Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Lembro aqueles que nos precederam na fé e que foram vítimas desta pandemia, ou por outra causa de morte. Celebramos o primeiro aniversário da morte do Senhor D. Ilídio Pinto Leandro, que foi Bispo desta Diocese, por quem ofereço hoje esta Eucaristia. Agradeço a Deus o dom da sua vida, o seu ministério e o bem que ele fez à nossa Diocese como seu Pastor. Vamos também rezar pela sua família para que neste tempo de luto e de saudade, Deus os conforte. Em cada dia e em cada domingo ao celebrar a Eucaristia ofereço-a por cada um de vós.

As intempéries, as tempestades, que acontecem em diversos pontos do mundo, dão-nos conta de que a Oikos, a Casa Comum de todos, está em perigo emergente e a precisar de ser cuidada.

As leituras deste primeiro Domingo da Quaresma são uma belíssima ajuda, para nos confirmarem, que Deus nos ama sempre, conta sempre connosco, está sempre ao nosso lado e por isso não o podemos rejeitar.

São Marcos inicia o Evangelho dizendo: “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho. Cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,1). Jesus foi impelido pelo Espírito para o deserto, onde foi tentado pelo demónio, como nos diz São João: ”Quem comete pecado pertence ao Diabo, porque o Diabo é pecador desde o princípio” (1 Jo 3,8 ). O diabo é o pai da mentira.

Este é o tempo favorável da salvação. Agora é o tempo da conversão, Deus chama-nos a todos, não exclui ninguém, o dom da salvação é para todos. Chama-nos à vida nova, não tenhamos medo de fazer o caminho Quaresmal, “vivamos um tempo santo”.

A liturgia afirma que a observância quaresmal foi consagrada pela experiência dos quarenta dias, que Jesus passou no deserto, fazendo memória também dos quarenta anos, que o Povo de Israel levou a fazer a travessia do deserto. Depois do relato do batismo de Jesus no Jordão, das tentações no deserto e da prisão de João Batista, Jesus anuncia o Reino de Deus e convida nos à conversão. Tudo isto mostra as dificuldades e os obstáculos que Jesus vai experimentando na sua vida, mas que vai também superando porque Ele é o filho Unigénito de Deus. Este será também o caminho dos cristãos, que pela graça do Sacramento do Batismo somos lavados pela água nova. Pelo Batismo tornámo-nos filhos no Filho, filhos de Deus pela graça do Espírito Santo, para adquirimos a força que nos leva a lutar contra Satanás.

O relato das tentações de Jesus, no início da Quaresma assumem um carácter paradigmático para os discípulos de Cristo. Jesus vence Satanás e abre-nos o caminho e a possibilidade de cada um de nós vencer.

Em poucos traços e com linguagem fortemente simbólica, São Marcos, apresenta-nos o que será a vida inteira de Jesus e o número quarenta representa totalidade, embora o tempo pascal, seja de cinquenta dias. O deserto é ambiente hostil, dificultoso, onde Jesus é tentado por Satanás, mas é também o lugar que Jesus procura para rezar e ocultar-Se da multidão.

Jesus superando as tentações do deserto proclama que: “Está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”. A Quaresma como já referi é este “tempo favorável da salvação”, para acolher e acreditar no Evangelho. O primeiro Domingo da Quaresma lembra-nos o início de um caminho que é de toda a nossa vida e que Jesus foi tentado por Satanás, para nos chamar atenção para esta dificuldade do dia a dia. O relato das tentações em Marcos é muito breve, não tão explícito como nos restantes Sinópticos que falam das três tentações:

1a tentação. “Transforma estas pedras em pão”.

2a tentação. “Deita-te daí abaixo e não te acontecerá nenhum mal, porque os anjos de Deus te receberão em suas mãos”.

3a tentação. “No alto do monte, Satanás diz a Jesus, se prostrado de joelhos me adorares te darei todos estes reinos que vês”.

São Marcos como que não precisava de falar destas tentações para nos dizer que elas são de sempre:

O poder: sabemos que o poder, quando não é serviço corrompe e faz-nos indiferentes aos humildes.

O ter: Faz-nos avarentos, invejosos e ciumentos, mata o coração nobre e generoso.

O prazer: Destrói a integridade do ser, leva-nos a caminhos de imoralidade, de falta de pureza interior e de vivência da modéstia, por isso nos leva à falta da virtude da temperança.

Quais são as grandes tentações dos nossos dias, que afetam hoje cada um de nós? Neste tempo de pandemia quais são as nossas tentações? Todos os dias temos que rejeitar propostas que são más, negativas e pecaminosas. Devemos em cada dia abrir-nos à graça santificante e dizer não ao pecado.

Para acreditar no Evangelho é preciso ter fé no Deus único e verdadeiro, o Senhor da Aliança. Este Deus que chama Noé e os seus filhos para os livrar do dilúvio. “Estabelecerei a minha Aliança convosco”. “Sempre que vir o arco recordarei a minha aliança” e, ainda nós hoje quando vemos o arco íris nos lembramos destas páginas da Escritura. “E nunca mais as águas formaram um dilúvio para destruírem todas as criaturas” (cf. Gn 9,8- 15).

Na segunda leitura São Pedro, diz-nos, “Caríssimos: Cristo morreu uma só vez pelos pecados – o Justo pelos injustos – para vos conduzir a Deus. Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito”. A água de que nos fala a primeira leitura da qual foi salvo Noé e a sua família, “esta água é figura do Batismo”, Sacramento que nos lavou de toda a imundície, que nos purificou do pecado. Lembremos uma frase tantas vezes repetida pelo Senhor D. Ilídio: “Vivamos a nossa vida, seguindo os Caminhos do Espírito”. A água do dilúvio é agora a água que na Vigília Pascal se torna fonte de vida nova e faz-nos filhos de Deus.

A Quaresma é o tempo propício para acolher o Reino de Deus e a Boa Nova de Jesus, pois “nem só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus”.

Durante a Quaresma vamos viver os desafios do caminho de conversão, de jejum, de oração, de penitência e de esmola. Os grandes pecados dos nossos dias destroem a pessoa humana, corrompem a sociedade e mancham a Igreja.

São João Paulo II, na Exortação Apostólica Reconciliação e Penitência falava “da perda do sentido de Deus” e “da perda do sentido de pecado” afirmando, que “a misericórdia de Deus é maior do que qualquer pecado”.

Tem pena de nós, Senhor, porque somos pecadores!

Criai em nós, Senhor, um coração novo e um espírito novo!

Diante das tentações, conduzi-nos ao deserto para nos purificarmos com o Espírito e nos tornarmos fortes para dizermos não a todo e qualquer pecado.

Para terminar cito a seguinte expressão: “Deus não aponta o dedo, mas abre o coração a cada um de nós e abraça-nos”.

 

Viseu, 21 de fevereiro de 2017

 

† António Luciano dos Santos Costa,
Bispo de Viseu
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