Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Dia do município, da cidade e do concelho de Viseu

 

O Senhor guarda a sua cidade e cuida daqueles que nela vivem, trabalham e a fazem crescer num desenvolvimento harmonioso e solidário que abranja a todos.

Não queremos, que ninguém fique de fora neste tempo de pandemia, que haja cuidados de saúde para todos, trabalho para ajudar o equilíbrio familiar e social e que os pobres e necessitados encontrem em cada um de nós e nas instituições sociais que os ajudam e apoiam as verdadeiras respostas para aquilo que precisam e não sejam deixados ao abandono ou marcados pela nossa indiferença. Que as nossas instituições sejam verdadeiramente solidárias para responderem às verdadeiras necessidades e ao aumento da pobreza. Que ninguém passe fome ou tenha necessidades por causa da nossa indiferença, ou por falta de partilha, para que a distribuição dos recursos que temos chegue a todos. Para muitos as próprias medidas de prevenção: usar a máscara, a higienização das mãos, o afastamento físico. Para muitos, as dificuldades, como a compra de medicamentos, o pagamento da renda da casa, da água e da luz, alteraram o seu orçamento económico e o estilo de vida, pois só uma solidariedade bem organizada e com justiça social e equitativa pode ser uma resposta para os mais necessitados, esperando que não deixa ninguém de fora.

 

Que saibamos estar atentos às verdadeiras necessidades das pessoas geradas pela crise social, económica e eclesial, fruto das consequências do Covid-19.

O Senhor ama cada um daqueles que vive nesta cidade de Viseu e no seu concelho. Todos os munícipes são obra da ação criadora do Senhor e graça do seu amor e da sua misericórdia. Estas palavras que escutámos na narração do Evangelho, mostram-nos como o Senhor chama cada um de nós como chamou Mateus, conhecido por Levi no seu lugar de trabalho como cobrador de impostos, dizendo: “Segue-Me”. Ele deixou imediatamente tudo e seguiu o Mestre. Na verdade Jesus ama cada um de nós nas suas circunstâncias e ao chamar a todos e a cada um de nós na diversidade das nossas vidas e na corresponsabilidade do nosso serviço, como ouvíamos ontem no evangelho, somos todos convidados a trabalhar na vinha do Senhor, isto é, para gastarmos a nossa vida ao serviço de Deus e sermos próximos uns dos outros, instrumentos do seu amor e da sua misericórdia. Por isso também queremos que Jesus venha tomar uma refeição na nossa casa, que entre no nosso coração e na nossa intimidade. Esta é também a missão daqueles que trabalham pelo bem da nossa cidade e pelo bem dos cidadãos que vivem nas terras do nosso concelho, encontrarem-se com o Senhor cada um no seu coração, na sua própria casa. Neste dia do Município, queremos pedir a Jesus o maior bem para todos aqueles que nele vivem e trabalham e somos muitos, os que somos chamados a centrar também o nosso coração e a nossa vida nas palavras de Jesus: “Eu não veio chamar os justos, mas os pecadores”. Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Estas palavras de Jesus confortam-nos e enchem-nos de confiança e esperança, porque todos somos queridos e amados pelo mesmo Deus, “porque Ele não faz exceção de pessoas”, cuida sempre de cada um de nós.

Na realidade, cada um de nós diante de Deus é como o barro do oleiro, chamados a sermos modelados pelas suas mãos divinas, pois Ele quer que cada um de nós entregue as nossas vidas num serviço total e generoso ao serviço do bem comum de todos.

Como irmãos e cidadãos amando-nos uns aos outros procuremos ser construtores de uma verdadeira fraternidade humana e espiritual, universal que faz deste território uma nova cidade. Jesus disse: “eu prefiro a misericórdia aos sacrifícios”.

Na verdade, o Senhor quer oferecer-nos um caminho de amor, se “não for Ele a edificar a casa em vão trabalham os que a constroem, se o Senhor não guardar a cidade em vão vigiam as sentinelas”.

 

Neste tempo de pandemia, confiemo-nos ao seu cuidado e à sua graça, pois se não for Ele a cuidar de nós e a protegermos pereceremos.  Bem precisa a nossa sociedade atual de governantes responsáveis pela construção da cidade e pelo bem integral dos  seus cidadãos e que sejam decisões tomadas sejam fruto de um sério discernimento, que proporcione o bem comum através de orientações da DGS e locais a sua dos cidadãos, os ajudem a perder o medo para regressarmos todos a uma nova normalidade, ajudando a crescer no bem comum e no desejo de uma vida sadia e integral. Todas as medidas tomadas como prevenção e no campo da saúde pública são esforços acrescidos por parte de quem nos governa quer no poder local, ou central que vai além de todos os orçamentos, por isso queremos pedir nesta Eucaristia, celebrada no dia da nossa cidade, de São Mateus, o dia do nosso feriado municipal, as graças que precisamos e louvar a Deus, para que  não nos abandona no tempo da adversidade, mas nos convide a percorrer o caminho no qual assentam os valores do Evangelho: “eu prefiro a misericórdia aos sacrifícios”.

