O debate entre Educação e Ciência juntou, na noite de 30 de novembro, dois especialistas da Universidade de Coimbra (UC), no Colégio da Imaculada Conceição, em Viseu, e marcou o arranque do ciclo de conferências 2017/18 na instituição escolar.
César Rodrigues (pedagogo e investigador do Centro Interdisciplinar do Século XX, da UC), e Carlos Fiolhais (professor catedrático no Departamento de Física da UC) apresentaram algumas considerações sobre a ligação entre esses dois pilares e do poder dos Média (meios de comunicação) na sociedade atual, e ambos sustentaram a importância de uma convivência sã e produtiva.
No arranque da sessão, que aconteceu na mediateca Santa Paula Frassinetti, a diretora pedagógica do Colégio da Imaculada Conceição (CIC), Margarida Ferreira dos Santos, enfatizou a importância destas conferências, que são abertas à comunidade, na transmissão de um conhecimento mais específico do que apenas a partilha de conceitos no contexto da sala de aula.
César Rodrigues começou por enumerar algumas das alterações que os Média vieram impor à sociedade atual, nomeadamente as redes sociais, como sejam a janela do mundo que é o Facebook, o ‘post-it’ que é o Twitter e a partilha de fotos a partir do Instagram. Contudo, o pedagogo e investigador alertou para o perigo dos Média poderem “hoje contaminar o que é a própria realidade”, lembrando as não-notícias e as falsas notícias que muitas vezes inundam os Média e tentam formar na opinião pública a ideia de algo que não corresponde à realidade.
Apesar de considerar que os novos Média são importantes, César Rodrigues lembrou que “isso não chega e é preciso tornar a experiência de aprendizagem significativa, aproximando-a da vida concreta”. Por isso, refere, “é preciso descentrar o que é importante e ler para além do que está escrito”.
Mercê das alterações que os Média provocaram e provocam na sociedade e na educação atuais, o investigador e pedagogo lembrou que “a ideia da educação mudou. Pais e professores não são a base do conhecimento, mas são parte da chave de leitura”. “É preciso não perder o sinal da rede escolar e familiar”, finalizou.
“Concorrência feroz”
Por seu turno, Carlos Fiolhais, instigado a responder à questão se os robots poderão substituir os humanos, começou por afirmar que “a relação humana é insubstituível”. O professor de Física sistematizou as suas ideias no triângulo: Ciência – Educação – Média, e defendeu que a Educação “é talvez o vértice mais importante”, lembrando que “a escola é um meio que a sociedade inventou para assegurar o seu futuro” e que “a Ciência é o que a humanidade inventou para saber como é o mundo”.
O catedrático da Universidade de Coimbra assegurou que “os Média fazem escolhas por nós”, mas enalteceu a necessidade de “haver uma intermediação dos Média na sociedade”, de forma a existir um equilíbrio. Como defendeu Carlos Fiolhais, “os Média estão a transformar um mundo”, um mundo onde, refere, “é preciso ter escola para se fazer ciência, e a ciência tem que estar na escola porque nos dá uma visão do mundo e nos prepara a vida”.
Porém, perante a realidade atual do mundo, o físico lembrou a “ligação frágil” entre a Educação e os Média. “A Educação tem, de facto, um problema porque a sociedade, através dos Média, está a fazer uma concorrência feroz à escola”. E questionou: “como vamos resolver isto? Os professores devem ditar as regras da escola”, replicou.
Para finalizar, Carlos Fiolhais respondeu à questão se será possível, num futuro breve, os professores serem substituídos por robôs, como já acontece com “os carros que já andam sozinhos”. “Não acredito que seja possível essa substituição, porque é preciso lidar com os sentimentos dos alunos, lidar com a surpresa na sala de aula, e não creio que os robôs sejam capazes disso”. “Não está à vista o fim da escola”, rematou.
G.I./J.B.:PBA