Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

 

  1. Bendito seja Deus, que nos abençoou com a Sua Palavra.

Caríssimos senhores Cónegos, caríssimos irmãos e irmãs que nos acompanhais através da internet, todos aqueles que em comunhão espiritual celebrais connosco o Domingo, o Dia do Senhor.

Nesta Semana de Oração pela Unidade dos cristãos e Domingo da Palavra, a Palavra de Deus alimenta-nos, fortalece-nos e desafia-nos a fazer a vontade de Deus e a viver na comunhão e na unidade com todos.

Esta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, somos convidados a viver em comunhão, em unidade, unidos a todos os cristãos e a todas as pessoas de boa vontade. Porque quem está unido a Cristo tem a vida da videira e quem se deixa cuidar pelo agricultor, esse tem que dar bom fruto.

Vivemos de novo em confinamento. Fecharam-se os nossos templos, os cristãos não podem participar presencialmente na Eucaristia, devido a este momento tão grave da pandemia Covid-19 que vivemos. Como Bispo, celebrando convosco, para vós, e na comunhão da fé a Eucaristia, quero pedir ao Senhor, que nos ajude neste tempo de pandemia a colaborarmos com as orientações que nos foram dadas e pedidas, utilizando sempre e com cautela as medidas de prevenção e fazendo também com que os outros também as cumpram.

Distanciamento pessoal e social, usar máscara, desinfetar as mãos, são na verdade meios importantíssimos para evitar o contágio por este vírus. Unido convosco na mesma fé, quero ter a certeza por meio da Palavra de Deus, que havemos de vencer, porque também queremos ser livres e responsáveis no cumprimento das orientações.

O Catecismo da Igreja Católica, quando fala do mistério da vontade de Deus e de Jesus Cristo, pela graça do Espírito Santo diz: “Livremente, Deus quer comunicar a glória da sua vida bem-aventurada. Tal é o “mistério da sua vontade” (Ef 1,9) que Ele concebeu antes da criação do mundo em seu Filho muito amado, uma vez que nos “destinou de antemão a que nos tornássemos seus filhos adotivos por Jesus Cristo (Ef 1, 4-5), quer dizer, a sermos “conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8,15). Este desígnio é uma “graça que nos foi dada (…) desde toda a eternidade” (2Tm 1,9-10) a qual procede imediatamente do amor trinitário” (CIC 111).

Por isso Deus deu-se a conhecer revelou-se a toda a criatura humana. “No princípio Deus criou o Céu e a Terra” (Gn 1,1). Através da Sua Palavra criadora falou… “Deus disse: “faça-se…” (cf. Gn 1,3-31), Deus revelou-se, deu-se a conhecer, falou à humanidade, criou do nada todas as coisas: a terra, os astros, as plantas, as águas, os peixes, os animais e por fim criou o homem à sua imagem e semelhança e falou-lhe dando-lhe a sua palavra reveladora da graça e da salvação.

Santificou o sétimo dia e descansou, contemplando a obra que tinha criado. O Livro do Génese relata as palavras de Deus dizendo: “Deus viu que era tudo muito bom!” (Gn 1,31). Deu ao homem e à mulher o dom de administrarem a sua obra e de cooperarem no crescimento e desenvolvimento da obra da criação, mas este projeto falhou…, interrompeu-se e segundo o desígnio de Deus, devido ao pecado da desobediência dos nossos pais, Deus prometeu enviar um Salvador. Mas Deus não abandonou o seu povo. Enviou Noé e a sua família que foram fiéis ao Senhor. Chamou Abraão para sair da sua terra e fazer dele o pai de um grande povo, o pai da promessa feita a Adão e Eva. O nosso pai na fé, Abraão, confiou em Deus no meio da provação, da tempestade, do impossível. Aquele que acredita que “Deus providenciará” em favor do povo que Ele escolheu. Escolheu, Jacob, Moisés, Arão, Saúl, David, Salomão, Isaías, Jeremias, João Batista, os santos patriarcas, os lideres condutores do povo, os juízes, os reis,  os profetas e por último, na plenitude dos tempos enviou o Seu próprio Filho, Jesus Cristo, a Palavra que se fez carne no seio de Maria e se fez homem, em tudo igual a nós exceto no pecado.

Veio para nos dar a vida em abundância e para nos salvar, morrendo na cruz, ressuscitou, elevou-se aos céus, onde está sentado à direita do Pai e prometeu estar sempre connosco até ao fim dos tempos.

