Vêm normalmente em grupo, cansados, mas bem-dispostos e movidos pela fé que os vai levar a Fátima.
Em quatro dias pararam no Centro Pastoral de Viseu perto de 500 peregrinos vindos de vários concelhos de Vila Real, e também de Lamego, Resende e outros pontos da região para umas horas de descanso antes de continuarem a caminhada até à Cova da Iria.
O Movimento da Mensagem de Fátima (MMF) da Diocese de Viseu é quem assegura este centro de apoio aos peregrinos em Viseu, onde participam dezenas de voluntários desde médicos, enfermeiros, estudantes de enfermagem, fisioterapeutas, massagistas e muitas outras pessoas dispostas a colaborar independentemente da tarefa que a operação exige, entre elas vários párocos para um apoio espiritual.
“O nosso Bispo D. Ilídio pedia-nos na Missa [do dia 4 de maio] para saber ouvir e acolher, e é também isso que fazemos”, afirmou Filomena do MMF que apoia a operação com “uma satisfação enorme em poder ajudar aquelas pessoas, muitas delas, emocionadas em verdadeiro espírito de peregrinação”.
Nos vários grupos de peregrinos que chegaram ao Centro Pastoral entre 5 e 8 de maio, encontravam-se este ano muitos jovens, mas também pessoas com mais de 70 anos. A presidente do Movimento da Mensagem de Fátima da Diocese de Viseu, Isabel Martins, refere que “é normal”. “As pessoas vêm com o mesmo empenhamento e fé, alguns muito reservados, mas na sua maioria bem-dispostos”, acrescentou a responsável.
E isso é visível. Com os pés a darem sinal de cansaço, colaboram, contam histórias da jornada, cantam e recebem com humildade o apoio ali prestado. No domingo, 6 de maio, o dia em que o núcleo recebeu o maior número de peregrinos, descansaram, comeram uma refeição quente, receberam massagens e outras terapias e dormiram algumas horas mais de 300 pessoas. O primeiro grupo de 200 peregrinos saiu para a estrada às 3h e o segundo partiu às 5h da manhã com um pequeno reforço para o caminho: “todos os anos entregamos um kit com água, fruta e pão”.
Na segunda-feira o ritmo continuou com os peregrinos a chegarem ao longo do dia em grupos mais pequenos, alguns mais desgastados pelo calor que se fez sentir, mas o espírito era o mesmo. Enquanto o grupo de São Dinis, Vila Real, chegava para passar boa parte da noite já o grupo de Nogueira, do mesmo distrito, cumpria o tempo de descanso para voltar ao caminho, este ano, motivados pela companhia do Padre João. Mas no segundo andar do Centro Pastoral cruzamo-nos com peregrinos de várias localidades como Maria de Vila Pouca de Aguiar, uma jovem franzina a recuperar pelas mãos de um grupo de massagistas estagiários. É uma “caminhada dura mas uma experiência apaixonante”, responde outra peregrina já de pés lavados e hidratados pelo enfermeiro voluntário com muitos anos de experiência.
A presidente do Movimento da Mensagem de Fátima da Diocese de Viseu considera que “as pessoas continuam com a mesma fé”, “todas carregam uma história de vida diferente”, mas destaca o facto de “a grande maioria” dos peregrinos não fazer o caminho para cumprir promessa, mas para “uma experiência em espírito de fé em que tudo fica para trás”, e que Isabel Martins confirma ser “uma libertação” pelas duas experiências de ir a Fátima a pé.
Falta de preparação
“Estão muito bem-dispostos apesar de trazerem os pés muito mal tratados. Isso é sinal de que não se preparam”, comenta num tom elevado um dos enfermeiros voluntário para que o alerta chegue aos corredores. A falta de preparação é ainda o alerta destes especialistas que apoiam os peregrinos nos vários albergues espalhados pela região.
Ao longo do tratamento confirma-se essa falta de preparação para fazer uma peregrinação e mesmo “falta de conhecimento” de pormenores que são fundamentais. Isabel Martins aconselha os peregrinos a participar nas ações de formação que decorrem ao longo do ano, para uma melhor preparação física, espiritual e ao nível da prevenção rodoviária onde a GNR tem vindo a colaborar.
G.I./J.B.:EA