese de Coimbra, sublinhou que perante o debate que está em curso sobre a eutanásia ninguém terá “respostas definitivas”, o essencial é “perguntar como é que se pode dar dignidade aos últimos momentos de uma pessoa”.
Até porque, na opinião daquele responsável, é tão discutível a questão “da eutanásia” como “a da distanásia”, prática pela qual se prolonga através de meios artificiais e desproporcionais, a vida de um doente incurável.
“Por isso não podemos falar no geral, não temos receitas, temos que analisar cada caso por si”, sustentou o padre José António, recordando que “cada pessoa sofre à sua maneira, de acordo com as suas circunstâncias”.
“A dor não é igual para todos, há pessoas que sofrem sozinhas, que não têm ninguém, como é que podemos acompanhar a pessoa, a família como é que podemos acompanhar, os profissionais de saúde como podem acompanhar”, disse o capelão hospitalar, para quem é importante nesta matéria recorrer à “ciência” mas também ao “coração”.
“Felizmente hoje temos imensas possibilidades de humanizar e dar dignidade à morte de alguém”, recordou o sacerdote, que aponta o reforço da aposta nos cuidados paliativos como uma das soluções, mas desde que seja feito da forma mais adequada.
“Que os centros de cuidados paliativos não sejam um depósito de doentes em fim de vida”, alertou aquele responsável, para volta a reforçar a tónica da humanização e a frisar que neste campo, não basta “a técnica e os medicamentos”, é precisa também “a técnica do coração”.
“Humanizemos os centros de cuidados paliativos, isso sim pode ser uma hipótese, e muito grande”, completou.
O padre José António Pais esteve envolvido, nos dias 26 e 27 de maio em Fátima, na organização de um encontro alargado de profissionais de saúde, promovido por vários organismos do setor, como as associações de médicos, psicólogos e farmacêuticos católicos.
“Somos muitos grupos de profissionais, católicos, e não é bom que estejamos a trabalhar cada grupo para seu lado, é bom que nos juntemos, refletir em conjunto para podermos trabalhar em conjunto também”, apontou.
Um dos temas abordados no evento, além da eutanásia, foi a importância da espiritualidade, da fé, perante as situações de sofrimento.
O capelão dos HUC realça a importância de encontrar dentro de cada doente, crente ou não crente, “tudo aquilo que ele tenha dentro de si e que lhe possa dar força”.
“A espiritualidade não sou eu que lha vou levar, ou existe ou não existe. Uma pessoa mesmo que não tenha fé, não tenha crença alguma, tem a sua espiritualidade. Fazer aparecer essa espiritualidade é o meu trabalho, e isso valoriza, ajuda imenso a pessoa”, concluiu.
Sobre este debate à volta do fim da vida, já foram anunciados três projetos lei por parte do Bloco de Esquerda, do Partido Animais Natureza e do Partido Ecologista ‘Os Verdes’, abrangendo não só a despenalização da eutanásia mas também o suicídio medicamente assistido.
O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida está a promover até dezembro um ciclo de debates sobre a eutanásia, em todo o país, com o patrocínio do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
A próxima iniciativa deste género, que tem como nome ‘Decidir sobre o fim da vida’, vai ter lugar no dia 5 de junho, no Palácio da Bolsa, no Porto, com a participação de Michel Renaud, Rui Mota Cardoso, Manuel Antunes, João Semedo e Paulo Rangel.
JG.I./Ecclesia:CP