 

  1. O Domingo da Palavra de Deus, que “o Papa Francisco quis que fosse celebrado todos os anos no Domingo III do Tempo Comum, recorda a todos, Pastores e fiéis, a importância e o valor da Sagrada Escritura para a vida cristã, bem como a relação entre Palavra de Deus e liturgia: “como cristãos, somos um só povo que caminha na história, fortalecido pela presença no meio de nós do Senhor que nos fala e alimenta. O dia dedicado à Bíblia pretende ser, não “uma vez no ano”, mas uma vez por todo o ano, porque temos urgente necessidade de nos tornar familiares e íntimos da Sagrada Escritura e do Ressuscitado, que não cessa de partir a Palavra e o Pão na comunidade dos crentes. Para tal, precisamos de entrar em confidência assídua com a Sagrada Escritura; caso contrário, o coração fica frio e os olhos permanecem fechados, atingidos, como somos, por inumeráveis formas de cegueira” (Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos).

Este Domingo constitui uma boa ocasião para acolhermos com amor a Palavra de Deus na nossa vida. Jesus fez-se Palavra viva e eficaz, uma espada de dois gumes, que nos penetra até às medulas. Ele próprio apresentou-se como a verdadeira Palavra de Vida Eterna, “as minhas palavras são espírito e vida”. Senhor ensina-me sempre a caminhar à luz da vossa Palavra todos os dias da minha vida.

Proclamando as palavras do profeta Isaías, Jesus disse: “O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque me ungiu e me enviou a anunciar a Boa Nova aos pobres, a libertação aos cativos, a curar os doentes e anunciar a Boa Nova da Salvação, um Ano de graça do Senhor” (cf.lc 4,18-21).

A liturgia da Palavra deste domingo III do Tempo Comum no Evangelho de São Marcos, fala-nos da conversão e do arrependimento. “Arrependei-vos e acreditai”, são duas faces da mesma moeda. O apelo à conversão é uma constante na Palavra de Deus. “Cumpriu-se o tempo e está próximo o Reino de Deus: Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (cf. Mc 1,14-20). Jesus chama os primeiros discípulos, Simão, André, Tiago e João e diz-lhes: “Vinde comigo e eu farei de vós pescadores de homens”. Sem conversão, não há verdadeira vocação (Jonas enviado a pregar a penitência e a conversão aos habitantes de Nínive, ajuda-os a fazer penitência e estes arrependeram-se dos seus pecados diante da pregação de Jonas). A conversão e a vocação são faces da mesma moeda. Ambas fazem apelo à mudança de coração, para seguirmos Jesus como os primeiros discípulos. Ensina-me Senhor os vossos caminhos, porque “o tempo é breve”, diz São Paulo na segunda leitura.

 

  1. A necessidade de escutar as palavras de Jesus, que são a Boa Nova da Salvação, a Palavra da Vida Eterna, “mais doces que o mel”, o Evangelho que devemos ler, escutar, meditar e anunciar, porque as Palavras do Senhor são “espírito e vida”, palavras que iluminam e alegram a nossa vida. Como Maria, escutamos a Palavra de Deus, queremos guardá-la no coração e depois vivê-la e pô-la em prática. Por isso é que Maria é por excelência a Mulher da Palavra, que a escuta e a põe em prática com a sua atitude de fé, de escuta, de meditação, de serviço e de cuidado atento ajudando a pessoa humana e a humanidade a encontrar na sua vida a pessoa de Jesus. A Palavra Encarnada, centro da Revelação Divina ajuda-nos a conhecer, interpretar e discernir, o verdadeiro sentido da nossa vida como cristãos.

Por isso, devemos conhecer, estudar e pôr em prática a Palavra de Deus, que nos foi revelada e transmitida na Sagrada Escritura, contida na Bíblia desde o primeiro livro do Génesis, onde Deus criou e disse: “Faça-se” passando por todos os livros, especialmente os Evangelhos, até ao último livro da Bíblia o Apocalipse que termina com as seguintes palavras: “Estas palavras são fiéis e verdadeiras” (…) “Feliz aquele que observa as palavras da profecia deste livro”. “Eu, João, fui ouvinte e testemunha ocular destas coisas” (…). “Eu sou servo como tu, como os teus irmãos, os profetas, e como aqueles que observam as palavras deste livro. É a Deus que deves adorar. O Anjo disse-me ainda: “Não guardes em segredo as palavras deste livro, pois o tempo está próximo”. (…) “Eu sou o Alfa e o Ómega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (…). “Eu sou o Rebento da família de David, a brilhante estrela da manhã. O Espírito e a Esposa dizem: “Vem!” Aquele que ouve isto diga também: “Vem!” Quem estiver com sede, venha! E quem quiser, receba gratuitamente a água da vida”. A quem escuta as palavras da profecia deste livro, eu declaro… (…), diz São João para acolhermos com fé a Palavra de Deus e não lhe devemos tirar nada nem acrescentar, mas anunciar o conteúdo da Revelação da Palavra de modo intacto. A Palavra de Deus é o próprio Jesus vivo que se dá e comunica a cada um de nós.