Contudo os sacrifícios durante este tempo de pandemia foram muitos e queremos minimizá-los no futuro, pois a maioria dos cidadãos já experimenta muita pobreza e dificuldades. Confiemo-nos à misericórdia do Senhor com uma consciência lúcida de que com o esforço de todos, com o espírito de compaixão e de resiliência esperamos um futuro melhor e mais próspero, onde todos vislumbra- remos já o “novo céu e uma nova terra”.

Uma palavra de esperança para as crianças e jovens que já regressaram à escola e universidade e para todos aqueles que em breve vão regressar à catequese. Confiança e esperança, não tenhamos medo, que todos sejamos semeadores de esperança na nossa cidade e no nosso concelho. Que ninguém fique de fora deste projeto.

 

Vocação de Mateus como a missão de Paulo, expressa na carta aos Efésios, dando-nos recomendações diz-nos como deve ser a maneira de agir dos cristãos.

Fostes chamados por Deus e procedei com toda:

– A humildade

– Mansidão

– Paciência

– Suportai-vos uns aos outros na caridade

– Empenhai-vos em manter a unidade de espírito pelo vínculo da paz

“A cada um de nós foi concedida a graça na medida em que recebeu o dom de Cristo”, até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem perfeito, à medida de Cristo na sua plenitude.

O caminho apontado por Paulo e vivido por São Mateus e que desafia cada um de nós pode sintetizar-se em três pontos:

– O chamamento à perfeição cristã

– Há um só Corpo, um só Espírito, um só Senhor, uma só fé, um só Batismo, um só Deus e Pai de todos

– O Dom de Deus que é o ministério e o serviço aos outros e ao Corpo de Cristo que é a Igreja

A dimensão pessoal e comunitária da fé tem uma dimensão pessoal e comunitária de uma corresponsabilidade eclesial que nós hoje aqui também estamos a testemunhar.

Viver a fé como comunidade, como um povo é uma experiência única e um desafio.

Daí este sinal de juntos celebrarmos o dia da nossa cidade convida-nos a viver a união fraterna pelo vínculo da caridade atentos ao serviço dos nossos irmãos.

Se o compromisso de Mateus ao convite do Senhor: “Segue-Me”, foi o de “ele levantou-se e seguiu Jesus”, deve ser também essa a nossa resposta ao chamamento que em cada dia nos é feito.

Ouvindo as palavras de Jesus: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes, neste tempo de pandemia ao olharmos para o número de infetados e de mortos queremos hoje aqui homenageá-los, assim como a todos os médicos, enfermeiros, assistentes operacionais e outros técnicos de saúde que nos hospitais, lares, instituições ou em casa no isolamento cuidaram com qualidade destes nossos irmãos, pondo a sua própria vida em rico para lhe cuidarem a saúde e proporcionarem o maior bem estar. Vivemos todos cenários dantescos que é impossível não lembrar. Que São Mateus lance o seu olhar misericordioso sobre nós e todos os cidadãos que vivem no nosso concelho de Viseu para que livres de todo o mal encontremos a saúde e os cuidados médicos que todos desejamos.

“Ide aprender o que significa: “Prefiro a misericórdia ao sacrifício, eu não vim chamar os justos, mas os pecadores”.

 

Gostaria de terminar esta reflexão deixando um pensamento do Papa Francisco na “Laudato Si”, neste ano que lhe dedicamos e na expetativa da sua nova Encíclica sobre o tema “Fraternidade Humana” que será publicada no dia 4 de outubro.

O cuidado sobre a Casa Comum, a poluição, a cultura do descarte, as mudanças climáticas ajudam-nos a olhar para o nosso mundo e para a nossa cidade que todos somos chamados a construir, procurando o  maior bem comum de todos, a verdadeira ecologia, lutando contra as desigualdades e pobreza, protegendo a pessoa humana nas suas fraquezas e fragilidades, ajudando também no equilíbrio da natureza, lutando por colocar Deus no centro da criação e a pessoa humana que Ele tanto ama.

“O urgente desafio de proteger a nossa Casa Comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem se arrepende de nos ter criado.

A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum. Desejo agradecer, encorajar e manifestar apreço a quantos, nos mais variados setores da atividade humana, estão a trabalhar para garantir a proteção da casa comum que partilhamos. Uma gratidão especial é devida aqueles que lutam com vigor, por resolver as dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo. Os jovens exigem de nós uma mudança; interrogam-se como se pode pretender construir um futuro melhor sem pensar na crise do meio ambiente e no sofrimento dos excluídos” (Laudato Si 13).

 

A pandemia do Covid’19 que todos vivemos e de cujas consequências somos afetados, quer a nível de desemprego e da crise económica social que se instalou na vida das pessoas somos chamados a renovar no diálogo um caminho capaz de construir uma nova cidade, um novo concelho e condições para todos os cidadãos de modo que a cidade seja construída sobre rocha firme.

Que São Mateus nos estimule na prática do bem, proteja a nossa cidade e concelho, aqueles que nos governam e todos os que vivem neste território do município de Viseu.

 

Viseu, 21 de setembro de 2020

  †  António Luciano, Bispo de Viseu

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