Termina assim o livro do Apocalipse, dizendo: “Aquele que atesta estas coisas diz: “Sim! Venho muito em breve”. Ámen! Vem, Senhor Jesus! A graça do Senhor Jesus esteja com todos. Ámen! “(cf. Ap 22,6-21).

  1. O livro da Sagrada Escritura, a Bíblia é uma biblioteca, divide-se em duas estantes: o Antigo Testamento e Novo Testamento. Este é um livro de verdades absolutas, de verdades para todas as gerações. É o livro da Verdade. (cf. Introdução à Bíblia Sagrada, Edição Pastoral da Paulus).

A Igreja na sua missão de anunciar ao mundo a boa nova da salvação, a “Alegria do Evangelho”, deve desenvolver neste tempo de pandemia o anúncio da Palavra de Deus através de muitas formas, para que a sua missão de evangelizar, promover  a nova evangelização, a catequese, a formação, a promoção de cursos bíblicos, de jornadas bíblicas, de dias da Palavra de Deus, de encontros bíblicos, de constituição de grupos de estudo da Bíblia, aconteça através do estudo, da oração e do conhecimento da Bíblia com a promoção da Lectio Divina. Este é um desafio pastoral a nível pessoal, paroquial e diocesano. Conhecermos mais a Palavra de Deus, para sermos verdadeiros cristãos batizados, anunciadores do Evangelho com zelo e com cuidado pastoral, tornando-nos verdadeiros discípulos missionários, formados na Escola de Jesus e da Igreja.

Que não haja nenhuma comunidade na Diocese de Viseu que não tenha o seu Grupo Bíblico e a sua Equipa formada por famílias boas, para fazermos crescer com ajuda de Jesus, Maria e José a verdadeira “Igreja Doméstica”, que escuta a Palavra de Deus, a ensina aos seus filhos e a põe em prática. Dando cumprimento às palavras de Jesus, que estão a iluminar a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos: “Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos” (cf. Jo 15,5-9).

A Palavra de Deus convida-nos e desafia-nos a viver na comunhão e na unidade com todos os cristãos. Impele-nos a construir pontes de diálogo, a destruir muros de divisão e de rotura da unidade e a fomentar a comunhão na Igreja.

A Bíblia é formada pelos Livros do Antigo Testamento, que são 42, os do Novo Testamento são 27. O total desta biblioteca é composta por 69 livros inspirados pelo Espírito Santo e escritos pelos hagiógrafos, evangelistas e outros autores sagrados.

Recorda-nos o Concílio Vaticano II, na “Dei Verbum”, que na Palavra de Deus, Ele vem ao nosso encontro e “fala a cada um de nós, como a um amigo” (cf. DV 2).

O mesmo documento afirma ainda: “É tão grande a força e a virtude da palavra de Deus que ela se torna o apoio vigoroso da Igreja, solidez da fé, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual” (DV 21).

 

  1. A Sagrada Escritura é o alimento da fé. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para a toda a boa obra” (2Tim 3,16-17).

Confiemos a Maria, a Mulher da Palavra, a Senhora do Sim, do serviço e do cuidado a todos os cristãos, aos pastores, aos consagrados, aos leigos, às famílias, aos catequistas, aos doentes, aos que estão nos lares ou em casa infetados. Os doentes internados nos hospitais, nos cuidados intensivos, todas as vítimas do Covid-19. Pedimos pelos médicos, enfermeiros e outros cuidadores destes doentes.

Peçamos a Nossa Senhora e a São José pelas crianças, adolescentes, jovens, pais, professores e catequistas. Por todos os que vivem em dificuldades, os vulneráveis e os que estão na solidão. Que com a força da oração e da Palavra de Deus, sejamos solidários e próximos de todos os nossos irmãos.

Só na Palavra de Deus encontramos a vida, a luz, a força, o conforto e a coragem para vivermos neste tempo de pandemia, vencendo as dificuldades que encontramos no nosso caminho de cristãos.

Que Jesus a Palavra da Salvação e Maria, a Mulher fiel à Palavra de Deus, nos ajudem a sermos cristãos batizados num caminho de verdadeira unidade, fidelidade e santidade. Ámen!

 

Sé de Viseu, 24 de fevereiro de 2021
† António Luciano, Bispo de Viseu
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